Programa do
golpe fracassou, mas falta a saída antes de 2018
Tereza Cruvinel
A semana que se encerra foi pródiga em
sinais de que o programa do golpe de 2016 fracassou, embora Temer e sua
coalizão continuem governando.
Os sinais vieram da economia, da
Lava-Jato, das pesquisas, da vida real e do mundo simbólico, a exemplo do que
houve na sexta-feira 17 na entrega do prêmio Camões: uma das maiores estrelas
de nossa literatura denunciou o golpe e suas degenerações autoritárias. Foi
desancado pelo ministro da Cultura.
O plano golpista fracassou, mas o país
ainda não encontrou uma saída.
Se ela não vier antes de 2018, a
resposta virá das urnas, mas a terra estará mais arrasada e a restauração terá
custo maior.
Na economia, a divulgação, pelo próprio Banco
Central do Brasil, de um índice prévio que aponta para uma queda do PIB de 2016
da ordem de 4,55% negativos é a coroação do fracasso. Na esteira deste mergulho
recessivo, vêm o desemprego, a contração na renda e na massa salarial, a
corrosão da qualidade de vida dos que trabalham.
A promessa de colocar o país nos trilhos
foi um engodo.
Venderam a ideia de que, removendo Dilma
e o PT do governo, os agentes econômicos imediatamente receberiam uma visita do
espírito santo da confiança.
E tudo começaria a correr bem.
Deu-se o contrário.
A ilegitimidade do governo, sua
vulgaridade e seu cinismo sugerem cautela, pé atrás e desconfiança.
No campo ético-político o projeto do
golpe também fracassa, apesar de todos os esforços para "estancar a sangria"
da Lava-Jato, como a indicação de Alexandre de Moraes para o STF e a blindagem
de Moreira Franco.
Lá de Curitiba Eduardo Cunha avisa, ao
apresentar novas 21 perguntas capciosas a Temer, que está no limite.
Ou o tiram de lá, ou vai delatar.
Setores do Supremo ensaiam prestar mais
este favor ao governo.
Mais manobras, entretanto, só farão
aumentar a percepção do povo, de que a promessa de moralização foi outro
embuste, um estelionato político sem eleições. Tomaram o governo para poder manobrar
e livrar a cara de todos.
A pesquisa MDA-CNT também trouxe avisos
claríssimos do fracasso do golpe. A rejeição a Temer subiu para 62% e a
aprovação caiu para 10%. E na sondagem para a eleição presidencial, Lula
apareceu com a maior preferência em todos os cenários. Alcança 30% no primeiro
turno se o candidato tucano for Aécio Neves, e 31%, se for Alckmin.
Os dois tucanos perderam musculatura
eleitoral. Marina Silva e o ultra-direitista Bolsonaro disputam o segundo
lugar.
O que significa a ressurreição de Lula
com 30% - depois de toda a perseguição judicial que vem sofrendo, depois da
demonização do PT e apesar da ladainha diária da mídia e da oposição, culpando
os governos petistas pelo descalabro econômico – senão o fracasso do golpe em
seu objetivo mais estratégico, que não era derrubar Dilma, mas, principalmente,
evitar uma volta de Lula e mandar o PT para um longo degredo na oposição.
Que saída pode haver antes de 2018?
Se Cunha delatar Temer, teremos um
escândalo, mas não uma solução. O presidente da República não pode ser
processado por atos estranhos (ou anteriores) ao exercício do mandato. Resta o
TSE, se houver a cassação da chapa Dilma-Temer num julgamento que o ministro
Gilmar Mendes vai retardar ao máximo. Se os que resistiram e os que se desiludiram
com o golpe se juntarem para ir às ruas, como fizeram os que pediram o
impeachment de Dilma, podemos ter o cenário para uma saída antecipada.
Fora disso, o país vai sangrar até 2018,
até que venha a resposta eleitoral que começa a tomar forma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário