segunda-feira, 15 de julho de 2019

POLÍTICA Dallagnol quis lucrar com exposição da Lava Jato, segundo mensagens vazadas



Dallagnol quis lucrar com exposição da Lava Jato, segundo mensagens vazadas

Procurador pretendia criar empresa de palestras para receber altos cachês com eventos, revelam The Intercept e Folha de S.Paulo

Deltan Dallagnol, procurador da República e coordenador da Operação Lava Jato, quis aproveitar a fama gerada pela força-tarefa para lucrar. Segundo mensagens publicadas neste domingo 14 pelo The Intercept Brasil e pela Folha de S.Paulo, ele pretendia realizar eventos e palestras com cachês polpudos na rabeira da exposição das investigações. 
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E mais: Deltan e o colega procurador da força-tarefa Roberson Pozzobon pretendiam criar uma empresa na qual não apareceriam oficialmente como sócios. A justificativa seria “evitar questionamentos legais e críticas”. 
The Intercept Folha revelam que o procurador discutiu essa possibilidade com a esposa em dezembro de 2018. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu em um chat no Telegram sobre o tema.
“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, comentou Deltan em 3 de março no grupo com Pozzobon. 
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Em conversas em 14 de fevereiro de 2019, Deltan sugeriu abrir a empresa no nome das esposas dos dois procuradores. “Só vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que podem ser minhas e do Robito [Pozzobon] e as tratativas gerenciais que precisam ser de Vcs duas, por questão legal.”
O coordenador da Lava Jato mencionou que a estratégia poderia levantar suspeitas. “É bem possível que um dia ela [Fernanda Cunha, da Star Palestras] seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por gerenciarmos empresa”, disse.
Pozzobon respondeu: “Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que veeeenham”.
De acordo com a Folha e o Intercept, os procuradores não chegaram a formalizar a empresa. Por lei, ambos não poderiam gerenciar companhias, mas estariam livres para serem sócios ou acionistas. 
FOTO: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Críticas sobre palestras 
As mensagens publicadas mostram que Deltan não se importava com o incômodo que suas inúmeras palestras e cursos estravam gerando em colegas de Procuradoria em Curitiba. 
“Essas viagens são o que compensa a perda financeira do caso, pq fora eu fazia itinerancias [trabalho extraordinário em que, ao assumir tarefas de outro procurador, é possível engordar o contracheque] e agora faria substituições”, disse em fevereiro de 2015, pouco antes do primeiro aniversário da operação. 
“Enfim, acho bem justo e se reclamar quero discutir isso porque acho errado reclamar disso. Acho que o crescimento é via de mão dupla. Não estamos em 100 metros livres. Esse caso já virou maratona. Devemos ter bom senso e respeitar o bom senso alheio.”
O procurador justifica que as palestras visavam “promover a cidadania” e que parte dos recursos seria destinada “a entidades filantrópicas ou de combate à corrupção”.
Por outro lado, as mensagens sugerem que Deltan pode ter ganhando mais com palestras do que com seu salário em 2018. Até setembro daquele ano, o procurador afirmou ter recebido 232 mil reais líquidos com essa atividade. 
“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse. 
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A remuneração líquida do procurador em 2018, de acordo com o Portal da Transparência, é de cerca de 300 mil reais, sem incluir indenizações.
Em resposta aos questionamentos do Intercept e da Folha, a assessoria de imprensa da Procuradoria no Paraná disse que “palestras remuneradas são prática comum no meio jurídico por parte de autoridades públicas e em outras profissões”. Sobre os eventos de Deltan, afirmou que a maior parte das palestras “é gratuita e, quando são remuneradas, são declaradas em imposto de renda e ele doa parte dos valores para fins beneficentes”.

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