quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O DECLÍNIO DA ECONOMIA DOS ESTADOS UNIDOS

O declínio da economia dos Estados Unidos

Qual o verdadeiro estado da economia dos EUA? A questão não é propriamente de somenos para os norte-americanos, nas vésperas das eleições presidenciais de 8 de novembro.

Luís Carapinha

Para o mundo também não, pelas piores razões; os Estados Unidos funcionam como motor do sistema capitalista mundial e o centro da arquitetura financeira internacional, da globalização imperialista, com todo o grau de perversidade conhecido. Não é por acaso que o rastilho da grande recessão mundial de 2007/8 foi a explosão da bolha imobiliária dos títulos de crédito hipotecário de subprimes nos EUA. Toda a crescente turbulência social e política observada nos EUA remete para o agravamento da sua condição econômica e o exponencial de contradições e desequilíbrios intrínsecos. Um quadro típico de estagnação avançada que o cartel de economistas e comentadores da mídia dominante por esse mundo teima, no essencial, em não ver, apontando as lentes grossas para indicadores superficiais e a análise acessória que confirmam a pujança da recuperação da economia do Tio Sam. Mas que o circo decadente da presente campanha eleitoral entre Clinton e Trump, rebaixando todos os limites do logro, sordidez e frivolidade da tradicional política-espetáculo dos EUA, vem involuntariamente confirmar.

De fato, desde a II Guerra Mundial, nunca o crescimento do PIB dos EUA foi tão rastejante como agora, confirmando uma trajetória de décadas de declínio econômico relativo da superpotência imperialista. O astronômico endividamento continua em progressão insustentável. Os EUA são de longe o maior país devedor do mundo. O déficit anual médio da balança comercial norte-americana nos últimos anos supera a dimensão econômica de vários países que integram o G20 juntos. E se a produtividade do trabalho continua inquietantemente a degradar-se, o investimento público desceu para os patamares mais baixos desde os finais dos anos 40. No plano social, as desigualdades atingem níveis iníquos e a pobreza permanece acima dos valores de 2008. A taxa de desemprego oficial, em redor dos 5%, reflete mais a massificação da precariedade e a manipulação estatística pela via da eliminação do exército de desempregados que desiste de buscar emprego do que a recuperação deste. É cada vez mais notório o choque entre os interesses do grande capital e da finança dos EUA, do sistema de poder alicerçado no complexo financeiro-militar-industrial, e as aspirações e direitos dos trabalhadores e povo norte-americanos e as exigências de desenvolvimento econômico sustentável.

Simultaneamente, a degradação econômica dos EUA é intrinsicamente associado ao aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, bem patente na quebra sincrônica que atinge as potências da tríade imperialista. O peso econômico dos países do G7 continua a diminuir, contando já menos de 50% do PIB mundial. No cômputo geral, os lucros corporativos na esfera produtiva continuam retraindo; o investimento mantém-se em níveis criticamente baixos; a dívida pública, sobretudo a dívida privada, eleva-se a níveis estratosféricos; e a banca infla saturada de ativos tóxicos. O comércio mundial continua em rápida desaceleração. Face à ameaça de um novo e mais agudo pico da crise estrutural crescem não só a agressividade e rapina imperialistas, mas também o frenesi das disputas interimperialistas: o maior banco alemão é apontado pelo FMI como o maior risco sistêmico para a banca mundial, sendo sancionado com uma supermulta pelos EUA. Aliás, os últimos dados mostram que os colossos da banca dos EUA continuam a ganhar terreno com relação aos seus congêneres europeus.

Nada disto é fundamentalmente novo na história, exceto, talvez, o grau qualitativo da estagnação imperialista. A fuga para frente da financeirização toca os seus limites. No labirinto da crise, avultam os perigos para a humanidade. Mas não se deve perder a perspectiva. Há cem anos Lenin insistia: o apogeu do imperialismo é a antecâmara do socialismo.


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