quarta-feira, 24 de julho de 2019

Xadrez das trombadas entre Bolsonaro e o Exército, por Luis Nassif


Xadrez das trombadas entre Bolsonaro e o Exército, por Luis Nassif

O destino do governo Bolsonaro depende de duas vertentes: o quadro econômico e as relações com os militares.
No front econômico, a situação é cada vez mais complexa. No front militar, há sinais de um distanciamento cada vez maior do Exército em relação ao governo.
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Vamos ao nosso Xadrez montado com duas fontes experientes na análise dos militares.

Peça 1 – Bolsonaro e a cúpula militar

As relações de Bolsonaro com a cúpula do Exército são confusas. Bolsonaro não representa a cúpula militar. Se serve dela e, ao mesmo tempo, a despreza, pois sofreu humilhação pública com sua expulsão, episódio raro na vida de um oficial.
Na cabeça de Bolsonaro, ele precisa do aval militar para enfrentar forças políticas antagônicas, mas, ao mesmo tempo, não quer ficar refém. Observadores lembram uma semelhança com Hitler em relação ao Wehrmacht, o exército alemão.
Bolsonaro tem o apoio de uma minoria, os herdeiros da linha dura, como Alberto Heleno, que foi do gabinete de Silvio Frota. Mas é desprezado pela ala moderna e democrática do Exército, representada pelo general Santos Cruz, que considera Bolsonaro um perigo nacional. Esse pensamento é majoritário no alto oficialato e na maioria dos 16 oficiais do Alto Comando.

Peça 2 – o desconforto do Exército

A subserviência de Bolsonaro aos Estados Unidos tem produzido desconforto no Alto Comando. Há críticas internas à maneira como foi conduzido o acordo que entregou a base de Alcântara ao controle americano.
Há dúvidas também sobre a maneira como Bolsonaro se comportará ante as pressões do Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, de provocar a interrupção do programa nuclear brasileiro, enfiando goela abaixo um acordo de não proliferação nuclear com a Argentina. No momento, Pompeo está em Buenos Aires pressionando Macris.
A visão da ala racional do Exército é sobre a necessidade de preservas espaços democráticos e buscar pontos de consenso com a oposição. Essa postura ficou clara no episódio em que Bolsonaro chamou o general da reserva Eduardo Rocha Paiva de “melancia”. (verde por fora, vermelho por dentro) devido às críticas que sofreu pelos ataques ao Nordeste. Direitista ideológico, Rocha Paiva taxou o comportamento de Bolsonaro de “antipatriótico” e “incoerente”.
Imediatamente o ataque de Bolsonaro provocou a solidariedade do general Sérgio Etchgoyen, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional no governo Temer. Conhecido como linha dura, Etchgoyen criticou a política de confrontos sucessivos e levantou a necessidade de se buscar um Pacto de Moncloa – como referência ao pacto na Espanha, após a queda do regime franquista. Há uma visão interna sobre a necessidade de preservar espaços para a oposição, como condição para a pacificação e para começar a se pensar em um projeto nacional.

Peça 3 –o papel do general Pujol

Tem-se no Comando do Exército, agora, o general Edson Pujol que, ao contrário de seu sucessor, general Villas Boas, mantém estrito profissionalismo, evitando qualquer interferência política e de protagonismo nas redes sociais. E, ao mesmo tempo, tem-se revelado um estrategista objetivo e determinado.
Seu primeiro movimento consistiu em dar uma “carona” no general Otávio Rêgo Barros, porta-voz de Bolsonaro, que não conseguiu a promoção e foi para a reserva.
Pujol colocou como comandante do Sudeste o general Marcos Antônio Amaro dos Santos, que foi Chefe da Casa Militar de Dilma e é considerado da direita civilizada.
Outro general bolsonarista da ativa, Luiz Eduardo Ramos, foi para a articulação política. Apesar de afável, a intenção de Bolsonaro foi intimidar o Congresso. Ramos continua na ativa, mas não participa mais do Alto Comando. Enquanto estiver na Secretaria de Governo será apenas um “agregado” de Bolsonaro, uma espécie de aposentadoria antecipada, antes de ir para a reforma.

Peça 4 – os conflitos próximos

Internamente, aumenta a preocupação com a rapidez com que o governo Bolsonaro está promovendo o desmonte do Estado, inclusive em setores que mexem com a segurança nacional, como o de energia.
Outro desconforto tem sido a atuação dos setores econômicos de desmonte do Estado brasileiro, com a política econômica e com o desmonte da política social. Do ponto de vista da segurança nacional, significa expor o país a problemas sociais de monta em futuro breve.
Considera-se que Paulo Guedes está em uma corrida contra o tempo, antes que termine o governo Trump.
Com a operação de ataque a Glenn Greewnald, Bolsonaro deu a partida para a radicalização final de seu governo. Sem conseguir entregar nada no front econômico, com o desalento aumentando, apostará mais uma vez na radicalização, inclusive como maneira de não perder o controle sobre a ultradireita da opinião pública.
É possível que esse açodamento provoque reações mais incisivas do Alto Comando, especialmente do Exército.

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