segunda-feira, 8 de junho de 2020

Abin vai botar a mão na sua carteira de motorista

Você recebeu nossa newsletter semanal mais cedo e deve ter percebido que o link para a reportagem especial de hoje, revelando um novo esquema de espionagem em massa do Abin, não estava funcionando. Como esta é uma matéria muito especial, decidimos reenviar o e-mail com o link correto.

Bom fim de semana!
 

Sábado, 6 de junho de 2020
Abin vai botar a mão na sua carteira de motorista

Uma série de documentos enviados ao Intercept por uma fonte anônima mostra que a Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, está articulando um esquema de espionagem massiva com dados de 76 milhões de pessoas que têm carteira de habilitação no país. Isso é um terço da população.

A agência pediu ao Serpro, a estatal de processamento de dados, que extraísse dados como nomes, filiação, endereço, documentos pessoais, fotos e dados do veículo de todos os motoristas habilitados do país – se você tem CNH, certamente está na lista.

O pedido, que vai custar pouco mais de R$ 330 mil, era para que o Serpro extraísse os dados e entregasse à agência uma base organizada e atualizada mensalmente. Ele foi feito no final de abril, mas encontramos indícios de que ele vinha sendo articulado desde pelo menos novembro do ano passado, quando houve uma reunião entre funcionários do Serpro responsáveis pelo projeto e dirigentes da Abin. Entre eles, está Rolando Alexandre de Souza, então secretário de Planejamento da agência, e hoje nomeado diretor da Polícia Federal por Jair Bolsonaro.

É comum que o Serpro tenha contratos de processamento de dados com órgãos públicos – mas não com a agência de espionagem. O que esse pedido significa em um contexto em que Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela agência, fala em “consequências imprevisíveis” para a democracia brasileira? E num cenário de pandemia e agitação social, em que órgãos de estado estão aparelhados e politizados? O que a Abin vai fazer com um catálogo tão massivo de brasileiros, do qual você faz parte mesmo sem saber?

O esquema de vigilância massiva da Abin, revelado pela primeira vez agora no Intercept, deixa uma série de perguntas abertas. E ninguém sabe responder: a comissão mista do Congresso, que deveria fiscalizar a agência de espionagem, não se reúne desde outubro passado e foi avisada sobre o pedido da Abin por nós. 

Às vésperas de mais um protesto, num contexto de caça às bruxas e perseguição aos inimigos, uma agência estatal, responsável por municiar o presidente da República com informações estratégicas, está se transformando em um instrumento particular de vigilância sobre todos nós. 

É coisa de ditadura.
 
Tatiana Dias
Editora Sênior
 
Rafael Moro Martins
Editor Contribuinte Sênior
 

Destaques

Estamos muito perto da nossa meta. Com mais doadores poderemos investigar ainda mais. Convide um amigo para o Intercept.

VAMOS FAZER MUITO MAIS→

 
Por que Sarah Winter do 300 Pelo Brasil é um caso especial no inquérito das fake news
João Filho
Sarah Winter e o movimento paramilitar liderado por ela refletem o desejo de Bolsonaro de armar e preparar a população para uma guerra civil.
Comentários racistas na cobertura dos protestos antirrascistas na CNN e GloboNews
Cecília Olliveira
‘A gente supõe que tenha sido alguém, talvez, até querendo bater carteira’, disse jornalista branca ao ver um policial detendo violentamente um homem negro.
Coronavírus: Remdesivir não vai acabar com a pandemia apesar do alarde
Sharon Lerner
Uma combinação de medicamentos genéricos parece ser mais eficaz no combate ao coronavírus do que o Remdesivir antiviral.
De ‘moderados’ a cúmplices: como a imagem dos militares no governo Bolsonaro virou o fio
Lucas Rezende
Militares se tornaram fiadores do que há de pior na agenda obscurantista bolsonarista.
Assassinato de George Floyd em Minneapolis expõe falhas de reformas na polícia
Alice Speri, Alleen Brown, Mara Hvistendahl
Enquanto protestos tomam as ruas após homicídio de George Floyd pela polícia, especialistas dizem que é preciso ir além das reformas policiais.
Ameaça de atirar em manifestantes feita por Trump tem uma longa história de racismo por trás
Robert Mackey
A sanguinária ameaça de atirar nos manifestantes de Minneapolis feita por Donald Trump remete às palavras usadas por um oficial racista que foi chefe de polícia em Miami na década de 1960.

Recebeu este e-mail encaminhado por alguém? Assine! É grátis.
Mudou de ideia e não quer receber nossa newsletter?
Clique aqui para cancelar a inscrição.
Obrigado por nos ler! Que tal nos dizer o que achou?
Nosso e-mail é: newsletter@emails.theintercept.com

Acompanhe o TIB nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube

Nenhum comentário:

Postar um comentário