quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Termine o ano velho e comece o novo em boa companhia, com Marx e Belluzzo


Arte

Termine o ano velho e comece o novo em boa companhia, com Marx e Belluzzo

 

 
19/12/2019 13:17
 
 
OUÇA AGORA:



Especial Rádio Carta Maior 2019-2020
Termine o ano velho e comece o novo em boa companhia, com Marx e Belluzzo
CLÁSSICOS EM PODCAST apresenta:

'Marx, para entender o nosso tempo e transformá-lo'
Com o professor LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Por Joaquim PalharesSaul Leblon Carlos Tibúrcio
E leia o texto:

''Belluzzo ensina a ler Marx, para entender a tormenta atual'', por Saul Leblon

***



Belluzzo ensina a ler Marx, para entender a tormenta atual
Por Saul Leblon
Vivemos hoje um desconcerto: a ‘escassez na abundância’, conforme a síntese do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que utilizou o paradoxo no título do seu novo livro, lançado há pouco pela editora Contracorrente.

A ocorrência de paradoxos não é uma anomalia ou um distúrbio na ordem capitalista, avisa Belluzzo.

É assim mesmo que o sistema funciona, daí a importância de estuda-lo, para escapar de suas ilusões e compreender as leis fundamentais que o movem e que nos aprisionam nesse labirinto de contradições.

Ainda não se inventou um melhor guia para vencer essa empreitada do que o método desenvolvido por Karl Marx.

Para conhecer o pensamento do autor de O Capital, a Rádio Carta Maior preparou uma Edição Especial de fim de ano da série Clássicos em Podcast.

O professor Belluzzo vai nos conduzir pela obra de Marx nesta terceira edição da série que já teve também Herbert Marcuse --apresentado por Márcio Pochmann, e Hannah Arendt, cuja vida e obra foi comentada pela filósofa Olgária Matos.

Mergulhar na obra de Marx é tarefa urgente.

O moinho satânico que esmaga e confunde a sociedade e a subjetividade em nosso tempo gera crescente ira e revolta.

Mas não basta.

É preciso ir além da indignação para se acercar de um sistema feito de relações sofisticadas que se reproduz transformando-se continuamente.

Hoje sua textura é dominada por monopólios, de um lado e, de outro, por massas assustadoras de capital fictício que se retroalimentam na acumulação da riqueza abstrata –a forma monetária da riqueza predominante em nosso tempo que se concentra cada vez mais, quase como um automatismo, nas mãos de uma classe.

O fosso das privações e das incertezas, por sua vez, corrói impiedosamente o chão da vasta maioria da sociedade.

A desigualdade é senhora destes tempos.

Desde 1980, o 1% mais rico da população mundial abocanhou o dobro da riqueza que coube aos 50% mais pobres: 27% do bolo foi capturado por 75 milhões de endinheirados, destinando-se apenas 13% a 3,7 bilhões de seres humanos, quase a metade da população mundial.

Simultaneamente, e não por acaso, o volume de ativos (aplicações em títulos financeiros) detidos por bilionários e corporações privadas cresceu de forma exponencial.

Ao mesmo tempo e com igual intensidade desabou a capacidade financeira da esfera pública da economia.

Sobretudo depois da crise de 2008, a receita dos Estados foi espremida por recessões, injeções de liquidez e cortes na tributação dos mais ricos –dos quais os governos passaram a tomar emprestado o recurso que os Estados deixaram de taxar.

O corolário dessa dupla engrenagem de concentração aberrante de capital a juro (capital fictício) é o processo de desemancipação social que acomete as famílias assalariadas em todos os quadrantes do planeta.

A alavanca das reformas fiscais obedece a esse impulso original: Estados amesquinhados ou falidos são coagidos a revogar direitos universais, privatizados na forma de serviços pagos.

Capturar a propriedade de monopólios estatais, por sua vez, é o caminho mais cobiçado por quem busca fontes imediatas de lucro sem risco.

Compra-se o que já está pronto, enxuga-se, demite-se e se aplica um tarifaço.

A operação dispensa investimento em nova capacidade, evita percalços da concorrência e se apodera de uma demanda cativa, menos vulnerável ao arrocho e ao desemprego.

O empobrecimento dos já pobres e o esgarçamento estrutural das classes médias escorre desse derretimento das bases do Estado do Bem Estar Social herdado do pós-guerra, cuja reengenharia se faz acompanhar dos efeitos mórbidos sabidos quando a sociedade se entrega ao salve-se quem puder.

Incerteza e medo misturam-se a irrupções de racismo em diferentes latitudes.

Xenofobia e demonização ideológica espocam, acompanhadas de apelos à coesão fascista contra rachaduras insanáveis nos limites do capital.

A deterioração evidenciada nos índices de violência urbana não constrange o grande dinheiro em órbita cada vez mais acelerada e criativa de valorização do capital fictício.

A cada unidade de investimento produtivo realizado pelas grandes corporações norte-americanas desde 2013, por exemplo, seis outras unidades foram destinadas a programas de recompra das próprias ações, valorizando-as autonomamente nos mercados.

O pagamento de bônus aos dirigentes, bem como a distribuição de dividendos aos acionistas, obedeceu à mesma lógica desgarrada dos vínculos com a economia real.

A previsão para 2019, segundo a consultoria Janus Andersen, é de pagamentos de US$ 1,4 trilhão em dividendos globais, 5,4% acima do valor entregue em 2018 –quando o volume de recursos destinados a essa finalidade já havia saltado 48%, depois dos 23% em 2017.

A economia trabalha para os acionistas, não o inverso.

O atalho da acumulação financeira liberou o capitalista da irrevogabilidade do investimento produtivo.

E tornou ainda mais desafiador o controle da circulação de capitais pelo Estado, deixando-o adicionalmente vulnerável à coação feita de ameaças de fugas de capitais e ataques especulativos.

À supremacia da acumulação financeira junta-se agora a automação crescente do ambiente do trabalho.

Todos os fios da urdidura social que se estendiam do mundo do trabalho à realidade política e à subjetividade humana se esgarçam.

Flutua-se num mundo de possibilidades libertadoras nunca antes imaginadas -- e todavia intangíveis à vasta maioria da sociedade.

O arremate desse banquete envidraçado com têmpera blindada é o desespero. Ou a prostração.

Desemprego, pobreza e incerteza espalham-se, assim, como a peste em um mundo de mercados afogados em capital barato, onde US$ 15 trilhões estão empoçados em títulos públicos a taxas de juros negativas, vigentes em toda a Europa.

Não é, repita-se, um corpo anômalo no metabolismo da acumulação do capital.

Trata-se, ao contrário, do auge de uma máquina econômica que deixada aos seus desígnios cumpriu com rigor o protocolo: a financeirização, diz o professor Belluzzo, é o desenvolvimento máximo da acumulação da riqueza abstrata.

Que isso produza um ambiente cada vez mais asfixiante para a vida em sociedade e a natureza do planeta é outro assunto.

Atritos com todas as formas de escrutínio democrático, por exemplo, se multiplicam.

O neoliberalismo como o conhecemos --de fachada democrática, arrisca o sociólogo Boaventura de Sousa em entrevista recente à Carta Maior-- atingiu seu esgotamento.

É um pouco isso que as ruas estão gritando em várias esquinas do mundo e em múltiplas ruas da América Latina nesse momento.

Como fazer com que se cumpram as promessas de liberdade, justiça e autonomia inerentes ao potencial desenvolvido pelo capitalismo que todavia se esquiva de entrega-lo?

Foi justamente a busca dessa resposta que levou Karl Marx a se debruçar na dissecação das leis fundamentais da forma mais avançada de capitalismo da sua época, a economia industrial da sociedade inglesa, para onde se mudou depois de expulso da Alemanha por razões políticas e impossibilitado também de permanecer em Paris.

Doente, privado de conforto decorrente da permanente penúria financeira, Marx ingressava às nove horas da manhã na Biblioteca pública de Londres, onde lia até às sete da noite.

Lia e anotava vorazmente. Nos relatórios e estatísticas da industrialização em marcha, ele vislumbrava as leis de movimento dessa força florescente, pujante e feroz do capitalismo.

A jornada prosseguiria madrugada adentro em casa onde o tapete do escritório estamparia o rastro da inquietação intelectual insone, esparramada pelo ambiente impregnado da fumaça dos charutos.

Desse fascínio obcecado nasceria em 1858 os Grundrisses -- Anotações de uma crítica da economia política, espécie de roteiro daquele que, oito anos depois, viria a ser o seu magistral trabalho de sistematização do movimento de reprodução e acumulação capitalista.

O Capital teve seu primeiro tomo editado em 1866.

Os dois seguintes seriam publicados após o falecimento de Marx, em 1883, aos 64 anos da idade.

Neste Clássicos em Podcast, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo explica a importância de ler e estudar Marx hoje.

Como acercar-se desse bicho poderosíssimo e domá-lo e vence-lo sem ser domado e vencido por ele?

Um passo necessário indispensável é conhece-lo para não incorrer em ilusões conciliadoras ou voluntaristas.

Foi o que Marx fez.

Belluzzo falará especialmente dos Grundrisses, --os apontamentos da fase de pesquisas sobre o capitalismo industrial inglês, com um Marx sempre motivado pela determinação de não apenas entender o mundo, mas transformá-lo.

É este também o propósito desta série Clássicos em Podcast.

Boa audição e não se esqueça: o conhecimento progressista também precisa de uma estrutura de comunicação adequada à construção e difusão do projeto social capaz de superar a (des)ordem iníqua do nosso tempo.

Seja parceiro nessa empreitada: https://bit.ly/2OScDwH

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