quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Até quando ficarei indiferente?


Até quando ficarei indiferente ?

7/12/2013 19:02

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As metrópolis contemporâneas, mesmo que passe o tempo, insistem em guardar similitudes com as polis gregas que as precederam .
É o caso das praças centrais, coração político das metrópolis, que buscam pontos em comum com as Ágoras do mundo pré socrático ( se é que isto seja possível ) , sendo o lugar de aglutinação das vozes do povo que reivindica.
Seguindo por este raciocínio , diria que a Cinelândia, no coração da cidade do Rio de Janeiro, é a nossa Ågora.
Impossível será conhecer a política deste cidade sem pelo menos uma vez na vida ter passado pela experiência de ouvir os clamores do povo naquela praça .
Na minha jornada política de ativista social (intensamente vivida nesta cidade ) em muitos momentos tive este privilégio : uns de vitória popular, outros de choros e ranger de dentes, advindos da ação da repressão que se abateu sobre os cariocas.
Nada, então, como retomar à Ágora , passando um dia com os professores em greve, em assembleia na Cinelândia, para se ter a dimensão exata da realidade.E foi o que fiz .
Seguindo a característica comum a outras cidades, ali é possível também se ver de uma forma bastante clara o grau de fragmentação a que está submetida a nossa sociedade nos tempos atuais : num curto espaço de tempo poderemos assistir ao desenrolar de acontecimentos sobrepostos,sem arranharem sequer um pouquinho a sua essência,mesmo sendo estes eventos de natureza completamente opostas.
É claro que isto de dá num quadro de profunda fragmentação da vida social, pois na atualidade o cidadão tem cada vez menos entendimento do mundo que o cerca.Isto é: sucumbe ao fato de que a realidade aparece para ele de forma cada vez mais fraguementada, em esferas cada vez mais separadas, um mundo que não é possível ser visto na sua dimensão total.
Separado em segmentos estanques, segue o indivíduo cada vez mais isolado no espaço onde foi confinado, totalmente dominado por um sistema que não compreende.
Resulta daí, portanto, que cada indivíduo consegue apenas ver uma parte : um universo onde a totalidade não se faz mais presente – um mundo fragmentado.
Por exemplo: uma apresentação de gala do grupo de danças Momix pode desenrola-se no Teatro Municipal, ao mesmo tempo que, na rua ao lado, bombas são jogadas pela polícia contra os performáticos Black Bloc, invadindo com seu som o amplo salão daquele magnífico teatro, sem qualquer prejuízo para o espetáculo. É como se nada estivesse acontecendo. Não estou nem aí ! Talvez, um olhadinha pela sacada!
No mesmo instante , um festival de cinema pode ocorrer no cinema Odeon enquanto a policia entra em embate contra os professores que se manifestam, ocorrendo ambos os eventos no mesmo espaço de tempo.
Certamente, uma realidade completamente esquizofrênica, que só pode ser alterada com ação de um dos elementos no espaço do outro, modicando-se o seu isolamento , quando por exemplo um manifestante ao correr da polícia abriga-se onde ocorre o festival ,criando um momento constrangedor. Ou mesmo, com a invasão da portaria do Teatro por seres ofegantes, em fuga, poluindo com suas presenças o ambiente asséptico da noite teatral (uma cena digna de Victor Hugo).
Entendo que o ocaso do sujeito, totalmente submetido ao Sistema, que o transformou num ser alienado, mero espectador do seu tempo, só pode ser resgatado para a sua plenitude humana através da ação social, no mundo real. E isto se faz quando ele toma atitudes, escolhe um lado.
Enganam-se aqueles que acham que o processo de desmonte da sociedade da mercadoria será um evento para ser visto da janela.
Mais dia, menos dias , todos, de uma forma ou de outra, serão envolvidos, e terão que escolher…
Serra da Mantiqueira, 5 de dezembro de 2013
Arlindenor Pedro


Fonte: Correio do Brasil

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