sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

A festa de Lira e o recorde de Bolsonaro

 

A festa de Lira e o recorde de Bolsonaro


As imagens geram desconforto imediato e a sensação de que as pessoas parecem ainda mais amontoadas do que o habitual em seus ternos, vestidos e taças de champagne. Pode ser apenas a mente desacostumada a ver tanta gente amontoada sem máscara neste momento crítico da pandemia, ou pode ser que realmente o espaço destinado à festa da vitória do novo presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL), cujas imagens rodaram nos últimos dias, não tenha sido suficiente para comportar as 300 pessoas que foram até a casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, brindar com ele sem máscaras, cantar e dançar ao som de uma banda ao vivo. Uma dança macabra, que acontece sobre mais de 200.000 corpos brasileiros, como bem resumiu Jamil Chade em sua coluna do último dia 03. E também muito simbólica de todos os acordões e compras, da boiada passando, e de toda a movimentação realizada para que o preferido de Bolsonaro assumisse esse lugar tão estratégico. 

Nesta mesma semana, agitada, Bolsonaro bateu o recorde de pedidos de impeachment de Dilma Rousseff, como mostrou em primeira mão essa reportagem da Pública. O presidente eleito é alvo de 69 pedidos - muitos deles com motivos contundentes e urgentes - superando o número de denúncias recebidas com relação à ex-presidente, impeachmada em 2016 por crime não previsto na Lei do Impeachment, é importante lembrar. No caso de Bolsonaro, Rodrigo Maia (DEM-RJ), "tuiteiro de oposição", sentou em cima de todos eles. 

O futuro com Lira não se mostra menos sinistro. Em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, o filósofo Marcos Nobre comparou a parceria entre Lira e Bolsonaro a “um casamento de chantagem mútua, em que os dois são o mesmo lado da moeda". Avaliou, porém, que será difícil cumprir a rifa aos 302 colegas que votaram nele. Para Nobre, Maia teria sido só um "biombo": “O verdadeiro governo Bolsonaro começa agora", definiu. 

E se o filósofo estiver certo e o governo que literalmente sufoca sua gente e dança em cima de mais de 200 mil corpos apenas fez sua introdução, o que podemos esperar do próximo ato?

Andrea Dip, editora e repórter da Agência Pública 

Pauta Pública. Já ouviu o último episódio do nosso podcast Pauta Pública? É sobre a péssima atuação do Brasil no combate à Covid-19 e o que podemos esperar (ou não) daqui para frente, na visão da jornalista de saúde Mariana Varella. Ouça já. 

O que você perdeu na semana


Brasileiros e as mudanças climáticas. O Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com o Yale Program on Climate Change Communication coordenaram uma pesquisa nacional para analisar o entendimento e a preocupação da população brasileira sobre as mudanças climáticas e as queimadas. Para 92% dos brasileiros, o aquecimento global está acontecendo; apenas 5% consideram que não está e 3% dizem não saber se o aquecimento global está acontecendo ou não. 77% dos entrevistados consideram que o aquecimento global é causado principalmente pela ação humana. 

A história de São João Marcos. Reportagem do UOL Tab conta a história de São João Marcos, cidade carioca demolida para a construção de uma usina que abasteceria de energia elétrica e água a capital e então Distrito Federal, em 1940. Os moradores foram obrigados a deixar suas casas e tudo foi demolido para que não retornassem, mas as águas não chegaram ao nível esperado e o local ficou abandonado por quase 70 anos, com ruínas engolidas pela mata. 

Acordo da Vale. O governo de Minas Gerais assinou, nesta quinta-feira (04), um acordo de Medidas de Reparação com a Vale pelo desastre de Brumadinho no valor de R$ 37 bilhões. O termo responsabiliza a empresa por todos os danos causados às regiões atingidas e à sociedade mineira pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, que matou 270 pessoas no dia 25 de janeiro de 2019. 

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Torto Arado. Em entrevista à Agência Pública, Itamar Vieira Junior, autor do premiado livro "Torto Arado", fala sobre o que aprendeu com as comunidades tradicionais e relata as dificuldades de se trabalhar no Incra sob o governo Bolsonaro – “vivemos um momento em que estamos esgotados." 

Recorde de impeachment. Com uma média de um pedido de impeachment a cada 11 dias de governo, Jair Bolsonaro ultrapassa a ex-presidente Dilma Rousseff e se torna o chefe do Executivo com mais pedidos de afastamento da história do Brasil: 69, ao todo. Quando deputado federal, Bolsonaro também protocolou um pedido contra a petista pelos mesmos crimes dos quais é acusado hoje: improbidade administrativa, abuso de poder e falta de decoro. 

Covid-19 em Porto Seguro. Jatinhos voaram sobre Trancoso, Arraial D’Ajuda e Caraíva, destinos mais procurados de Porto Seguro (BA) no ano novo, e deixaram o coronavírus para os moradores: a média de casos de Covid-19 nas três primeiras semanas de janeiro foi a maior desde o início da pandemia e a ocupação dos leitos de UTI está perto do limite. 
Pare para ler
 

Garimpo em Roraima. Prestes a ser sancionada pelo governador de Roraima, Antonio Denarium, nova lei legalizará o garimpo em Roraima sem estudos prévios, além de permitir o uso de mercúrio – que é tóxico – no processamento do ouro e de prever a expansão do tamanho das áreas de mineração. “Hoje temos um problema grave com o impacto do garimpo dentro das terras indígenas”, diz Ivo Aureliano, advogado do Conselho Indígena de Roraima (CIR). “Com essa lei, acreditamos que esses impactos, essas violações de direitos, piorarão muito.”

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