ALEX SOLNIK
Jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. Autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
“Tragam-me a cabeça de Alan Garcia”
Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia - Segundo relato da polícia peruana, o ex-presidente Alan Garcia matou-se com um tiro na cabeça hoje de manhã, em sua casa, logo depois de receber voz de prisão preventiva por dez dias. Ele não é o primeiro ex-presidente condenado a cumprir pena de prisão antes do julgamento pela Justiça do Peru.
Alejandro Toledo estava em viagem ao exterior, em fevereiro de 2017, quando um juiz determinou sua prisão preventiva por 18 meses. Acusação: suspeita de ter recebido US$20 milhões da Odebrecht. Toledo não voltou ao país até hoje. Está exilado nos Estados Unidos.
Ollanta Humala e sua mulher ficaram presos durante nove meses, entre julho de 2017 e abril de 2018 por suspeita de lavagem de US$3 milhões da Odebrecht doados à sua campanha de 2011. Saíram graças a um habeas corpus concedido pelo Supremo peruano.
O ex-presidente Pedro Paulo Kuciznky está em prisão preventiva desde 10 de abril último, acusado de receber propina da Odebrecht na construção da Estrada do Pacífico.
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Os policiais que a mando da Lava Jato peruana foram à casa de Alan Garcia contaram que, ao ser informado de que seria preso preventivamente por dez dias ele pediu para ir ao seu quarto, no piso superior.
A seguir, ouviram o disparo. E o encontraram sentado, a cabeça sangrando. Estava ainda com vida. Levaram-no ao hospital, onde, evidentemente, não sobreviveu ao tiro na têmpora. Direita ou esquerda? Ainda não sabemos.
Nas próximas horas e nos próximos dias as investigações e perícias vão esclarecer as circunstâncias.
Levantam-se dúvidas acerca do procedimento policial, dado o ineditismo de permitir que o acusado se ausentasse do recinto em que recebeu voz de prisão. Ele estava, a partir daquele momento, sob custódia do estado.
É o primeiro caso de suicídio de um ex-presidente peruano. Apontam traços de depressão em seu quadro psicológico. Ele já tentara evitar a prisão, mas o Uruguai vetou seu asilo.
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O episódio expõe o modelo jurídico-policial punitivista implantado pela Lava Jato no Brasil e exportado para a América Latina. Prender antes de julgar tem sido o padrão ao qual Alan Garcia tentou resistir da maneira e com os meios que tinha à mão.
"Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia" , título de um grande filme do diretor Sam Peckinpah de 1974, parece traduzir o pensamento da Lava Jato peruana em 2019:
"Tragam-me a cabeça de Alan Garcia".
E ele mesmo entregou.
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