Paulo Pimentel*
O dia 17 de abril confirmou o que já
estávamos denunciando: Dilma não está sofrendo um impeachment, e sim um golpe.
Com 367 votos favoráveis à admissibilidade do processo de impedimento da Presidenta,
a Câmara dos Deputados escreveu na sua história uma página da qual sentirá no
futuro – e, na verdade, parece já sentir – vergonha.
Dilma está sendo atacada, justamente,
pelos seus acertos. Uma das principais virtudes da Presidenta reside na mudança
que promoveu na relação entre governo, partidos e Congresso, não praticando o
velho toma lá dá cá. A Presidenta não se curva aos ataques especulativos de
parlamentares fisiologistas, não negocia cargos com pessoas de trajetória suja
e não entra no vale tudo para salvar seu mandato. E foi golpeada na Câmara
justamente por essa postura.
A atual legislatura da Câmara tem 198
deputados em seu primeiro mandato. Boa parte deles desconhece os acordos
firmados anteriormente entre seus partidos e o governo. Eles agem
individualmente e refletem o fisiologismo dos partidos que compõe: não se guiam
por uma visão ideológica, por um projeto de país nem por um sonho de sociedade.
Buscam tão somente sua própria sobrevivência na política institucional, os
holofotes e, assim, acabam agindo cada um como um micropartido. O fim do
financiamento empresarial de campanhas aprovado ano passado agravou ainda mais
essa situação. Sem poder recorrer aos recursos corporativos, o que resta a
esses parlamentares é a briga por cargos.
Se, de um lado, não podiam contar com
Dilma para isso, de outro, encontraram um prato cheio: Eduardo Cunha, Michel
Temer e Eliseu Padilha dispostos, cada um com seus motivos, a dar espaço a essa
relação utilitária dos deputados com a política. Cunha precisava ser absolvido
na Comissão de Ética – onde é acusado de envolvimento com desvios milionários
da Petrobras e ocultação derecursos em contas na Suíça. Em troca da absolvição,
aceitou abrir o processo de impeachment contra a presidenta. Michel Temer, por
sua vez, guiado pelo desejo de ser presidente, mas certo de que não conseguiria
isso através dos votos, era o instrumento que mais facilmente constituiria a
ponte da oposição para chegar à destruição do PT e para promover sua saída do
governo. Eliseu Padilha, finalmente, alçado por Temer à posição de articulador
político do governo, tinha o mapa de todos os cargos do governo nas mãos: era o
“El Dorado” para os partidos fisiológicos. Se não conseguiam negociar um cargo
com Dilma, com Padilha levavam até mais do que pediam.
Cunha, Temer e Padilha são a expressão
do fisiologismo na política e estão em consonância com os parlamentares que
compõe a atual legislatura. Nesse momento prosperam justamente graças a isso.
Os votos obtidos na tribuna, que
deveriam votar “sim” ou “não” ao relatório que orientava a admissibilidade do
processo contra Dilma por crime de responsabilidade, não deixaram dúvidas sobre
esse caráter fisiológico dos parlamentares. Ao votar, justificavam: “sim pela
minha família”, “sim pelo meu grupão de amigos de Uberlândia”, “sim pela minha
mulher, pelos meus filhos”, “sim pelo aniversário de minha mãe”, “sim pela
minha cidade”. Votaram para atelevisão, para os holofotes, não para julgar se
um crime de responsabilidade foi cometido pela presidenta. Temos a clareza de
que não trataram do assunto porque não houve crime. Esse processo trata-se de
uma farsa, de um golpe.
A derrota da democracia para os
interesses pessoais, nessa primeira batalha, revela uma crise desse sistema
político fisiológico. Revela que o presidencialismo de coalizão não é a saída.
O caminho, como muitos defendem, é pela
esquerda. É governar para a base social e dialogar com ela.
O saldo desse processo para os
movimentos de esquerda também aponta nesse sentido. Apesar das inúmeras
divergências ideológicas, de projeto político e de método, a esquerda mostrou
uma capacidade de se unificar que pode ser decisiva para conter o golpe. A
criação de comitês e frentes democráticas ao redor do país – que unem não só a
já existente militância da esquerda como novos setores da sociedade –registrou
a resistência popular ao processo, e pode ser a pedra final no sapato dos
golpistas.
Ainda há muita luta a ser feita.
Resistiremos até o fim. Não vai ter golpe!
* Deputado Federal (PT/RS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário