'Querido Rei'... A frase lamentável de Macri manchou a celebração pela independência argentina
Macri soltou a perola de que 'Os próceres claramente deveriam ter sentido angústia por tomar a decisão de se separar da Espanha'.
Neste último sábado (9/7), o presidente argentino Mauricio Macri teve mais uma de suas frases pouco felizes – em seu rol de chefe de Estado, ele já vem acumulando rapidamente uma grande quantidade delas. Em plena cerimônia na que se celebrava os 200 anos da declaração de independência da Argentina, Macri falou sobre os líderes independentistas do país, dizendo que “claramente deveriam ter sentido angústia por tomar a decisão, querido rei, de se separar da Espanha”. O “rei” mencionado por Macri é na verdade o ex-monarca espanhol Juan Carlos, que abdicou do trono em 2015, e que foi, curiosamente, a única autoridade internacional presente no evento.
“Estou aqui (em Tucumán, cidade no noroeste argentino onde se celebrou o evento) tentando pensar e sentir o que sentiram eles naquele momento”, expressou o presidente, antes de proferir a polêmica frase a respeito dos próceres da independência do seu país, que decidiram se independizar da Coroa Espanhola em 1816, seis anos depois do início da Revolução de Maio, que expulsou do território do Rio da Prata os governantes impostos desde Madrid.
“Os cidadãos que declararam a independência não eram super-homens. Certamente tiveram medo e angústia. Mas a coragem e a convicção foi mais forte. Hoje, quero pedir o mesmo a todos os argentinos: que sejamos protagonistas, que tenhamos fé em nossa capacidade de criar e desenvolver o país”, disse Macri, quem sentenciou que “em Tucumán começou a história”, com o Congresso que declarou a independência, se esquecendo dos seis anos prévios de revolução que levaram os independentistas a conseguir o seu objetivo.
O historiado Felipe Pigna, um dos mais reconhecidos da Argentina, reagiu rapidamente à declaração presidencial, através de um artigo em seu sítio web elhistoriador.com: “a `angústia´ de San Martín (principal prócer da independência argentina) em 1816 se dava mais devido ao que se tardou em se concretizar a declaração de separação da Espanha, e não pela separação em si. Foi o que ele deixou claro em uma de suas mais célebres cartas, escrita ao deputado Godoy Cruz, um dos seus aliados dentro do Congresso de Tucumán”.
Em outro momento da cerimônia de domingo, Macri disse que “o país se dirige a um futuro incrível”, e apelou a que os argentinos “retomem a cultura do esforço, do trabalho e da solidariedade”. Nada mal para os seus pares, nascidos em berço de ouro e com todas as condições econômicas e sociais suficientes para se impor numa Argentina desigual. Agora, diante de uma realidade onde milhões de crianças de famílias pobres carecem dos benefícios que o Estado deixou de outorgar, e essas mesmas famílias passam a ver seus sonhos mais distantes pelo mesmo motivo, enfrentando a impossibilidade de uma alimentação adequada para os filhos, a pergunta que fica é “de que esforço estamos falando?”.
Macri também aproveitou a mensagem presidencial para atacar o governo anterior, de Cristina Kirchner: “não tenhamos medo, não escutemos aqueles que se enfermaram com o poder. Já começamos a caminhar para outro lado, na direção de um futuro melhor, com mais diálogo e trabalho”. Seguramente, essa passagem desconcertou a cerca de 5 milhões de argentinos que foram arrastrados à pobreza em tão somente sete meses de gestão da direita, ou aos mais de 200 mil novos desempregados, que se multiplicam a cada dia que passa.
O presidente prosseguiu o discurso dizendo que “ser independente significa ser solidário” e pediu aos argentinos que “consumam a menor quantidade de energia possível”. Finalmente, ele afirmou desejar “que a verdade governe entre todos” e pediu para que as pessoas “se afastem do conceito mal entendido de esperteza popular”.
Dias horas antes, o presidente argentino já havia causado polêmica numa reunião com um grupo de milionários investidores norte-americanos, onde disse que “o governo falou aos cidadãos, e explicou que deveria tomar medidas drásticas em matéria de tarifas de serviços públicos, como água, luz e gás, e felizmente a sociedade entendeu”. Essa consideração não se condiz com a realidade vivida no país, onde milhares de pessoas reclamam em todas as províncias por contas impossíveis de pagar. Em muitos casos, as quantias são iguais ou superiores à renda familiar dos consumidores.
Tradução: Victor Farinelli
“Estou aqui (em Tucumán, cidade no noroeste argentino onde se celebrou o evento) tentando pensar e sentir o que sentiram eles naquele momento”, expressou o presidente, antes de proferir a polêmica frase a respeito dos próceres da independência do seu país, que decidiram se independizar da Coroa Espanhola em 1816, seis anos depois do início da Revolução de Maio, que expulsou do território do Rio da Prata os governantes impostos desde Madrid.
“Os cidadãos que declararam a independência não eram super-homens. Certamente tiveram medo e angústia. Mas a coragem e a convicção foi mais forte. Hoje, quero pedir o mesmo a todos os argentinos: que sejamos protagonistas, que tenhamos fé em nossa capacidade de criar e desenvolver o país”, disse Macri, quem sentenciou que “em Tucumán começou a história”, com o Congresso que declarou a independência, se esquecendo dos seis anos prévios de revolução que levaram os independentistas a conseguir o seu objetivo.
O historiado Felipe Pigna, um dos mais reconhecidos da Argentina, reagiu rapidamente à declaração presidencial, através de um artigo em seu sítio web elhistoriador.com: “a `angústia´ de San Martín (principal prócer da independência argentina) em 1816 se dava mais devido ao que se tardou em se concretizar a declaração de separação da Espanha, e não pela separação em si. Foi o que ele deixou claro em uma de suas mais célebres cartas, escrita ao deputado Godoy Cruz, um dos seus aliados dentro do Congresso de Tucumán”.
Em outro momento da cerimônia de domingo, Macri disse que “o país se dirige a um futuro incrível”, e apelou a que os argentinos “retomem a cultura do esforço, do trabalho e da solidariedade”. Nada mal para os seus pares, nascidos em berço de ouro e com todas as condições econômicas e sociais suficientes para se impor numa Argentina desigual. Agora, diante de uma realidade onde milhões de crianças de famílias pobres carecem dos benefícios que o Estado deixou de outorgar, e essas mesmas famílias passam a ver seus sonhos mais distantes pelo mesmo motivo, enfrentando a impossibilidade de uma alimentação adequada para os filhos, a pergunta que fica é “de que esforço estamos falando?”.
Macri também aproveitou a mensagem presidencial para atacar o governo anterior, de Cristina Kirchner: “não tenhamos medo, não escutemos aqueles que se enfermaram com o poder. Já começamos a caminhar para outro lado, na direção de um futuro melhor, com mais diálogo e trabalho”. Seguramente, essa passagem desconcertou a cerca de 5 milhões de argentinos que foram arrastrados à pobreza em tão somente sete meses de gestão da direita, ou aos mais de 200 mil novos desempregados, que se multiplicam a cada dia que passa.
O presidente prosseguiu o discurso dizendo que “ser independente significa ser solidário” e pediu aos argentinos que “consumam a menor quantidade de energia possível”. Finalmente, ele afirmou desejar “que a verdade governe entre todos” e pediu para que as pessoas “se afastem do conceito mal entendido de esperteza popular”.
Dias horas antes, o presidente argentino já havia causado polêmica numa reunião com um grupo de milionários investidores norte-americanos, onde disse que “o governo falou aos cidadãos, e explicou que deveria tomar medidas drásticas em matéria de tarifas de serviços públicos, como água, luz e gás, e felizmente a sociedade entendeu”. Essa consideração não se condiz com a realidade vivida no país, onde milhares de pessoas reclamam em todas as províncias por contas impossíveis de pagar. Em muitos casos, as quantias são iguais ou superiores à renda familiar dos consumidores.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: Ministério das Relações Interiores
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