segunda-feira, 19 de abril de 2021

CASO K: As acusações não reveladas de crimes sexuais de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia

 

Caros leitores,

Eu prometi que só iria enviar mensagens muito importantes para vocês. Desta vez, quero convidá-los a ler uma reportagem especial, um grande furo que publicamos na semana passada e que, infelizmente, a maioria dos grandes jornais resolveu ignorar.

Durante cinco meses de investigação, uma equipe de sete repórteres levantou sérios indícios de um esquema criminoso de exploração sexual de meninas montado por Samuel Klein, o fundador das Casas Bahia. De acordo com dezenas de relatos, fotos, documentos e processos judiciais, Samuel abusava de meninas entre 9 e 17 anos em suas propriedades, e até mesmo na sede das Casas Bahia em São Caetano do Sul (SP). O esquema teria durado pelo menos duas décadas. Há casos em que meninas da mesma família teriam sido abusadas por Samuel.

É chocante que um escândalo desse tamanho tenha sido abafado até a Pública ter a coragem de publicá-lo. Pouco importa que Samuel Klein esteja morto. O esquema aparentemente teve dezenas de cúmplices e facilitadores. O CEO das Casas Bahia ainda é Michel, filho de Samuel. A empresa pertence ao grupo Via Varejo, controlada por Michel e cuja receita, em 2018, foi de R$ 30,5 bilhões. É uma das maiores empresas de venda de eletroeletrônicos do mundo.

Não vou especular o porquê dos jornais não terem dado a história ainda.

Mas em momentos como esse, tenho a certeza de que o trabalho que a equipe da Agência Pública faz é fundamental. Só uma imprensa 100% independente pode ser investigativa de verdade, contra tudo e contra todos.

Trabalhamos pelo leitor, e para o leitor. Prometemos desde já que vamos seguir apurando a história, que é muito maior do que já foi publicado. Por isso, se você acredita no nosso trabalho, peço que considere virar aliado da Pública, com doações a partir de 10 reais mensais. Se não quiser se comprometer, faça uma doação única. Se não pode, envie esse email para amigos.

A Pública só existe porque mais de mil e quinhentas pessoas nos dizem, com suas doações a cada mês, que o Brasil precisa do nosso jornalismo para se tornar um país menos tóxico.

Um abraço e até a próxima,

Natalia Viana

CASO K: As acusações não reveladas de crimes sexuais de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia
por Ciro Barros, Clarissa Levy, Mariama Correia, Rute Pina, Thiago Domenici

 
Uma história de violência sexual na infância marcou para sempre a trajetória de Karina Lopes Carvalhal, hoje com 40 anos. Conforme relatou à reportagem, aos 9 anos, ela soube pelas irmãs que um grande empresário de sua cidade natal, São Caetano do Sul (SP), dava dinheiro e presentes a menores de idade que fossem à sede da empresa na av. Conde Francisco Matarazzo, número 100. À época com 12 anos, a irmã mais velha de Karina avisou que ela poderia conseguir um tênis novo se fosse até lá. Animada, ela topou. “Eu não tinha um tênis pra pôr, usava o das minhas irmãs, meus dedos eram todos tortos.” 

Karina subiu até o andar da presidência e lembra que esperou algum tempo até ser chamada ao escritório particular do dono. Quando ele surgiu, ela ficou surpresa ao ver um senhor de idade já na casa dos 70 anos, que pediu que ela se aproximasse. “Minha irmã tinha me dito: ‘Ká, não se assuste porque ele vai te dar um beijinho’. Mas ele me cumprimentou e já passou a mão nos meus peitos. Ele dizia: ‘Ah, que moça bonita. Muito linda’”, ela relembra, imitando o sotaque polonês do empresário Samuel Klein, fundador da Casas Bahia. Ao sair dali, ela conta que sentiu alívio, levando consigo uma quantia em dinheiro e um tênis da marca Bical. Era 1989.

“A gente ficava contente que tinha ganhado um tênis. Não tínhamos noção dessa situação de violência”, avalia Karina ao falar com exclusividade à Pública sobre a história de sofrimento pessoal que guardou durante tanto tempo. Ela diz que a possibilidade de conseguir outros bens materiais a fez voltar nas semanas seguintes ao encontro de Samuel.

Mas nas novas visitas, de acordo com Karina, as situações de exploração sexual ganharam escala e viraram rotina. “A segunda vez, ele já me levou pro quartinho.” Ela conta que o empresário mantinha um quarto anexo ao seu escritório, onde havia uma cama hospitalar. Era ali que ocorriam os abusos. Ainda segundo Karina, foi ali que ela foi violentada sexualmente pela primeira vez aos 9 anos.

Não demorou para que Karina largasse os estudos na Escola Professora Eda Mantoanelli, em São Caetano do Sul. “Como meu pai me batia muito, eu ia matar aula e tinha que ficar em algum lugar.” E, na rua, Karina virou dependente química de crack e fez uso da substância por uma década, até engravidar da primeira filha, aos 19 anos. 

Karina não sabe precisar, mas estima que a relação de dependência emocional e financeira por meio da exploração sexual exercida por Samuel foi de 1989 até meados dos anos 2000. “Eu vejo agora que eu não tive estudo, não tive infância, não tive meios, não tive ninguém pra cuidar de mim. Se uma pessoa tira a sua infância, seus estudos, a sua casa, você fica sem chão.” 

Karina não teria sido a única a ser aliciada e explorada sexualmente por Klein. A Pública ouviu mais de 35 fontes, entre mulheres que o acusam de crimes sexuais, advogados e ex-funcionários da Casas Bahia e da família, consultou processos judiciais e inquéritos policiais, teve acesso a documentos, fotos, vídeos de festas com conotação sexual e declarações de próprio punho das denunciantes, além de gravações em áudio que indicam que, ao menos entre o início de 1989 e 2010, Samuel Klein teria sustentado uma rotina de exploração sexual de meninas entre 9 e 17 anos dentro da própria sede da Casas Bahia, a icônica loja no centro de São Caetano do Sul, e em imóveis de sua propriedade situados na Baixada Santista e no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O empresário teria organizado um esquema de recrutamento e transporte de meninas, com uso de seus helicópteros particulares, que teria contado até mesmo com a participação de seus funcionários, para festas e orgias acobertadas com pagamentos às meninas e familiares com dinheiro e produtos das lojas espalhadas pelo país. 


Leia a reportagem completa
 
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