Dayane Santos
A realidade dos fatos novamente
atropelou o consórcio golpista formado pela direita e a grande imprensa. Dias
depois da divulgação do primeiro áudio de Romero Jucá, ex-ministro do gabinete
do golpe de Michel Temer, e Sérgio Machado, a TV Globo resolveu dedicar boa
parte de seu principal telejornal, o Jornal Nacional, para tratar sobre as
tramas que levaram à aprovação do afastamento da presidenta Dilma Rousseff pelo
Senado.
As evidências de que o pedido de impeachment se tratava de um golpe já
se demonstravam pela falta de fundamento jurídico que caracterizasse crime de
responsabilidade, como determina a Constituição. Dilma denunciou durante todo o
processo a chantagem de setores ligados a Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
ex-presidente da Câmara dos Deputados, e as articulações conspiradoras de
Michel Temer (PMDB-SP), que agora ocupa provisoriamente a Presidência.
Enquanto a mídia brasileira endossava o
golpismo, a imprensa internacional apontava que o afastamento da presidenta
eleita com mais de 54 milhões de votos se tratava de uma conspiração. Foi
preciso uma confissão verbal gravada em áudio e vazada, para a Globo dar cerca
de 25 minutos de reportagem admitindo o golpe.
No diálogo com o presidente da
Transpetro Sérgio Machado, Jucá afirma que a mudança do governo seria a única
maneira de paralisar as investigações. Jucá defende que o afastamento de Dilma
da presidência da República é um passo para “delimitar” a Lava-Jato “onde está”
e diz que manteve conversas com outros partidos de oposição do governo Dilma para
costurar essa aliança.
“Eu só acho o seguinte: com Dilma não
dá, com a situação que está. [...] Tem que ter impeachment. Não tem saída”,
afirmou Jucá, que após a divulgação da gravação teve que deixar a pasta do
Planejamento.
“Queriam, com um novo governo, eliminar
o combate à corrupção que foi feito durante todo o meu governo. A gravação da
conversa mantida pelo senador Romero Jucá com o ex-senador Sérgio Machado deixa
isto muito claro. Por esta razão, vamos usar sim na nossa defesa”, afirmou a presidenta
Dilma.
Apesar do conteúdo revelador de Jucá, a
edição do Jornal Nacional, de 23 de maio, foi factual e sem grande destaque
para o assunto. Diferentemente do que costuma fazer com áudios dessa natureza.
No caso do grampo ilegal da conversa entre Lula e Dilma, divulgado pelo juiz
Sérgio Moro, as edições repetiam exaustivamente a conversa, apesar do conteúdo
não caracterizar crime.
Na edição desta quinta (26), a Globo,
assim como boa parte dos veículos, tentaram camuflar a relação do conteúdo das
gravações com a votação do impeachment, manobrando para dizer que o alvo era
somente a Lava Jato. A narrativa ainda está ancorada na tentativa de preservar
Temer.
A sequência dos áudios divulgados, no
entanto, com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e com o
ex-presidente José Sarney (PMDB-MA), demonstraram que a cúpula peemedebista,
sem nenhuma dúvida, atuou pelo afastamento da presidenta eleita e a ida de
Temer ao Palácio do Planalto.
Nesta quinta (26), áudios inéditos
mostraram que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que teve acordo de
delação premiada homologado pela Justiça nesta quarta-feira (25), manteve
conversas com líderes do PMDB citando políticos do PSDB e DEM como parte de um
grande pacto para afastar Dilma.
Machado, que já foi senador e líder do
governo FHC em 1994, é o autor das gravações. Em conversa com Sarney, Machado
disse que a única solução para a crise política era Dilma sair do poder.
Na gravação com Romero Jucá, na qual o
parlamentar fala sobre o posicionamento do PSDB em relação ao processo de
impeachment de Dilma. Jucá relata como teria convencido o PSDB a aderir ao
impeachment, já que até então, os tucanos jogavam suas fichas na ação que
moviam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julga as irregularidades nas
contas de campanha de Dilma e Temer.
Jucá disse que alertou que ninguém
conseguiria ganhar eleição defendendo reformas necessárias, mas impopulares,
para sair da crise econômica.
JUCÁ – Falar com o Tasso, na casa do Tasso.
Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que
agora virou psdbista histórico. Aí, conversando lá, que é que a gente combinou?
Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível). E, se não
estiver, eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível), tão f***,
entendeu? Porque (inaudível) disse: 'Não, TSE, se cassar...'. Eu disse: 'Aécio,
deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum
político tradicional ganha essa eleição, não. (inaudível) Lula, Joaquim
Barbosa... (inaudível) Porque na hora dos debates, vão perguntar: 'Você vai
fazer reforma da previdência?' O que que que tu vai responder? Que vou! Tu acha
que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? Quem vai
ganhar é quem fizer maior bravata. E depois, não governa, porque a bravata, vai
ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária...' (inaudível) Esqueça!
Dilma
Esta semana, pelas redes sociais, Dilma
reafirmou que a divulgação das gravações de diálogos do senador Romero Jucá
reforça o argumento de que o processo do impeachment foi realizado com desvio
de poder.
Dilma salientou que o diálogo explicitou
que o processo de impeachment serviu para paralisar as investigações sobre corrupção
da Operação Lava Jato e que essa informação será utilizada em sua defesa.
Como bem definiu o professor e jurista
Dalmo Dallari, as gravações comprovam “toda uma atividade subterrânea minando a
normalidade constitucional”. Resta, agora, ao Senado reestabelecer a
normalidade constitucional.
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