terça-feira, 23 de agosto de 2016

Exterminadores do futuro


O Brasil era o país do futuro, como negação do presente. Até que o futuro chegou, pelas mãos do pré-sal, passaporte para o futuro do país, no sentido de que asseguraria a autossuficiência energética, permitiria o país se tornar exportador de petróleo e financiar um salto decisivo na Educação e na Saúde, com os recursos vindos do pré-sal.

Emir Sader

O futuro se abria para o país, conforme também a autoestima dos brasileiros era resgatada, gerando um clima de otimismo sobre o futuro do Brasil. Tornávamos-nos o país do futuro articulado estreitamente ao presente.

O governo golpista se erige como um exterminador do futuro, na medida em que desarticula o Estado como promotor do desenvolvimento, privatiza setores da Petrobras, incluindo o pré-sal, cortando juntamente os recursos que iriam para a Educação e a Saúde.

Instala-se um governo que nega o passado recente e castra o futuro do país pelas políticas de ajuste, que buscam restringir o país às dimensões do mercado e, em particular, subordina a economia brasileira aos interesses do capital especulativo. Nega-se o futuro do país, que é projetado como uma trajetória depressiva, com corte drástico de recursos para as políticas sociais, com a perpetuação da recessão econômica, do desemprego, da pobreza e da desigualdade social.

Pelas mãos desses exterminadores do futuro, o Brasil voltaria a ser o modelo de desigualdade no mundo, retornaria ao Mapa da Fome e ao FMI. As políticas governamentais voltariam a ser ameaças para a grande maioria dos brasileiros e benesses para os bancos e para o grande empresariado nacional e internacional.

A medida exemplar do extermínio do futuro é aquela que desvincula os recursos para Saúde e Educação, definidos pela Constituição, para deixá-las ao sabor do desempenho de uma economia que, sabidamente por essa política econômica, terá desempenho pífio. Faz o mesmo com o salário dos servidores públicos. Em suma, projeta um futuro sempre pior que o presente.

A redefinição dos termos da aposentadoria é outra forma de projetar sombras sobre o futuro do país. Não apenas porque propõe idade de aposentadoria maior do que a expectativa de vida média dos brasileiros, mas porque propõe que a idade de aposentadoria seja igual para homens e mulheres.

A privatização do pré-sal é o exemplo claro desse extermínio do futuro. Abandonaríamos a perspectiva da autonomia energética, da exportação de petróleo e, principalmente, do passaporte para o futuro que os recursos substanciais para a educação e a saúde representariam para o pais.

Além de tudo, o golpismo desmoraliza a democracia, demonstra que é possível, num marco legal, com a benevolência cúmplice do Judiciário, derrubar uma presidente eleita pelo voto popular, sem nenhuma acusação que o justifique, aplicar o programa derrotado nas eleições e colocar em prática medidas de retrocesso econômico, social, politico e cultural, impunemente.

É o sonho da direita: um sistema politico blindado ao acesso a alternativas populares ancorado em um parlamentarismo de fato ou de direito, no financiamento privado de campanhas, no voto opcional e na inviabilização da candidatura do Lula.

Seria condenar definitivamente o Brasil àquele país do futuro sem futuro, de um futuro hipotético, que nunca chega. A pior alternativa para o Brasil é aquela que expropria a esperança do horizonte dos brasileiros. A isso se dedica o governo golpista. Falta combinar com o povo brasileiro, aquele da profissão esperança.


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