Governo NATIMORTO!
Altamiro Borges
O vice-presidente Michel Temer, o Judas, ficou bastante animado com a
aprovação do impeachment de Dilma na vergonhosa votação da Câmara Federal.
Segundo o noticiário, ele festejou o golpe num jantar no Palácio do Jaburu,
residência oficial do vice, ao lado da primeira-dama "recatada e do
lar" - segundo a descrição medieval da 'Veja'. Só faltou a presença de
Eduardo Cunha, chefão do "consórcio de bandidos" e líder do atentado
à democracia. Agora, o conspirador articula nas sombras para
repetir a dose golpista no Senado, que deve votar a admissibilidade no
impeachment na primeira quinzena de maio. Mas toda esta alegria pode durar
pouco tempo. Caso o golpe seja concretizado, o tempo de permanência de Michel
Temer no Palácio do Planalto tende a ser curto e traumático.
Os sinais desta dificuldade já são visíveis. Antes mesmo da votação na
Câmara Federal, o Judas já se apressou para "montar um governo de
conciliação nacional". As respostas, porém, não foram muito animadoras.
Seu "ministério de notáveis", com a presença de banqueiros e
"juristas de renome", deu chabu. Ninguém topou a aventura, temendo o
rápido desgaste e o caos no país. No âmbito partidário, as coisas também são
complicadas, com a deflagração da briga fratricida entre as siglas fisiológicas
- como o DEM, PPS, SD, PSB e outras tranqueiras. Nem sequer o PSDB, que
imaginava capitalizar o desfecho golpista, está convencido da viabilidade desta
aventura.
As bicadas no ninho tucano
Uma notinha no site da Época neste domingo (24) aponta uma das razões
do vacilo tucano. "Sabe por que o PSDB não quer endossar a indicação de
ninguém para o Ministério da Fazenda num provável governo Temer? Porque não
quer estar associado a medidas impopulares na economia que o próximo ministro
terá de tomar se quiser ver o Brasil sair do atoleiro. Simples assim",
relata o repórter Murilo Ramos. A resistência, porém, não é apenas pelo medo do
forte desgaste. Há também a eterna briga no ninho tucano. É certo que o
oportunismo e o fisiologismo podem reverter estas resistências, mas as bicadas
no ninho tucano tendem a ficar ainda mais sangrentas.
O cambaleante Aécio Neves, presidente da sigla, já anunciou que é
contra a ocupação de cargos no futuro governo. Já o senador José Serra, que viu
seu sonho presidencial afundar no passado, sonha em ter um posto de relevo na
Esplanada dos Ministérios, mas é alvo de ataques dos outros tucanos de alta
plumagem. Segundo reportagem da Folha, "aliados do governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, decidiram pregar que PSDB exija o licenciamento de
tucanos que integrarem uma eventual gestão capitaneada pelo vice-presidente
Michel Temer. O principal alvo da ofensiva é José Serra, que é amigo pessoal do
peemedebista e é cotado para um ministério de proa, como Fazenda ou
Educação".
A urgência das reformas
impopulares
Além do transtorno na montagem do "ministério de notáveis" e
dos entraves resultantes para garantir a governabilidade no Congresso Nacional,
Michel Temer também terá dores de cabeça para emplacar o projeto dos que
incentivaram sua aventura golpista. Os ricos empresários já cobraram a conta.
Após enriquecerem no período de bonança da economia, eles agora têm pressa em
jogar o peso da crise nas costas dos trabalhadores. Entre outros pontos indigestos,
a ambiciosa burguesia exige que o governo da "conciliação nacional"
eleve o tempo das aposentadorias, flexibilize as leis trabalhistas, elimine a
política de valorização do salário mínimo e reduza os gastos públicos - ou
seja, que corte programas sociais como o "Bolsa Família" e o
"Minha Casa Minha Vida".
Artigo publicado na Folha logo após a votação do impeachment na Câmara
Federal, na segunda-feira (18), confirma que "as reformas impopulares são
sonho de empresários para o governo Temer". A elite não esconde o seu
projeto regressivo, numa típica revanche neoliberal. "Os empresários acham
que o novo governo terá de acabar com a obrigatoriedade dos gastos fixos em
saúde e educação e fazer as reformas da Previdência e das leis trabalhistas...
Eles esperam que, em no máximo seis meses, o novo governo apresente suas
propostas, mas sabem que haverá uma distância entre o sonho e a
realidade". O maior temor é com a explosão da revolta popular, que poderá
incluir até setores manipulados pela imprensa - os "midiotas" - que
rosnaram pelo "Fora Dilma". Muitos vão lamentar o tiro no pé!
Cunha vai apunhalar Temer?
Por último, vale registrar que o "ético" Michel Temer ainda
corre o risco de ser investigado e punido por várias denúncias de corrupção.
Matéria recente da insuspeita revista Época, da famiglia Marinho, cita o
depoimento de um dos donos da construtora Engevix, preso em setembro passado no
bojo da Operação Lava-Jato. O empresário José Antunes Sobrinho afirma ter
repassado R$ 1 milhão para o caixa-dois da campanha de Michel Temer em 2014.
Este não é o único escândalo envolvendo o falso moralista. Em sua "delação
premiada", o senador Delcídio Amaral garantiu que o vice-presidente foi
padrinho na indicação de diretores da Petrobras hoje acusados de corrupção. Leo
Pinheiro, um dos sócios da OAS, apontou Michel Temer como beneficiário de um
pagamento de R$ 5 milhões.
Já o correntista suíço Eduardo Cunha, que seria o vice em exercício do
novo governo, está metido em vários escândalos de corrupção - e só não foi
cassado e preso até agora devido à estranha morosidade do Supremo Tribunal
Federal (STF). Para se safar, o chefe do "consórcio de bandidos" pode
até rifar seu aliado em mais uma ação diversionista. No início de abril,
Eduardo Cunha encaminhou ofício aos 25 partidos com representação na Câmara
Federal solicitando a indicação de deputados para compor a comissão especial
destinada a analisar o pedido de impeachment de Michel Temer, atendendo à
solicitação do STF. Muitos analistas encararam a medida como uma faca no
pescoço do Judas.
Estes e outros fatores confirmam que a vida de Michel Temer no Palácio
do Planalto, caso o assalto ao poder se concretize, não será nada fácil. Para
quem prometia a "volta da estabilidade", o cenário politico tende a
ficar ainda mais inflamável. Será que a elite burguesa topa pagar o alto preço
do caos social? Nos próximos dias, ela terá algum tempo para refletir sobre
estes e outros graves riscos. Já os setores que não admitem o "golpe dos
corruptos" e a instalação de um governo ilegítimo terão o seu tempo para
reforçar a pressão social. Os próximos dias prometem muita adrenalina e várias
surpresas!
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