quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Dois exemplos, um alerta

Dois exemplos, um alerta
J. Tarcízio Fernandes*

Nos bate-papos da faculdade - no início do curso, ele já usava a tribuna do júri na defesa de correligionários no fórum de Piancó - dizia Babá Teotônio, em tom solene para a todos impressionar: “Colegas, primeiro, precisamos elucubrar para extrair corolários mais consequentes, que sejam nossa bússola no oceano do emaranhado dos fatos”.
Esta semana, lembrei-me desse querido companheiro de turma (que já se foi), porque me vi compelido a fazer o que ele recomendava. Os acontecimentos no Brasil e fora dele me induziram à meditação para tentar compreender o que se passa no Brasil de uns meses para cá.
Apontaram os corolários de minhas elucubrações para uma campanha, mal dirigida, à implantação do clima de instabilidade do país para desacreditar as instituições democráticas. O que pretende ela? Infundir no povo a descrença. Descrença nos partidos políticos, não só no PT, embora por ele tenha começado; descrença nos políticos; descrença no Poder Executivo; descrença no Poder Legislativo; descrença no Poder Judiciário, buscando inocular nas veias do povo esse alucinógeno do espírito em quase tudo, menos naqueles que sonham com os resultados dessa ruinosa campanha de fins antipatrióticos.
 Enquanto acreditarem na possibilidade de vencer eleições, os cegos opositores aceitam o jogo democrático da disputa pelo poder. Mas, quando concluírem que os votos lhes estão fugindo das mãos, aí, não há outro jeito: o golpe é o caminho. Motivos, se não há, serão criados.
Existem já evidências de que os velhos tubos de ensaio dos laboratórios de Washington descobriram novo modelo de golpe de Estado. Não mais aviões de guerra, metralhadoras e tanques nas ruas, desembarque de “marines”. Não mais  derramamento de sangue numa guerra civil induzida. Isso só em casos extremos como lá para as bandas do Oriente Médio. Na América Latina, o modelo está em plena execução. Prático, menos oneroso, politicamente menos desgastante.
Desenganados da vitória pelo voto, eles cooptam o Parlamento (duas sagazes raposas da bolorenta política partidária já presidem Câmara e Senado); cooptam ministros; cooptam a mídia – e cooptada já vive - para fazer a cabeça do povo. E pronto. O que mais falta? Apenas gerar um fato novo que viabilize o ato de força ou do “impeachment”. Mancomunam-se com os quartéis para a empreitada, onde por justiça reconhecemos haver militares dignos e de consciência política sadia como defensores da democracia e contrários a toda ingerência externa.
Honduras foi a primeira experiência de golpe institucional-congressual, a nova e apetitosa guloseima antidemocrática. Cumprindo mandado de prisão emitido pelo Judiciário, o Exército prendeu o presidente Manuel Zelaya e o deportou. A ONU condenou esse golpe. Depois, foi a vez do Paraguai. O presidente Fernando Lugo foi destituído por ato do Senado em processo de impeachment, sem direito de defesa, em pouco mais de 24 horas de duração. O lado sadio da comunidade internacional também o condenou.
Desnudam-se anseios de golpe por alguns grupos conhecidos rondando a nação. As pesquisas apontam para a reeleição de Dilma no primeiro turno. Nisso, habita o perigo. Na antevisão de perderem no voto, poderão perder a cabeça outra vez. O modelo de golpe já posto em prática lá fora pode parecer sedutor cá dentro. Mas resta-nos ainda a crença numa lição bem aprendida; e confiarmos em que as oposições brasileiras não se deixem seduzir e, seduzindo-se, possam acordar a tempo de se convencer de que somente a poucos isso compensa. Não ao povo, ao país e à democracia, como em 64.

* Advogado


Publicado em CONTRAPONTO, 06/12/2013

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