quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Conheça a produtora que constrói o universo paralelo dos negacionistas

 

Conheça a produtora que constrói o universo paralelo dos negacionistas
por Ethel Rudnitzki, Laura Scofield e Rafael Oliveira
 
O ano de 2021 está sendo especialmente movimentado para a pauta ambiental e indígena. No Congresso Nacional, projecto avançado de lei como o “PL da Grilagem” e o da mineração em terras indígenas, ambos encabeçados por uma Comissão de Meio Ambiente que tem como líderes deputados bolsonaristas ferrenhos. Enquanto isso, no Supremo Tribunal Federal, está marcado para hoje o julgamento da chamada tese do marco temporal , que pode definir o futuro das demarcações das terras indígenas . 

Contexto acredita que uma produtora Brasil Paralelo, que pretende ser uma “Netflix da direita”, lança você deve filmar sóbrios temas socioambientais sob uma perspectiva conservadora - para não dizer negacionista. A produção dos documentários "Cortina de Fumaça", sobre mudanças climáticas, e "A Esperança se Chama Liberdade", sóbrio a pauta indígena, tema de fé da recente reportagem da Agência Pública: " A boiada invade a tela ".
 
Apesar de os membros da produtora negarem oficialmente o timing das obras - enquanto expressam em informar o desejo de que os filmes impactem públicos e privados -, ao assistir os documentários é difícil não lembrar dos grandes projetos, julgamentos e decisões em curso. 

Eles formam o pacote completo. O filme sóbrio mudanças climáticas revive teorias da conspiração e afirmação de que a defesa do meio ambiente existe para frear o desenvolvimento agrícola brasileiro. Já o que approacha a pauta indígena oferece uma nova solução para impulsionar um agronegócio que sempre quer mais: defende que povos originários não têm mas exclusividade no usufruto de suas terras e podem firmar parcerias favoráveis. Ou seja, defende que os não-indígenas pretendem explorar terras indígenas, o que é proibido pela lei brasileira atual.

O “marco temporal” pode oferecer um caminho ainda mas fácil para os ruralistas. A tese norma que os indígenas só têm direito às terras que ocupavam no dia da promulgação da Constituição de 1988, sem levar em conta que muitos foram obrigados a se deslocar durante a ditadura militar e em momentos anteriores. Veja a tese para aprovados, muitos povos ficarão sem seus legítimos territórios. Nas últimas semanas o assunto escalou, e os ministros do STF seguem adiando a votação e fingindo não ver os mais de seis mil indígenas acampados há dias sob o sol quente e o seco ar seco de Brasília. 

“Nós somos surviventes do massacre de Martin Bugreiro [homem que exterminava indígenas em Santa Catarina no início do século XX]”, afirmou in Pública o líder Livai Paté, do povo Xokleng, em 30 de junho, data em que estava acordado o julgamento . "Mas ainda estamos resistindo a mais esse massacre que está acontecendo aqui", divulgou a liderança do povo que originou o julgamento do "marco temporal".

Tirando os indígenas de suas terras, não haveria necessidade nem de pagar gorjeta - como no caso citado no filme da Brasil Paralelo, no qual os Xavante restituirá 20% dos ganhos pela exploração de suas casas por fazendeiros investidores.

Fica mais difícil ainda negar a conexão dos documentários do Brasil Paralelo com a política atual sabendo que eles foram filmados com auxílio da Funai e participação do presidente da instituição, Marcelo Xavier, cuja Bandeira principal à frente do órgão é a exploração agrícola na índia. Para tornar tudo ainda mais claro, quase exagerado e caricato demais, um dos documentários fé financiado pelo ruralista Antonio Cabrera, dono de um grande impero ruralista e já pego em fiscalização contra o uso de mão de obra escravizada. 

Também não é a primeira vez que no Brasil Paralelo produz filmes relacionados com a pauta do momento, trazendo uma perspectiva conservadora. No ano passado, uma produção documentário sobre uma pandemia de coronavírus, questionando a eficácia do lockdown e criticando o uso de máscaras e as orientações da Organização Mundial da Saúde. Como consequência, a empresa está sendo investigada pela CPI da Pandemia como uma das principais responsáveis ​​por disseminar desinformação a respeito da Covid-19, e chegou a ter seu sigilo bancário quebrado pelos senadores.

A estratégia é sempre uma mesma: poluir o debate público com informações distorcidas, enganosas e até falsas sobre o que está em voga na opinião pública. Usando falas de figuras renomadas e pseudoespecialistas, com uma roupagem documental bastante profissional, a produtora reveste sua narrativa com ar científico e conquista o público leigo conservador. Quem nunca tinha parado para pensar sobre demarcações de terras, ou pesquisado sobre o agronegócio no Brasil, é convencido por dados incompletos que afirmam que a Floresta Amazônica é “preservada” e que os indígenas assassinam seus bebês como traje cultural - duadas mentiras des. 

“Usam de má-fé mesmo para manipular a opinião pública. Justly disso que se trata ”, afirmou a antropóloga Luísa Molina, pesquisadora da Universidade de Brasília, em entrevista à reportagem. 

Essa é a sensação que nós repórteres tínhamos começado desde que começamos a acompanhar páginas e produtoras de contúdo bolsonarista, ainda na corrida eleitoral de 2018. A próprio Brasil Paralelo já havia sido investigado em 2019 por dos dos repórteres que assinam esta newsletter. Mas o alinhamento da narrativa dos filmes da produção a pautas governistas talvez nunca tenha sido tão perigoso quanto agora, quando tantas vidas estão em jogo.
 
A produtora, que nasceu e nasceu com o bolsonarismo, parece não se importar com as provocadas que deixa em seu caminho, ofuscadas pela suposta defesa do bem, da moral, da erudição e da vida. Há cinco anos produzindo filmes enviesados, segue se dizendo "100% apartidária" e "livro de ideologias". Acredite quem quiser. Na Pública, nós avisamos. 
Ethel Rudnitzki é repórter da Agência Pública
Rafael Oliveira repórter da Agência Pública
Laura Scofield é estagiária de redação da Agência Pública

Rolou na Pública
 

Caça ilegal. Na semana passada, a Agência Pública divulgada ao menos 14 grupos no Facebook com muitos de usuários compartilham dicas e experiências com caças ilegais, além de anúncio de venda de armas. Após a publicação da reportagem , a rede social excluiu seis deles.

Congresso da Abraji. Os editores da Pública Andrea Dip e Thiago Domenici participaram da mesa “ Abusos sexuais em grandes redes de poder”, Na 16ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Ao lado do jornalista Pedro Lopes, do UOL, sóbrio conversou a cobertura dos casos Samuel Klein e de seu filho Saul, acusados ​​de manter esquemas de abuso e exploração sexual. O painel Faith transmitido online, e, assim como toda a programação do Congresso, ainda está disponível gratuitamente para aqueles que não conseguiram acompanhar. Veja a cobertura oficial e assista a íntegra aqui !

Desinformação no Zap.Nesta segunda (30), Andrea Dip também participou de um debate no canal do Instituto de Estudos da Religião (ISER) sobre as redes de desinformação no segmento evangélico. A promoveu ao vivo o lançamento do relatório da pesquisa “Caminhos da Desinformação: Evangelicos, Fake News e WhatsApp no ​​Brasil”, realizado pela UFRJ,  publicado em primeira mão pela Pública e divulado em reportagem. Confira a conversa !

Nenhum comentário:

Postar um comentário