Carta aberta a Janaína Paschoal. Por Paulo Nogueira
Cara Janaína:
Leio que você se sente esquecida pelos homens a quem ajudou no golpe com seu parecer a favor do impeachment.
Você foi usada. Você foi comprada. Por 45 mil reais o PSDB obteve de você uma peça que suprimiu 54 milhões de votos e interrompeu uma democracia tão jovem.
Saiu barato para os liderados pelo Decano do Golpe, FHC, e seu Robin, Aécio. Cada real empregado neste projeto matou quase mil votos.
E esqueceram você.
Não se desespere, porém. Você será eternamente lembrada por brasileiros numa quantidade infinitamente maior do que a soma de todos os golpistas.
Pertence já à história o espetáculo em que você, como que possuída, girava a cabeça para lá e para cá. Prometia matar a cobra, se me lembro.
Só não foi o espetáculo mais patético do golpe porque, não muito tempo depois, deputados corruptos agarrados a bandeiras disseram sim ao golpe em nome da família quadrangular, dos maços, dos filhos e netos.
Também, lembremos, em nome de pais e maridos. O marido homenageado foi preso por corrupção no dia seguinte. O pai louvado teve o mesmo destino algumas semanas depois.
Não fossem os deputados, a performance em que você abateu um réptil, previsivalmente viralizada nas redes sociais, seria o retrato perfeito do golpe.
Você será lembrada para sempre não como uma jurista, mas, e temos aí ao menos uma rima, como uma golpista que se comportou como uma fâmula da plutocracia.
Você excluiu do grupo que a largou o senador Aloysio Nunes. Cuidado, Janaína. Um internauta notou, depois de saber disso, que a companhia do senador Aloysio é a pior forma de solidão que um ser humano pode enfrentar.
Mulheres usadas e abandonadas costumam comover. A literatura está cheia de casos assim. Ana Karenina ainda hoje nos comove. Ema Bovary também. Gostaríamos de abraçá-las e confortá-las em face de um universo masculino tão canalha.
Mas você é um caso especial. Seu infortúnio não emociona. Não provoca lágrimas de solidariedade. Gera, antes, um tipo de satisfação. É como se, afinal, alguma justiça tivesse sido feita. Em vez de choro, risadas, ou mesmo gargalhadas, e aquele brado imortal: “Bem feito!”
Montaigne escreveu que a maldade traz seu próprio castigo. Penso nesta frase e acho que ela se aplica perfeitamente a você.
Não a esqueceremos.
Sinceramente.
Paulo
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