sexta-feira, 21 de outubro de 2022

PARA NÃO ESQUECER – 21 DE OUTUBRO DE 1983 MORRE GREGÓRIO BEZERRA

 

PARA NÃO ESQUECER – 21 DE OUTUBRO DE 1983
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MORRE GREGÓRIO BEZERRA
(Ernesto Germano Parés)
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Gregório Lourenço Bezerra nasceu em Panelas de Miranda (PE), no dia 13 de março de 1900. O ano foi marcado pelo início de uma grande seca deixou milhares de famílias pernambucanas sem comida e água para beber.
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Filho de família camponesa, Gregório conheceu a fome ainda no ventre da mãe. Assim como centenas de retirantes, seus pais percorriam as estradas da caatinga em busca de trabalho para lutar contra as condições de vida miserável.
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Com as dificuldades que a família passava na época, teve que trabalhar desde a infância na agricultura. Aos nove anos, já tinha perdido pai e mãe e conheceu uma família de fazendeiros que lhe prometeu que teria oportunidades de estudo, mas a promessa nunca foi cumprida. Cresceu sem ser alfabetizado porque nunca teve a oportunidade de frequentar uma escola.
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Analfabeto até os 25 anos de idade, e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira. Por conta de sua militância, passou, no total, 23 anos na prisão, em diversos presídios e épocas.
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Como a maioria dos migrantes pobres era mais um sem-teto, dormindo por muito tempo entre as catacumbas do cemitério de Santo Amaro. Neste tempo foi carregador de bagagens na estação central, jornaleiro e ajudante de obras. Foi como jornaleiro que começou a se interessar pela política, com base na leitura que seus colegas de profissão faziam para ele dos jornais locais. Em 1917 trabalhou como operário da construção civil.
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Em 1917, Gregório Bezerra foi preso pela primeira vez, condenado a sete anos de prisão por participar de uma passeata no Recife por melhores salários e em solidariedade ao movimento bolchevique na União Soviética.
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Na prisão de Recife conheceu o cangaceiro Antônio Silvino, de quem se torna amigo. Em 1922, é novamente julgado e liberto. Neste mesmo ano, apresentou-se ao Exército no Recife para prestar serviço militar, porque precisava do certificado para conseguir trabalho, sendo posteriormente transferido para o Rio de Janeiro. Aos 25 anos, decide se alfabetizar para fazer o curso de Sargento de Infantaria, alcançando seu objetivo. Em seguida, pede transferência para a Sétima Região Militar, no Recife.
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Foi instrutor da Companhia de Metralhadoras Pesadas na Vila Militar e instrutor de Esportes, no Rio de Janeiro. De volta ao Recife, filiou-se, em 1930, ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, em 1935, no Recife, liderou o levante militar promovido pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento também conhecido como “Intentona Comunista”. Condenado a 28 anos de prisão, pela morte do tenente José Sampaio Xavier e por ter ferido o tenente Aguinaldo Oliveira de Almeida na tentativa de roubar o armamento do CPOR/Recife no levante de 1935, foi levado, primeiro para Fernando de Noronha e, depois para o Rio de Janeiro, no Presídio Frei Caneca, onde dividiu cela com o ex-comandante da Coluna Prestes e secretário-geral do PCB, Luís Carlos Prestes.
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Ao final do Estado Novo, ele foi anistiado e não teve dificuldades para se eleger deputado federal constituinte em 1946, por Pernambuco, na legenda do PCB, sendo o mais votado do estado. Mas, no mesmo ano, Eurico Gaspar Dutra é eleito presidente, substituindo Vargas, e começa uma caçada aos sindicalistas e aos comunistas.
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Gregório Bezerra teve o seu mandato cassado em 1948, juntamente com todos os parlamentares comunistas. Viveu na clandestinidade por nove anos, organizando núcleos sindicais no Paraná e em Goiás. Foi preso imediatamente após o golpe de 1964, nas terras da Usina Pedrosa, próximo a Cortês, pelo capitão Álvaro do Rego Barros, quando tentava organizar a resistência armada dos camponeses ao golpe em apoio ao governo federal de João Goulart e estadual de Miguel Arraes de Alencar. Após a prisão, foi transferido para o Recife, onde foi arrastado pelas ruas do bairro de Casa Forte enquanto o tenente-coronel do Exército Brasileiro Darcy Villocq Vianna incitava a população a linchá-lo. Antes disso, teve os pés imersos em solução de bateria de carro e foi obrigado a andar sobre britas; o acontecimento foi exibido pelas televisões locais.
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E novamente vai viver os horrores do sistema que combatia. Foi condenado a dezenove anos de reclusão, teve seus direitos políticos cassados por força do Ato Institucional nº 1. Só foi libertado em 1969, juntamente com outros quatorze presos políticos, em troca da devolução do embaixador dos EUA no Brasil, Charles Burke Elbrick.
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Gregório Bezerra viveu alguns anos no México e se transferiu para a União Soviética. Com a promulgação da anistia, voltou ao Brasil dez anos depois, em 1979, e logo entrou em divergência com o seu partido (o PCB), desligando-se de seus quadros.
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Filia-se ao antigo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) e candidata-se à Câmara dos Deputados, não sendo eleito e ficando como suplente.
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Em 1979, Gregório Bezerra publicou o livro “Memórias”, relançado em 2011, pela Boitempo Editorial.
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Faleceu no dia 21 de outubro de 1983, em São Paulo. O poeta Ferreira Gullar escreveu o poema de cordel “História de um Valente” em memória de Gregório Bezerra e Oscar Niemeyer projetou um memorial em sua homenagem, que ainda não foi construído.
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VIVA GREGÓRIO BEZERRA, HERÓI DO POVO BRASILEIRO!
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SEMPRE LEMBRAREMOS OS QUE LUTARAM AO LADO DO POVO TRABALHADOR.
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Nas imagens: 01) Gregório Bezerra; 02) ilustração sobre sua tortura em praça pública (Recife); 03) Gregório Bezerra preso em um quartel militar, já com os pés queimados.
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