segunda-feira, 5 de agosto de 2019

As baratas

As baratas

Jair Bolsonaro diz que “vai” mandar ao Congresso um projeto de lei com o objetivo de dar “retaguarda jurídica” para que os policiais poderem matar ou ferir sem que isso vire um processo. Diz ele que, com isso, a violência cairá “assustadoramente”. De fato, assustadoramente:
– Os caras vão morrer na rua igual barata, pô. E tem que ser assim.
Fica-se sabendo, portanto, que o presidente decidiu ir além do que já previa o tal “pacote anticrime” de Sergio Moro, no qual se previa que um juiz poderia reduzir a pena ou deixar de aplicá-la se o crime é cometido por “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”, em caso de policiais em serviço ou não.
Mas o que será mais “retaguarda jurídica”? Simplesmente registrar a morte e acolher a versão policial de que ela foi “de bandido”?
Hoje, na região metropolitana do Rio de Janeiro, quase 40% das mortes acontecem em “ação policial”. Não se está contando, claro, os cadáveres encontrados ou descobertos em cemitérios clandestinos como o achado em Itaboraí e Queimados, na periferia, nos últimos dias.
Foram, de janeiro a maio, 731 seres humanos mortos pela polícia. Em número, convenhamos, de baratas.
Baratas, naturalmente, pretas e pobres, pois nas áreas dos batalhões que abrangem muitas favelas o número vai a 60%.
Oficialmente, claro.
A “fórmula” nada tem de novo e é aplicada desde os velhos “esquadrões da morte”. Havia, até, uma “excludente de punibilidade” em Jacarepaguá: um sítio onde se criavam jacarés que, ecologicamente, consumiam as baratas mortas.
Como disse antes no blog, Jair Bolsonaro está pouco ou nada preocupado com a violência urbana e as mortes violentas, do contrário não promoveria o armamento generalizado da população, e só não mais porque o Congresso não lhe permitiu.
O que ele quer explorar é o prazer mórbido de que as baratas pobres e pretas estrebuchem no asfalto, adquirindo a santidade de bandidos bons, porque mortos ou moribundos.
Como certamente o teve ao ver as cabeças cortadas no Pará.

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