sábado, 28 de maio de 2016

Globo admite conspiração para afastar Dilma, mas tenta preservar Temer



Globo admite conspiração para afastar Dilma, mas tenta preservar Temer

Dayane Santos

A realidade dos fatos novamente atropelou o consórcio golpista formado pela direita e a grande imprensa. Dias depois da divulgação do primeiro áudio de Romero Jucá, ex-ministro do gabinete do golpe de Michel Temer, e Sérgio Machado, a TV Globo resolveu dedicar boa parte de seu principal telejornal, o Jornal Nacional, para tratar sobre as tramas que levaram à aprovação do afastamento da presidenta Dilma Rousseff pelo Senado.

   As evidências de que o pedido de impeachment se tratava de um golpe já se demonstravam pela falta de fundamento jurídico que caracterizasse crime de responsabilidade, como determina a Constituição. Dilma denunciou durante todo o processo a chantagem de setores ligados a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados, e as articulações conspiradoras de Michel Temer (PMDB-SP), que agora ocupa provisoriamente a Presidência.

Enquanto a mídia brasileira endossava o golpismo, a imprensa internacional apontava que o afastamento da presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos se tratava de uma conspiração. Foi preciso uma confissão verbal gravada em áudio e vazada, para a Globo dar cerca de 25 minutos de reportagem admitindo o golpe.

No diálogo com o presidente da Transpetro Sérgio Machado, Jucá afirma que a mudança do governo seria a única maneira de paralisar as investigações. Jucá defende que o afastamento de Dilma da presidência da República é um passo para “delimitar” a Lava-Jato “onde está” e diz que manteve conversas com outros partidos de oposição do governo Dilma para costurar essa aliança.

“Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. [...] Tem que ter impeachment. Não tem saída”, afirmou Jucá, que após a divulgação da gravação teve que deixar a pasta do Planejamento.

“Queriam, com um novo governo, eliminar o combate à corrupção que foi feito durante todo o meu governo. A gravação da conversa mantida pelo senador Romero Jucá com o ex-senador Sérgio Machado deixa isto muito claro. Por esta razão, vamos usar sim na nossa defesa”, afirmou a presidenta Dilma.

Apesar do conteúdo revelador de Jucá, a edição do Jornal Nacional, de 23 de maio, foi factual e sem grande destaque para o assunto. Diferentemente do que costuma fazer com áudios dessa natureza. No caso do grampo ilegal da conversa entre Lula e Dilma, divulgado pelo juiz Sérgio Moro, as edições repetiam exaustivamente a conversa, apesar do conteúdo não caracterizar crime.

Na edição desta quinta (26), a Globo, assim como boa parte dos veículos, tentaram camuflar a relação do conteúdo das gravações com a votação do impeachment, manobrando para dizer que o alvo era somente a Lava Jato. A narrativa ainda está ancorada na tentativa de preservar Temer.

A sequência dos áudios divulgados, no entanto, com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-MA), demonstraram que a cúpula peemedebista, sem nenhuma dúvida, atuou pelo afastamento da presidenta eleita e a ida de Temer ao Palácio do Planalto.

Nesta quinta (26), áudios inéditos mostraram que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que teve acordo de delação premiada homologado pela Justiça nesta quarta-feira (25), manteve conversas com líderes do PMDB citando políticos do PSDB e DEM como parte de um grande pacto para afastar Dilma.

Machado, que já foi senador e líder do governo FHC em 1994, é o autor das gravações. Em conversa com Sarney, Machado disse que a única solução para a crise política era Dilma sair do poder.

Na gravação com Romero Jucá, na qual o parlamentar fala sobre o posicionamento do PSDB em relação ao processo de impeachment de Dilma. Jucá relata como teria convencido o PSDB a aderir ao impeachment, já que até então, os tucanos jogavam suas fichas na ação que moviam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julga as irregularidades nas contas de campanha de Dilma e Temer.

Jucá disse que alertou que ninguém conseguiria ganhar eleição defendendo reformas necessárias, mas impopulares, para sair da crise econômica.

JUCÁ – Falar com o Tasso, na casa do Tasso. Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que agora virou psdbista histórico. Aí, conversando lá, que é que a gente combinou? Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível). E, se não estiver, eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível), tão f***, entendeu? Porque (inaudível) disse: 'Não, TSE, se cassar...'. Eu disse: 'Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição, não. (inaudível) Lula, Joaquim Barbosa... (inaudível) Porque na hora dos debates, vão perguntar: 'Você vai fazer reforma da previdência?' O que que que tu vai responder? Que vou! Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? Quem vai ganhar é quem fizer maior bravata. E depois, não governa, porque a bravata, vai ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária...' (inaudível) Esqueça!

Dilma

Esta semana, pelas redes sociais, Dilma reafirmou que a divulgação das gravações de diálogos do senador Romero Jucá reforça o argumento de que o processo do impeachment foi realizado com desvio de poder.

Dilma salientou que o diálogo explicitou que o processo de impeachment serviu para paralisar as investigações sobre corrupção da Operação Lava Jato e que essa informação será utilizada em sua defesa.

Como bem definiu o professor e jurista Dalmo Dallari, as gravações comprovam “toda uma atividade subterrânea minando a normalidade constitucional”. Resta, agora, ao Senado reestabelecer a normalidade constitucional.

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