PARA NÃO ESQUECER – 13 DE DEZEMBRO DE 1838
A BALAIADA*
(Ernesto Germano Parés)
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As divisões no seio da classe dominante do período deram margens para o surgimento de vários movimentos populares e foram muitas as reivindicações por melhores condições de vida que acabaram em levantes de grandes proporções.
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Assim foi com a Balaiada, movimento popular que sacudiu o Maranhão entre 1838 e 1841 e que reunia escravos negros e sertanejos que viviam da lavoura e da pecuária. Na verdade, a região já era sacudida por inúmeras pequenas revoltas desde 1831, levando alguns historiadores a dizerem que a Balaiada não foi um único movimento, mas um somatório de várias lutas naquela região.
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A província do Maranhão tinha, na época, cerca de 200.000 habitantes, sendo que 90.000 eram escravos. Depois da Independência dos Estados Unidos, o principal produto da região, o algodão, sofreu uma grande queda no mercado internacional e levou essa população a passar profundas crises econômicas que não eram solucionadas pelo Governo imperial.
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Mas vale lembrar que no Maranhão, no período da escravidão, também existiram grandes quilombos. Os maiores foram o Quilombo Lagoa Amarela, no município de Chapadinha, e o Quilombo de Limoeiro, no município de Turiaçu. Os quilombolas participaram de movimentos de dimensões que ultrapassam a defesa do quilombo. O principal desses movimentos foi exatamente a Guerra da Balaiada.
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A principal fonte de riqueza da aristocracia agrária da província do Maranhão era o cultivo do algodão e sua exportação. Utilizava-se nas lavouras a mão de obra escrava e um sistema monocultor chamado de plantation (semelhante aos EUA).
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Entretanto, houve uma significativa redução lucros da exportação algodoeira no mercado internacional. Isso devido à forte concorrência com “os da nação do Norte”.
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Como seria de esperar, tem início um aumento dos preços dos tecidos e dos alimentos para o mercado nacional. O comércio maranhense era dominado pelos portugueses que vendiam esses por altos preços. E, por sua vez, a população pobre não podia adquirir em razão das dificuldades financeiras em que se arrastava a província.
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A pobreza ia se espalhando em toda a região e a reação lógica era que a população passasse a rejeitar a presença dos portugueses. Outros fatores da grave crise econômica foram as perdas das terras dos pequenos agricultores rurais para os grandes latifundiários. O que levou os escravos a fugirem para os quilombos para se protegerem da fome.
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Na província do Maranhão havia o conflito de dois grupos políticos – os liberais e os conservadores. Os primeiros eram conhecidos como “bem-ti-vis” e defendiam uma organização política fundamentada no ideias republicanas.
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Já os conservadores dominavam o “pleito eleitoral” maranhense porque recebiam do governo provincial total apoio. Eles ainda perseguiam com veemência os bem-ti-vis devido as contrariedades políticas.
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Um detalhe importante acerca dos conflitos da Balaiada é que inicialmente os liberais apoiaram a revolta. Ademais, eles forneceram armas para os revoltos.
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Todavia, o objetivo dos liberais foi usar a população empobrecida, que estava com armas em punho, como manobra contra os conservadores. E quando os interesses não foram mais conciliantes, deixaram a Balaiada para trás.
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O movimento reúne escravos e homens livres (sertanejos), tomando um caráter diferente de outros do período e conseguindo escapar do domínio dos partidos então existentes. Os rebeldes lutavam contra o poder e os privilégios da aristocracia rural da região e eram liderados pelo vaqueiro mestiço Raimundo Gomes, o “Cara Preta”, pelo ex-escravo Cosme e por Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, conhecido como Balaio por sua profissão (daí o nome da revolta).
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Em 1838, Raimundo Gomes invade a prisão de Vila Manga para libertar seu irmão, mas acaba libertando todos os prisioneiros. Na fuga, recebem o apoio da população rural, inclusive a de Balaio, e do ex-escravo Cosme que comandava 3 mil escravos fugitivos. No ano seguinte, em agosto, os Balaios tomam a cidade de Caxias e organizam uma junta provisória para governar. Os negros Quilombolas, liderados por Cosme, cantavam pelas ruas da cidade:
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“O Balaio chegou!
O Balaio chegou.
Cadê branco!
Não há mais branco!
Não há mais sinhô!”
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Os primeiros passos dos Balaios foram no sentido de negociar um acordo com o governo da província do Maranhão. Ao contrário do desejado e esperado, o governo reuniu tropas para combater os revoltosos que saíram vitoriosos em inúmeros combates.
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Diante da gravidade dos acontecimentos, o Governo imperial envia, em 1840, o coronel Luís Alves de Lima e Silva para combater os rebeldes. Depois de negociar com a classe dominante local, passa a insuflar divergências entre os revoltosos.
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Raimundo Gomes acaba se rendendo e recebendo a anistia. Balaio morreu em um combate com as tropas do exército e o negro Cosme internou-se no sertão para tentar resistir. Os últimos rebeldes resistiram até 1841 e acabaram se entregando diante da proposta de anistia feita pelo coronel Lima e Silva. Mas o militar covarde não tinha qualquer vontade de cumprir com sua promessa. Cosme foi preso e morreu na forca enquanto o coronel recebia o título de Barão de Caxias.
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Em uma bela página do cancioneiro popular maranhense vamos encontrar um longo poema sobre a Balaiada, mas vou destacar apenas um trecho mais significativo:
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Dá licença rapazeada
Que eu aqui vou relatar
(Prestem muita atenção!)
Prá depois poder contar
(...)
Na história que tem nos livros
Escritos pela burguesia
Cosme é o grande bandido
(Ora vejam, quem diria!)
E Luís, racista assumido
É o herói Duque de Caxias
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Contei parte da Balaiada
E da bravura daquela gente
Há muito o que contar
Da lição desses valentes
Cosme, Balaio e Matroá
Pois quem luta sempre vence
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A luta não terminou
Pois a exploração continua
Vamos ser os novos balaios
E sairmos todos às ruas
Gritando contra os lacaios
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VIVA A BALAIADA!
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NÃO ESQUECER DAS LUTAS DO NOSSO POVO CONTRA A TIRANIA
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Nas fotografias: 01) Balaiada; 02) Negro Cosme enforcado; 03) o coronel que virou Barão e, depois, Duque
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