Benedita: Ao priorizar a mulher nas políticas sociais, Lula e Dilma impulsionaram o nosso protagonismo
O 8 de Março é maior do que se imagina
por Benedita da Silva*, exclusivo para o Viomundo
O feminismo tem suas raízes na luta contra submissão patriarcal da mulher e também contra a discriminação racial e salarial promovidas pelo capitalismo.
Esse mesmo capitalismo que varreu no século XIX a herança feudal conservou, porém, a tradicional opressão patriarcal da mulher para mantê-la submissa ao homem.
Nos países escravistas de então, como os Estados Unidos e o Brasil, entre outros, ao lado da mulher branca oprimida pelo pai ou marido, havia a mulher negra escrava que executava trabalho igual ao do escravo e, dessa forma cruel e desumana, mostrando a igualdade de gêneros.
O feminismo no Brasil também cresceu na luta das mulheres contra a violência do machismo e por seus direitos ao voto, ao corpo, à representação política e no mercado de trabalho.
Mas ao lado desse feminismo branco se desenvolveu com força crescente o feminismo negro, colocando a tripla discriminação que sofre a mulher negra na sociedade: de raça, de gênero e social.
São essas três formas de opressão que conformam a condição de trabalho da categoria mais explorada da sociedade, a das trabalhadoras domésticas, com mais de 60% de mulheres negras e forte herança escravista.
“Como pode a empregada se aposentar antes da patroa”, é a frase que resume tudo isso dita recentemente por um defensor dessa criminosa Reforma da Previdência.
A discriminação da mulher na política em nosso país salta aos olhos, apesar das toscas justificativas do machismo dominante.
Costumamos mostrar o enorme contraste entre a maioria da população, que somos, com os 10% ou 15% de representação parlamentar, que temos.
Mas se ficarmos nessa constatação e não construirmos políticas e muita luta para mudar a mentalidade da maioria das mulheres, que aceitam a supremacia masculina, o quadro se manterá e continuaremos a ser uma minoria consciente, não obstante sermos a maioria social.
Sobre essa condição passiva da maioria das mulheres no capitalismo a escritora feminista Sue Monk Kidd relata em seu livro “A Invenção das Asas”, um interessante diálogo ocorrido no século XIX entre a jovem senhora Sarah Grimké, que se tornaria tempos depois uma grande abolicionista, e a sua também jovem escrava.
Disse esta para Sarah: “Eu sou presa pelo corpo mas você é presa pela mente”.
O protagonismo político das mulheres tem crescido fortemente nos últimos anos no Brasil como resposta ao golpe do impeachment e na campanha eleitoral contra o misógino fascista Bolsonaro.
É um feminismo plural, de mulheres brancas, negras e indígenas, no interior do qual amadurece o entendimento de se disputar a hegemonia dos direitos da mulher na sociedade. De que não se trata de uma luta contra os homens, mas contra o machismo que discrimina, agride e mata.
É o entendimento de que se a libertação da mulher depende em primeiro lugar de nossa força para lutar por seus próprios direitos, depende também de nossa capacidade política para ganhar o apoio da maioria dos homens para essa legítima e justa causa.
De certo modo o legado dos governos Lula e Dilma expressa esse envolvimento de mulheres e homens conscientes pela ampliação dos direitos das mulheres.
Ao priorizar a mulher em todas as suas políticas sociais, destacadamente o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e a política de cotas raciais, Lula e Dilma fortaleceram a participação das mulheres na sociedade, no trabalho e na universidade e como consequência, impulsionaram a consciência e o protagonismo que vemos hoje na luta contra o racismo, o feminicídio e a reforma da Previdência do fascista Bolsonaro, em que as mulheres são as mais prejudicadas.
O 8 de Março surgiu historicamente da luta das mulheres por seus direitos e se alimenta dessa luta, por isso é maior do que se imagina.
*Benedita da Silva é deputada federal (PT-RJ)
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