O Brasil era o país do futuro, como
negação do presente. Até que o futuro chegou, pelas mãos do pré-sal, passaporte
para o futuro do país, no sentido de que asseguraria a autossuficiência
energética, permitiria o país se tornar exportador de petróleo e financiar um
salto decisivo na Educação e na Saúde, com os recursos vindos do pré-sal.
Emir Sader
O futuro se abria para o país, conforme
também a autoestima dos brasileiros era resgatada, gerando um clima de otimismo
sobre o futuro do Brasil. Tornávamos-nos o país do futuro articulado
estreitamente ao presente.
O governo golpista se erige como um
exterminador do futuro, na medida em que desarticula o Estado como promotor do
desenvolvimento, privatiza setores da Petrobras, incluindo o pré-sal, cortando juntamente
os recursos que iriam para a Educação e a Saúde.
Instala-se um governo que nega o passado
recente e castra o futuro do país pelas políticas de ajuste, que buscam
restringir o país às dimensões do mercado e, em particular, subordina a
economia brasileira aos interesses do capital especulativo. Nega-se o futuro do
país, que é projetado como uma trajetória depressiva, com corte drástico de
recursos para as políticas sociais, com a perpetuação da recessão econômica, do
desemprego, da pobreza e da desigualdade social.
Pelas mãos desses exterminadores do
futuro, o Brasil voltaria a ser o modelo de desigualdade no mundo, retornaria
ao Mapa da Fome e ao FMI. As políticas governamentais voltariam a ser ameaças
para a grande maioria dos brasileiros e benesses para os bancos e para o grande
empresariado nacional e internacional.
A medida exemplar do extermínio do
futuro é aquela que desvincula os recursos para Saúde e Educação, definidos
pela Constituição, para deixá-las ao sabor do desempenho de uma economia que,
sabidamente por essa política econômica, terá desempenho pífio. Faz o mesmo com
o salário dos servidores públicos. Em suma, projeta um futuro sempre pior que o
presente.
A redefinição dos termos da
aposentadoria é outra forma de projetar sombras sobre o futuro do país. Não
apenas porque propõe idade de aposentadoria maior do que a expectativa de vida
média dos brasileiros, mas porque propõe que a idade de aposentadoria seja
igual para homens e mulheres.
A privatização do pré-sal é o exemplo
claro desse extermínio do futuro. Abandonaríamos a perspectiva da autonomia
energética, da exportação de petróleo e, principalmente, do passaporte para o
futuro que os recursos substanciais para a educação e a saúde representariam
para o pais.
Além de tudo, o golpismo desmoraliza a
democracia, demonstra que é possível, num marco legal, com a benevolência
cúmplice do Judiciário, derrubar uma presidente eleita pelo voto popular, sem
nenhuma acusação que o justifique, aplicar o programa derrotado nas eleições e
colocar em prática medidas de retrocesso econômico, social, politico e
cultural, impunemente.
É o sonho da direita: um sistema
politico blindado ao acesso a alternativas populares ancorado em um
parlamentarismo de fato ou de direito, no financiamento privado de campanhas,
no voto opcional e na inviabilização da candidatura do Lula.
Seria condenar definitivamente o Brasil
àquele país do futuro sem futuro, de um futuro
hipotético, que nunca chega. A pior alternativa para o Brasil é aquela que
expropria a esperança do horizonte dos brasileiros. A isso se dedica o governo
golpista. Falta combinar com o povo brasileiro, aquele da profissão esperança.
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