Nesta semana, o Youtuber Felipe Neto, personalidade mais influente da internet brasileira, foi intimado para depor à PF por “Crimes contra a Segurança Nacional” por ter chamado o presidente Bolsonaro de genocida durante uma live. O Youtuber foi imediatamente às redes, causando um frisson que levou várias outras celebridades – como a cantora Teresa Cristina – a chamar Bolsonaro de genocida.
A investigação, suspensa poucos dias depois pela 38ª Vara Criminal do Rio, foi iniciada por delegado da polícia civil que já havia indiciado o artista carioca Diadorim por uma performance publicada no Instagram em que segurava a cabeça de Bolsonaro. Está claro que a ação do delegado é mais uma iniciativa da esfera bolsonarista – não se sabe até que ponto articuladas pelo núcleo duro do presidente – em reação à prisão do deputado Daniel Silveira pelo STF.
Mas Bolsonaro não precisaria olhar tão longe para encontrar quem o chame de genocida. Descansam na mesa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, pelo menos sete pedidos de impeachment que atribuem a mesma qualidade ao ex-capitão. Como há 74 pedidos contra Bolsonaro, recordista absoluto na república brasileira, isso significa quase 10% do total.
O 62º pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro, por exemplo, cita "genocídio" como causa principal. "É genocídio, ele entregou a nação brasileira, abriu as portas para o vírus. Ele cruzou os braços, não quis combater", disse o autor à nossa repórter.
Já o pedido de impeachment da Coalizão Negra por Direitos – o 53º a ser protocolado – também argumenta sobre o “genocídio”. “No contexto da pandemia, a atuação do presidente da República gerou provas explícitas de práticas genocidas”, diz um dos autores.
“Genocídio” também é a razão apontada por diversas denúncias protocoladas no Tribunal Penal Internacional em Haia contra o presidente. Em dezembro do ano passado, a procuradoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, revelou que está “examinando” a denúncia feita pela Comissão Arns por conta das ações contra povos indígenas, que o acusava de “incitar o genocídio” e “promover ataques sistemáticos contra os povos indígenas”. Outra queixa assinada por 60 organizações de profissionais de saúde e movimentos sociais denuncia Bolsonaro por “falhas graves e mortais” na resposta à pandemia de coronavírus no país. O documento pede a sua condenação por genocídio por se ter recusado a proteger as minorias no país. Detalhe: a queixa foi escrita quando o país tinha 87 mil mortos. Hoje, nos aproximamos dos 300 mil. No total, Bolsonaro é alvo de cinco denúncias no TPI, a mais recente protocolada pelos caciques Raoni Metuktire e Almir Suruí.
Nesse contexto, o que surpreende não é que alguns jornalistas e formadores de opinião usem o termo “genocida” para falar de Bolsonaro – cuja condução na pandemia transformou o país em uma ameaça internacional e só causou mais vexame com uma nova troca de Ministro da Saúde no momento em que o país concentra 1/5 das mortes no mundo.
Mas, sim, que apenas 54% da população acredite que a condução da pandemia por Bolsonaro seja ruim ou péssima, segundo o Datafolha. Para 22%, a condução do governo da pandemia é boa ou ótima.
Sinal de que a “esfera pública alternativa”, termo cunhado pelo filósofo Marcos Nobre para designar a verdadeira máquina criada por Bolsonaro para espalhar desinformação sobre quase tudo, inclusive sobre a Covid-19, continua de vento em popa.
Natalia Viana, co-diretora da Agência Pública
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