Israel, o perigo e a importância dos livros didáticos
Professora Carlota Boto, da USP, lembra na sua apresentação de livro sobre ideologia e propaganda na educação, de Nurit Peled-Elhanan: ''À escola cabe sim um partido: o partido da justiça''
10/04/2019 10:02
Créditos da foto: (Divulgação)
Chega às nossas livrarias, em momento mais do que oportuno, o livro Ideologia e propaganda na educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses, (Ed.Boitempo) de autoria da estudiosa Nurit Peled-Elhanan, professora de linguagem da educação na Faculdade de Educação da Universidade Judaica de Jerusalém. Na sua importante obra ela investiga os recursos visuais e verbais utilizados em livros didáticos que circulam em escolas e universidades de Israel nos quais é representada a população palestina.
O livro aborda a relação entre ideologia e educação, um dos temas mais discutidos, hoje, no universo da educação no Brasil, e utiliza o arcabouço teórico e metodológico da análise crítica do discurso e da análise multimodal. São examinadas as maneiras como imagens, mapas e layouts são apresentados assim também como o uso da linguagem aplicada ao assunto nos livros de história, geografia e educação moral e cívica.
O resultado é uma detalhada exposição dos mecanismos pelos quais esses materiais escolares moldam um imaginário de marginalização dos palestinos tendo como alvo os estudantes israelenses.
Segundo a autora, o discurso aparentemente científico e neutro empregado no material usado em sala de aula é, na realidade, carregado de signos de violência, desprezo e intolerância contra os palestinos.
Nurit Peled-Elhanan é filha de um general do exército de Israel que, após participar da Guerra dos Seis Dias, em 1967, tornou-se um importante acadêmico e militante pacifista. Ela tornou pública sua contundente crítica à ocupação da Faixa de Gaza por Israel depois de perder a filha de 13 anos num atentado suicida palestino, em 1997.
Para a autora, os livros didáticos têm um papel crucial na transformação dos bem-educados rapazes e moças israelenses em combatentes prontos a eliminar o inimigo.
A edição brasileira conta com uma apresentação de Carlota Boto, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, e um prefácio da própria autora no qual ela reforça a importância dos livros didáticos para a construção de uma identidade nacional israelense que oculta a população palestina.
"O livro de Nurit Peled-Elhanan é bem construído e bem escrito", diz Carlota Boto. "Trata de uma temática absolutamente relevante para um Brasil que hoje discute temas como os da Escola sem Partido. Na atualidade do debate pedagógico do Brasil, a condição política da escolarização tem sido amplamente discutida".
"São demarcados os aspectos doutrinários possivelmente inscritos no dia a dia da escolarização. E este livro faz ver o contrário: demonstra claramente que são os setores conservadores, postos à direita da História, que procuram tornar ideológico aquilo que, no limite, é histórico. À escola cabe sim um partido: o partido da justiça. Alguém poderia dizer que esse conflito entre judeus e palestinos está muito distante de nós. Contudo, creio que vale aqui o antigo dístico: nada do que é humano pode nos ser estranho. Convido, finalmente, à leitura".
A professora Peled-Elhan recebeu, em 2001, o Prêmio Sakharov de Direitos Humanos e Liberdade de Pensamento, concedido pelo Parlamento Europeu. Ela escreve sobre educação israelense e leciona e escreve regularmente na Europa e nos EUA sobre a ocupação israelense e seus efeitos tanto nos israelenses quanto nos palestinos. É membro do círculo Palestinian and Israeli Bereaved Parents for Peace - pais palestinos e israelenses em luto pela paz.
*Mais informações no site da Boitempo
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