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Defesa póstuma da dissertação de mestrado de Ely Macuxi, pesquisador vítima da covid
DEFESA PÓSTUMA DE DISSERTAÇÃO
O Programa de Pós-graduação em Antropologia Social/PPGAS, da Universidade Federal do Amazonas/UFAM, realizará a defesa póstuma da dissertação de mestrado do indígena Ely Macuxi.
Na ocasião docentes e discentes participam de atividade online em homenagem ao pesquisador, que se dedicou à ciência, educação e trajetória à causa indígena. Sexta (12), a partir das 14h de Manaus (15h de Bsb), com transmissão ao vivo via youtube.
O aluno indígena às vésperas de defender seu mestrado perdeu a luta para a COVID-19, falecendo no dia 21/01/2021 e o PPGAS/UFAM, em acordo com seu orientador, decidiu realizar a defesa de seu trabalho, intitulado: “RELAÇÕES INTERÉTNICAS EM CONTEXTO URBANO: Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME”.
A Abertura da Sessão terá pronunciamento do Prof. Carlos Machado Dias Jr., Coordenador do PPGAS/UFAM.
Na sequência haverá apresentação do Prof. Raimundo Nonato Pereira da Silva (PPGAS/UFAM), orientador.
Participam também Prof. Antônio Carlos de Souza LIma (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ), Prof. João Pacheco de Oliveira Filho (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ/UFAM), representante da COPIME, representante do Colegiado Indígena PPGAS/UFAM. No final a família receberá o certificado (ATA) como homenagem.
Ely participou do curso de Licenciatura Indígena “Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável”, atuando como professor no curso de formação de professores indígenas, Projeto PiraYawara, no município de São Gabriel do Rio Negro (AM).
A Dissertação
A partir da década de 1990, ampliou-se o processo de mobilização social e política protagonizada pelas lideranças indígenas residentes no estado do Amazonas e na capital amazonense.
Esse movimento se fortaleceu a partir das ações da Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira (COIAB) e por organizações como a Associação das Mulheres indígenas do Rio Negro (AMARN), Associação Indígena das Mulheres Sateré-Mawé (AMISM), o Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM) e contou com o apoio de instituições de causas humanitárias, ONGs, entidades governamentais.
A ação conjunta das lideranças indígenas e seus apoiadores resultou a partir dos anos de 2000, na constituição de importantes organizações indígenas, dentre elas, a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (COPIME) em 2011, agregando 47 organizações indígenas de Manaus e mais 12 situadas nos municípios e entorno da cidade de Manaus, representando aproximadamente três mil indígenas.
Nesse contexto, a presente dissertação, intitulada: “RELAÇÕES INTERÉTNICAS EM CONTEXTO URBANO: Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME”, teve por objetivo analisar a ação política da COPIME, no período de 2011 a 2018, com ênfase sobre as dificuldades enfrentadas pela COPIME na organização e defesa dos direitos indígenas em Manaus e entorno.
A hipótese que norteou a pesquisa é que tais dificuldades decorrem de dois fatores: a falta de unidade das organizações na luta política e o não reconhecimento étnico ao atendimento as reivindicações indígenas por parte do poder municipal.
Desse modo, partiu-se da preliminar de que os limites e possibilidades das ações da COPIME são de ordem étnica, política e administrativa no contexto das relações internas, mas também de ordem política de resistência por parte do poder público em não atender as demandas sociais indígenas na quantidade e qualidade desejadas.
Assim sendo, a presente pesquisa demonstra o protagonismo indígena através do processo de institucionalização da COPIME, enquanto elemento organizador, político e de decisão, na luta política étnica pelo acesso às políticas sociais, suas dificuldades e os ganhos políticos e sociais efetivos para os povos indígenas em Manaus e entorno.
Para acessar a homenagem, clique aqui
PS do Viomundo: O professor e pesquisador da UnB, Heleno Corrêa Filho, foi quem nos encaminhou a nota acima sobre a homenagem.
Junto, fez esta bela observação:
Com o mestrando falecido por COVID-19, o orientador defenderá a tese, em memória do seu aluno, como é praxe em Strasburgo, dizem, por origem alemã.
Se a tese é boa, o orientador a defende. Se é reprovada, quem é reprovado é o orientador.
A vida traz essa defesa póstuma em hora amarga e dura, e seu orientador merece a nossa homenagem.
É mais que pesquisa, é mais que ciência. É humanidade.
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