segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

PROGRAMA DO GOLPE FRACASSOU, MAS FALTA A SAÍDA ANTES DE 2018

Programa do golpe fracassou, mas falta a saída antes de 2018

Tereza Cruvinel


A semana que se encerra foi pródiga em sinais de que o programa do golpe de 2016 fracassou, embora Temer e sua coalizão continuem governando.

Os sinais vieram da economia, da Lava-Jato, das pesquisas, da vida real e do mundo simbólico, a exemplo do que houve na sexta-feira 17 na entrega do prêmio Camões: uma das maiores estrelas de nossa literatura denunciou o golpe e suas degenerações autoritárias. Foi desancado pelo ministro da Cultura.

O plano golpista fracassou, mas o país ainda não encontrou uma saída.

Se ela não vier antes de 2018, a resposta virá das urnas, mas a terra estará mais arrasada e a restauração terá custo maior.

Na economia, a divulgação, pelo próprio Banco Central do Brasil, de um índice prévio que aponta para uma queda do PIB de 2016 da ordem de 4,55% negativos é a coroação do fracasso. Na esteira deste mergulho recessivo, vêm o desemprego, a contração na renda e na massa salarial, a corrosão da qualidade de vida dos que trabalham.
A promessa de colocar o país nos trilhos foi um engodo.

Venderam a ideia de que, removendo Dilma e o PT do governo, os agentes econômicos imediatamente receberiam uma visita do espírito santo da confiança.

E tudo começaria a correr bem.

Deu-se o contrário.

A ilegitimidade do governo, sua vulgaridade e seu cinismo sugerem cautela, pé atrás e desconfiança.

No campo ético-político o projeto do golpe também fracassa, apesar de todos os esforços para "estancar a sangria" da Lava-Jato, como a indicação de Alexandre de Moraes para o STF e a blindagem de Moreira Franco.

Lá de Curitiba Eduardo Cunha avisa, ao apresentar novas 21 perguntas capciosas a Temer, que está no limite.

Ou o tiram de lá, ou vai delatar.

Setores do Supremo ensaiam prestar mais este favor ao governo.

Mais manobras, entretanto, só farão aumentar a percepção do povo, de que a promessa de moralização foi outro embuste, um estelionato político sem eleições. Tomaram o governo para poder manobrar e livrar a cara de todos.

A pesquisa MDA-CNT também trouxe avisos claríssimos do fracasso do golpe. A rejeição a Temer subiu para 62% e a aprovação caiu para 10%. E na sondagem para a eleição presidencial, Lula apareceu com a maior preferência em todos os cenários. Alcança 30% no primeiro turno se o candidato tucano for Aécio Neves, e 31%, se for Alckmin.

Os dois tucanos perderam musculatura eleitoral. Marina Silva e o ultra-direitista Bolsonaro disputam o segundo lugar.

O que significa a ressurreição de Lula com 30% - depois de toda a perseguição judicial que vem sofrendo, depois da demonização do PT e apesar da ladainha diária da mídia e da oposição, culpando os governos petistas pelo descalabro econômico – senão o fracasso do golpe em seu objetivo mais estratégico, que não era derrubar Dilma, mas, principalmente, evitar uma volta de Lula e mandar o PT para um longo degredo na oposição.

Que saída pode haver antes de 2018?

Se Cunha delatar Temer, teremos um escândalo, mas não uma solução. O presidente da República não pode ser processado por atos estranhos (ou anteriores) ao exercício do mandato. Resta o TSE, se houver a cassação da chapa Dilma-Temer num julgamento que o ministro Gilmar Mendes vai retardar ao máximo. Se os que resistiram e os que se desiludiram com o golpe se juntarem para ir às ruas, como fizeram os que pediram o impeachment de Dilma, podemos ter o cenário para uma saída antecipada.

Fora disso, o país vai sangrar até 2018, até que venha a resposta eleitoral que começa a tomar forma.


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