Muros da
intolerância, pontes de solidariedade
Flávio Dino*
Todos estamos destinados a viver em
sociedade, compartilhando os mesmos bens que a Natureza nos oferece. E também
comungando os mesmos desafios humanos: doenças, desemprego, desigualdade, injustiças.
Portanto, temos o dever de encontrar soluções coletivas que melhorem o nível de
vida de todos, garantindo um futuro de mais oportunidades a nós mesmos e às
gerações futuras.
No entanto, vivemos um momento da
história em que alguns falsos profetas vendem a possibilidade de saídas
individualistas. Soluções que contemplem apenas parte da sociedade apta a 'se
virar sozinha', deixando à míngua a imensa maioria da sociedade, que não tem o
mesmo ponto de partida em oportunidades. São profetas que semeiam em meio a um
momento de desilusão da sociedade. Desânimo justificado pela imensidão de
desafios coletivos que ainda temos a enfrentar. No entanto, essa pregação não
busca nenhuma verdadeira salvação para todos. Apenas quer solidificar seus
castelos de prosperidade, jardins cercados que isolam a maioria da sociedade
para fora de muros.
Esses aventureiros sempre existiram na
história, mas nunca com resultados exitosos. E ao longo dos tempos já vestiram
várias roupas: o ditador carismático, o gestor técnico, o antipolítico, o
soldado da lei, entre outros disfarces que os defensores de privilégios
costumam usar.
O Papa Francisco, esta semana, nos
lembrou que, "em momentos de crise, o discernimento não funciona". E
buscamos "um salvador que nos devolva a identidade e defenda-nos com
arames farpados". Penso nessas palavras do Santo Padre quando vejo a
notícia do absurdo projeto de construção de um muro na fronteira dos Estados
Unidos com o México. Como se isolando uns cidadãos de outros, a vida destes pudesse
prosperar mais. Ideia em consonância com a recente saída do Reino Unido da
União Europeia, que mostra certo espírito de época, com o crescimento aqui e
ali de posições de cunho fascista.
No Brasil, não é diferente e também
vivemos um momento semelhante. As instituições estão com sua credibilidade
destroçada, enquanto empresas e empregos desaparecem, a fim de atender altos
interesses econômicos. Vemos uma minoria que pensa ser possível evoluirmos sem
um debate democrático sobre nosso futuro. E convivemos com ´especialistas´ que
acham que o Brasil pode resolver a grave crise econômica que vive com um
'salve-se quem puder', deixando à própria sorte milhões de brasileiros.
Tudo isso tem alimentado ódio, muito
ódio, que grita nas caixas de comentários de sites ou nas redes sociais.
Felizmente, essas pulsões autoritárias e
egoístas têm sido efêmeras. Perseveraram na história da Humanidade os grandes
avanços sociais de períodos em que se apostou na solidariedade. É o caso da Era
de Ouro do pós-guerra, em que foram criados e multiplicados muitos instrumentos
sociais de solidariedade existentes hoje, como a Previdência Social e os
sistemas públicos de saúde.
Não tenho dúvida de que o Brasil vai
reencontrar seu caminho de desenvolvimento e paz. E no Maranhão seguimos a
nossa luta com muita fé e otimismo, pois os resultados aí estão. Adultos sendo
alfabetizados; crianças e jovens estudando em escolas melhores e recebendo
material escolar via Bolsa Escola; restaurantes populares sendo abertos; mais
portas se abrindo na saúde; agricultores familiares recebendo inédito apoio,
entre tantas conquistas derivadas de uma firme e autêntica opção pela Justiça
Social.
Por isso, tenho convicção de que vamos
atravessar esses tempos sombrios no planeta. Servirão para tornar mais profundo
na memória coletiva o valor milenar do humanismo.
Lembro novamente do Papa Francisco
alertando sobre os falsos profetas que, "diante da necessidade da
multidão", pregam "o cada um por si". O papa lembra que o
princípio cristão, como o de outras religiões, é o da solidariedade. Tanto que
um dos últimos ensinamentos de Jesus, na Santa Ceia, foi "Fazei isto em
memória de mim" (Coríntios 11:24). Indicando que a melhor forma de
vivenciá-Lo é comungar, partilhar, solidarizar-se.
Que assim seja.
* Governador do Maranhão
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