Jornais se dividem nos destaques dos assuntos nesta quarta-feira, 28 de abril. A instalação da CPI e as primeiros derrotas do governo no Senado estão nas capas dos cinco principais jornais brasileiros, mas só a Folha e O Globo colocam o tema na manchete principal, com as primeiras duras declarações do relator. Diz a Folha: Renan abre fogo contra o governo na CPI da Covid. E O Globo: "Há culpados por ação e omissão", diz Renan na CPI.
Enquanto isso, o país se aproxima da marca de 400 mil mortos pela Covid. Estadão destaca que, por falta de vacina, cidades suspendem 2ª dose da Coronavac. O problema ocorre em ao menos oito estados. Só no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul, mais de 100 mil pessoas já têm imunização atrasada.
A gafe monumental levou à reação do embaixador chinês, Yang Wanming: "Até o momento, a China é o principal fornecedor das vacinas e os insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil", escreveu o diplomata no Twitter.
El País Brasil destaca que especialistas já projetam terceira onda da covid-19 com estados baixando guarda no mês mais mortal da pandemia. "A chegada de uma terceira onda não é questão de 'se', mas de 'quando', de acordo com pesquisadores", diz o jornal. "Baixa vacinação e flexibilização das restrições são apontados como fatores para novo pico no país, que tem mais de 70% da população suscetível a se contaminar pelo vírus". Com a proximidade do Dia das Mães em 9 de maio, existe o temor de que ocorra uma alta dos casos e mortes como a verificada após os feriados do final de ano em 2020.
LULA
Bela Megale informa no Globo que a viagem de Lula para Brasília que está sendo organizada para a próxima semana vai incluir uma reunião na Embaixada da Rússia. A conversa do ex-presidente com os russos acontece em meio aos embates entre o fundo russo que financiou o desenvolvimento da Sputnik V, a Anvisa, que rejeitou a importação da vacina para o Brasil, e os estados do Nordeste que compraram o imunizante. Também está na programação de Lula uma conversa olho no olho com o senador Fabiano Contarato, que está de saída da Rede. "Ele deve migrar para o PT e disputar o governo do Espírito Santo pelo partido", escreve.
Já o PSDB discute o formato das prévias para 2022 diante de divergências internas. Uma comissão definirá até maio regras para escolha do candidato do partido à Presidência. Há divergências sobre o colégio eleitoral expostas entre os concorrentes — João Doria, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio.
Painel da Folha noticia o novo vídeo produzido por João Santana para Ciro Gomes, no qual o pedetista diz que os problemas sociais do Brasil derivam de um mesmo modelo econômico que começou no mandato de FHC, passou pelas gestões petistas e chegou ao seu momento mais agudo com Bolsonaro. "No material, o presidenciável diz que não quer convencer ninguém a gostar dele, mas pede a paciência dos espectadores para ouvirem coisas às quais não estão estão acostumados", informa Camila Mattoso.
TROCA
Na economia, jornais noticiam que o ministro Paulo Guedes decidiu alterar o comando de áreas centrais da pasta. A justificativa é a necessidade de melhorar tanto o desempenho e azeitar a relação com a classe política após desgastes na formulação do Orçamento. As movimentações são feitas enquanto líderes partidários elevam a pressão para que o Ministério da Economia seja desmembrado, mas integrantes da pasta negam a relação.
As mudanças incluem a troca do comando da Secretaria Especial de Fazenda, principal braço do Ministério da Economia e com atribuições em grande parte equivalentes ao antigo Ministério da Fazenda. Sai Waldery Rodrigues e entra Bruno Funchal, atual secretário do Tesouro Nacional. Guedes negou que as trocas sejam por pressão política. O objetivo da reformulação, segundo afirmou o ministro em entrevista à imprensa, é dar novo fôlego ao funcionamento da pasta.
SPUTNIK
O site russo Sputnik News traz entrevista com o chanceler da Rússia sobre a proibição da Sputnik V no Brasil: EUA não escondem que exercem pressão. Sergei Lavrov comentou o fato de os EUA terem confirmado que estão fazendo esforços em relação ao Brasil para rejeitar a vacina russa Sputnik V. "Não estou surpreendido com isso. Os norte-americanos não se acanham de estar fazendo este trabalho. Eles não estão escondendo isso", disse Lavrov. O Brasil 247 repercute e dá a reação da diplomacia russa em manchete.
O britânico Financial Times também destaca a reação do governo russo depois da rejeição da Anvisa. O fundo de riqueza soberana da Rússia que apóia a vacina Sputnik V disse que a decisão do órgão regulador de saúde do Brasil foi politicamente motivada. "Os atrasos da Anvisa na aprovação do Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não têm nada a ver com acesso à informação ou ciência", alega o Fundo Russo de Investimento Direto.
O jornal lembra que a rejeição ao pedido de importação de vacinas feito por governadores de estado ocorre quando o país está lutando contra a segunda onda da pandemia e enfrenta escassez de suprimentos em sua campanha de vacinação. Em outra reportagem, o Financial Times noticia que "infecções diminuem na Rússia, conforme país aumenta ritmo de vacinação". As mortes também estão caindo.
O Brasil vai na contramão da vizinha Argentina. O francês Le Monde informa que a Rússia fortaleceu sua influência na Argentina com a vacina Sputnik V. A produção do imunizante russo contra a Covid-19 está prevista para começar em junho no país – que foi o primeiro da região a aprová-la –, inédita na América Latina. "Nós estamos muito animados. Será uma grande oportunidade de avançar no combate à pandemia, não só na Argentina, mas também na América Latina", sauda o presidente argentino, Alberto Fernández, marcando uma nova etapa das relações diplomáticas com a Rússia, mais vigorosa do que nunca desde a pandemia.
A proibição da Anvisa à Sputnik é tema de reportagem do Washington Post e do Wall Street Journal – sem a posição da Rússia – destacando que os reguladores de saúde emitiram crítica severa à vacina Sputnik V, rejeitando a aprovação em uma decisão que poder afetar seu uso em outras partes do mundo. "A Anvisa citou uma série de preocupações com o desenvolvimento e produção da vacina, incluindo o que dizia ser a falta de dados de controle de qualidade e eficácia, além de pouca ou nenhuma informação sobre os efeitos adversos da vacina", informa o jornal. "Não foi a primeira vez que autoridades de saúde levantaram preocupações sobre a Sputnik V, que foi saudada como 'segura' e mais de 91% eficaz em um artigo na Lancet, em fevereiro".
No Tijolaço, Fernando Brito comenta a decisão da agência reguladora de saúde: "A Anvisa recusou (o que é direito dela e não teria sentido dizer se está certa ou errada) as vacinas Sputnik, aprovada em meia centena de países como se tratassem de ampolas de água suja infectadas", observa. "E os russos reagiram, como também era seu direito, dizendo que não querem mais vender ao Brasil e ainda culparam a informação (verídica, aliás) de que a diplomacia norte-americana, sob Trump, havia feito pressão sobre nós para não deixarmos entrar a Sputnik". E finaliza: "Estamos forçando a sorte e conseguimos, neste momento, estar mal com as três maiores potências mundiais: EUA, China e Rússia, além de Alemanha, França..."
A Rede Brasil Atual noticia a reação do fabricante da Sputnik: Anvisa mente e recusa da vacina 'é de natureza política'. Segundo o fabricante do imunizante da Rússia, equipe da agência brasileira em Moscou "teve pleno acesso a todos os documentos relevantes" e situação decorre de pressão dos Estados Unidos.
MEIO AMBIENTE
BBC Brasil dá manchete no portal para o alerta de uma analista internacional: O Brasil está perdendo dinheiro no exterior para a Amazônia por causa da atuação de Jair Bolsonaro. Para Natalie Unterstell, países como Colômbia e Indonésia estão ocupando 'vácuo' deixado pelo Brasil em negociações sobre o clima para receber doações voltadas à preservação de florestas. "A postura do governo Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente está fazendo com que o Brasil perca espaço e recursos em negociações internacionais sobre o clima, diz Natalie Unterstell, fundadora e diretora do think tank Talanoa, voltado a políticas ambientais e climáticas", reporta.
O alemão Sueddeutsche Zeitung traz entrevista com Valdis Dombrovski, vice-presidente executivo da Comissão da União Europeia, que promete ajustar o acordo com o Mercosul. O pacto comercial é alvo de críticas. Há reclamações de que o acordo comercial com o bloco da América do Sul vai prejudicar o clima. Dombrovskis promete remédio. O ex-primeiro-ministro da Letônia disse que "não serviria para a credibilidade da UE como parceiro internacional se adquiríssemos o hábito de virar as costas aos acordos comerciais fechados".
E aponta: "Na realidade, seria uma grande vergonha se os Estados da UE se recusassem a aprovar o acordo que vem sendo negociado desde 2000". Em entrevista, Dombrovskis destacou as vantagens do acordo com os quatro países do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. "Em termos de valor dos cortes tarifários, é o maior acordo da UE já negociou", diz.
BRASIL NA GRINGA
O francês Libération traz entrevista com o pesquisador Frédéric Louault, que trata da situação política brasileira e a abertura de investigação sobre a conduta de Jair Bolsonaro. "A maioria dos parlamentares não tem interesse na demissão de Jair Bolsonaro", diz o pesquisador. Para ele, a comissão parlamentar de inquérito sobre o manejo da pandemia aberta nesta terça-feira no Brasil deve enfraquecer o presidente sem que ele perca seu lugar. "A direita tradicional e a centro-direita estão mais interessadas em enfraquecê-lo, deslegitimizá-lo, para que fique em uma posição fraca durante a próxima campanha eleitoral", pondera. "Eles esperam que, por um motivo ou outro, Lula não possa aparecer para ter rédea solta".
E continua: "Nesse nível, a CPI é muito poderosa porque é uma oportunidade de dar transparência sobre o que foi ou não feito, para atribuir responsabilidades em termos de gestão ou não gestão da crise". Louault lembra que já foram identificadas 23 falhas em diversos níveis e transmitidas aos diversos ministérios para que se preparem para enfrentar as controvérsias. "Isso vale por não ter comprado dezenas de milhões de vacinas proposta há um ano pela Pfizer para a valorização da cloroquina e o uso do exército para fabricá-la contra a opinião de cientistas", explica.
Em outra reportagem, o Libération informa sobre o avanço da pandemia na América Latina, que luta com dificuldades até para comprar oxigênio. Na América Latina, a pandemia eleva o preço do oxigênio – diz o título da reportagem. "Como muitos pacientes não podem ser acomodados em hospitais lotados, suas famílias precisam dar um jeito de ajudá-los com a assistência respiratória e comprar botijões no mercado negro", informa. "Encontrar oxigênio a todo custo para remediar as insuficiências respiratórias dos pacientes da Covid-19: na Venezuela, no Brasil, no México ou mesmo no Peru, essa busca é a obsessão de dezenas de milhares de famílias e é mais preocupante do que as campanhas de vacinação, que em alguns casos ainda não começaram".
O britânico The Guardian noticia a abertura da CPI no Congresso brasileiro para apurar a resposta de Bolsonaro à pandemia da Covid. "Opositores esperam que investigação destrua as chances de reeleição para presidente de extrema direita", escreve o correspondente Tom Phillips. "A investigação politicamente carregada, que rivais do presidente de extrema direita do Brasil esperam que vá torpedear suas chances de reeleição, será conduzida por 11 dos 81 senadores do país, incluindo vários dos adversários mais ferozes de Bolsonaro".
No Página 12, Emir Sader traça um paralelo entre o Brasil de agora e de um passado recente, com Lula. "O Brasil está imerso em uma catástrofe humanitária. O país, que há pouco mais de cinco anos foi um exemplo de combate à pobreza, de combate às desigualdades, de democracia distributiva de renda, em pouco tempo virou um inferno, para os brasileiros e para o mundo", observa. "Mais de 3 mil pessoas morrem todos os dias com a pandemia, muitas outras morrem anonimamente de fome, muitas mais com a violência das milícias e dos traficantes de drogas. Morre-se mais do que se nasce no Brasil. De um presidente exemplar para o mundo, o Brasil passou a ter um presidente genocida".
O principal jornal dos EUA ainda destaca a decisão de Biden de injetar US$ 80 bilhões para reforçar auditorias da Receita sobre os ricos. O "Plano de Famílias Americanas", que Biden deve detalhar esta semana, será compensado em parte por um esforço de fiscalização que os funcionários do governo acreditam que levantará US$ 700 bilhões ao longo de uma década. Ele quer cobrar mais e evitar a evasão de divisas. Wall Street Journal também repercute a decisão de Biden.
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