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Boa análise de Márcio Pochmann sobre a crise estrutural do capitalismo brasileiro. Concordo que vivemos o esgotamento de um ciclo politico - só que, para mim, o ciclo politico começou em 1988 com a Constituição-Cidadã, e não em 1985 com a “Nova Republica" de José Sarney. Portanto, não denominaria ”esgotamento da Nova República", mas sim, esgotamento de um pacto constitucional - uma transação conservadora meio bizarra - que perdeu - e não é de hoje - sua efetividade politica (se é que conseguiu te-la) no sentido de tornar-se a base de governabilidade para o Projeto de Nação. No final da fala, Pochman inspira-se na experiencia de Juscelino Kubitschek em 1956 como exemplo de um Presidente da Republica que construiu uma maioria politica e a partir daí, implementou um Projeto de Nação. É um rastilho de esperança mas que depara-se em 2016, com profundas dificuldades no plano historico-mundial (dá para pensar um projeto para o Brasil sem analisar a geopolítica mundial? De meados da década de 1950 até hoje muita coisa mudou...e para pior nas condições históricas que favoreçam experiências de capitalismo nacional). Na verdade, a miséria brasileira deixou de ser um pantano para tornar-se um mar de lama. Estamos simplesmente atolados. 20 anos de ditadura civil-militar, 10 anos de neoliberalismo e 10 anos de neodesenvolvimento social-liberal degradaram o Brasil como projeto civilizatório. Não há País que resista. Talvez tenha se esgotado, não apenas a ”Nova República", mas as bases materiais -sociais, politicas, culturais e ideologicas - para um Projeto de Nação no Brasil nos termos da decada de 1950. É meio delírio imaginar hoje uma maioria politica no Congresso Nacional e no aparato estatal, constituída por empresários nacionais, juristas, profissionais liberais de classe média, etc imbuidos com uma perspectiva de Nação. Entre Juscelino e Dilma/Temer temos mais de meio século de degradação política da representação popular que reflete a imbecilização espiritual das massas (viva a TV Globo). A ditadura civil-militar exterminou uma parte das nossas lideranças politicas dignas e combativas. O neoliberalismo amesquinhou o restante. Os partidos - principalmente o PT - nunca se preocuparam em formar homens e mulheres preparadas intelectualmente para a disputa do novo Projeto de Nação. Temos meros ativistas de governo que não pensam a Nação, mas demandas particularistas (negros, mulheres, indígenas, direitos humanos, etc). Não conseguem integra-los numa visão de classe trabalhadora capaz de fazer o enfrentamento pela verdadeira Nação. Enfim, não existe projeto de Nação sem intelectuais organicos à altura dos novos desafios historicos. Finalmente, lá fora, o capitalismo histórico é outro: capitalismo global rentista-parasitário...um sistema mundial empoderado pela vitória política e ideológica no encaminhamento da crise financeira de 2008/2009. Imaginar um Projeto de Nação - tão necessario, reconheço - é desafio politico imenso, que exige um pouco de Fé, tanto quanto o delírio de certa esquerda marxista que idealiza ainda hoje o socialismo num só país. Gente, estamos no século XXI! Enfim, precisamos conhecer melhor as condições historicas herdadas do passado de “trinta anos perversos" de capitalismo neoliberal no interior das quais os homens fazem a historia...
O economista e ex-presidente do IPEA Marcio Pochmann defende a tese do esgotamento da Nova República e da possibilidade de um governo de…