Dois exemplos, um
alerta
J. Tarcízio
Fernandes*
Nos bate-papos da
faculdade - no início do curso, ele já usava a tribuna do júri na defesa de
correligionários no fórum de Piancó - dizia Babá Teotônio, em tom solene para a
todos impressionar: “Colegas, primeiro, precisamos elucubrar para extrair
corolários mais consequentes, que sejam nossa bússola no oceano do emaranhado
dos fatos”.
Esta semana,
lembrei-me desse querido companheiro de turma (que já se foi), porque me vi
compelido a fazer o que ele recomendava. Os acontecimentos no Brasil e fora
dele me induziram à meditação para tentar compreender o que se passa no Brasil
de uns meses para cá.
Apontaram os
corolários de minhas elucubrações para uma campanha, mal dirigida, à
implantação do clima de instabilidade do país para desacreditar as instituições
democráticas. O que pretende ela? Infundir no povo a descrença. Descrença nos
partidos políticos, não só no PT, embora por ele tenha começado; descrença nos
políticos; descrença no Poder Executivo; descrença no Poder Legislativo;
descrença no Poder Judiciário, buscando inocular nas veias do povo esse
alucinógeno do espírito em quase tudo, menos naqueles que sonham com os
resultados dessa ruinosa campanha de fins antipatrióticos.
Enquanto acreditarem na possibilidade de
vencer eleições, os cegos opositores aceitam o jogo democrático da disputa pelo
poder. Mas, quando concluírem que os votos lhes estão fugindo das mãos, aí, não
há outro jeito: o golpe é o caminho. Motivos, se não há, serão criados.
Existem já evidências
de que os velhos tubos de ensaio dos laboratórios de Washington descobriram
novo modelo de golpe de Estado. Não mais aviões de guerra, metralhadoras e
tanques nas ruas, desembarque de “marines”. Não mais derramamento de sangue numa guerra civil
induzida. Isso só em casos extremos como lá para as bandas do Oriente Médio. Na
América Latina, o modelo está em plena execução. Prático, menos oneroso,
politicamente menos desgastante.
Desenganados da
vitória pelo voto, eles cooptam o Parlamento (duas sagazes raposas da bolorenta
política partidária já presidem Câmara e Senado); cooptam ministros; cooptam a
mídia – e cooptada já vive - para fazer a cabeça do povo. E pronto. O que mais
falta? Apenas gerar um fato novo que viabilize o ato de força ou do “impeachment”.
Mancomunam-se com os quartéis para a empreitada, onde por justiça reconhecemos
haver militares dignos e de consciência política sadia como defensores da
democracia e contrários a toda ingerência externa.
Honduras foi a primeira experiência
de golpe institucional-congressual, a nova e apetitosa guloseima
antidemocrática. Cumprindo mandado de prisão emitido pelo
Judiciário, o Exército prendeu o presidente Manuel Zelaya e o
deportou. A ONU condenou esse golpe. Depois, foi a vez do Paraguai. O
presidente Fernando Lugo foi destituído por ato do Senado em processo de impeachment,
sem direito de defesa, em pouco mais de 24 horas de duração. O lado sadio da
comunidade internacional também o condenou.
Desnudam-se anseios
de golpe por alguns grupos conhecidos rondando a nação. As pesquisas apontam
para a reeleição de Dilma no primeiro turno. Nisso, habita o perigo. Na
antevisão de perderem no voto, poderão perder a cabeça outra vez. O modelo de
golpe já posto em prática lá fora pode parecer sedutor cá dentro. Mas resta-nos
ainda a crença numa lição bem aprendida; e confiarmos em que as oposições
brasileiras não se deixem seduzir e, seduzindo-se, possam acordar a tempo de se
convencer de que somente a poucos isso compensa. Não ao povo, ao país e à
democracia, como em 64.
* Advogado
Publicado em
CONTRAPONTO, 06/12/2013
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