KÁTIA ABREU DENUNCIA O GRANDE JOGO DE
INTERESSES PEQUENOS NO SENADO
Em artigo publicado neste sábado, a
senadora Kátia Abreu (PMDB/TO) atribui o golpe parlamentar de 2016 ao balcão de
negócios aberto pelo interino Michel Temer na Câmara e no Senado e, mais uma
vez, reforça não haver crime de responsabilidade cometido pela presidente Dilma
Rousseff.
Leia abaixo:
GRANDE
JOGO DE INTERESSES PEQUENOS
A esta altura, depois de toda a apuração
e de longas discussões, não se pode aceitar que Dilma Rousseff tenha cometido
crime de responsabilidade e, portanto, que o processo de impeachment deva
resultar no seu afastamento. A história é outra.
Quem se dedicar a analisar os
indicadores econômicos dos últimos anos vai perceber que vivemos uma redução da
atividade econômica, em muito influenciada por fatores externos. Queda dos
preços das commodities, mudança da política monetária dos Estados Unidos e
desaceleração da economia chinesa estão entre os principais.
Diante desse cenário adverso, buscando
minimizar seus impactos para a população, o governo lançou mão de medidas de
estímulo. Esse movimento teve sucesso e preservou avanços sociais.
Passado o momento mais agudo da crise,
tornou-se necessário por em prática outro rol de medidas, mais estruturantes,
para garantir maior solidez fiscal.
No final de 2015, o governo enviou à
Câmara dos Deputados medidas legislativas necessárias à recuperação da saúde
fiscal do país. Enfrentou enorme resistência. Além de impedir a votação de
projetos fundamentais, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, utilizou as
tais pautas-bombas como elemento de terrorismo político para desestabilizar o
governo.
Estava desenhado o cenário ideal para a
proposta de impeachment. O discurso de que houve crime de responsabilidade em
atos de gestão foi o disfarce encontrado para uma articulação política da pior
espécie, que se aproveitou da queda de popularidade da presidente para tentar
derrubá-la. Um grande jogo de interesses pequenos.
Essa manobra foi desmascarada quando, um
a um, os falsos argumentos dos defensores do afastamento foram sendo
destruídos. Em 27 de junho, a perícia elaborada por técnicos do Senado não
identificou ação da presidente na decisão de atrasar os pagamentos a bancos
públicos de subsídios do Plano Safra. Ou seja, não houve pedalada.
Menos de um mês depois, o Ministério
Público Federal em Brasília pediu à Justiça Federal o arquivamento da
investigação aberta para apurar se houve crime de responsabilidade em operações
financeiras do governo. O procurador Ivan Cláudio Marx concluiu que não houve
operação de crédito sem autorização legislativa. Mais uma vez: não houve
pedalada.
Restou aos arquitetos do afastamento a
via da política. Todo impeachment é um ato político que não pode prescindir de
uma causa jurídica. Estivéssemos nós em um regime parlamentarista, bastaria um
voto de desconfiança. Não é nosso caso, entretanto.
Não podemos ser ingênuos. Não havendo
provas do crime do qual acusam a presidente, ela não pode ser afastada de um
cargo no qual foi posta pela maioria dos brasileiros. A política não deve
servir a isso.
Não podemos também, sob hipótese alguma,
ceder ao bordão fácil de que a presidente foi leniente com a corrupção. A
Operação Lava-Jato teve início em 2014 - no governo Dilma, portanto - e, quanto
mais se aprofunda no submundo da política brasileira, mais fica claro que a
corrupção não tem horizonte temporal definido nem se cinge a um determinado
partido. Infelizmente.
O Senado Federal tem agora a missão de
se manifestar sobre o afastamento definitivo da presidente. Espero que meus
colegas avaliem com muito cuidado o precedente que estarão abrindo se
permitirem que isso aconteça.
Nelson Rodrigues disse que, muitas
vezes, é a falta de caráter que decide uma partida, que não se fazem
literatura, política e futebol com bons sentimentos. Quero, ao fim desse
processo, e no que tange à política, ter razões para discordar dele.
www.brasil247.com.br 20/08/2016
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