segunda-feira, 15 de maio de 2017

FAZER COM OS GOLPISTAS O QUE LULA FEZ COM MORO

Fazer com os golpistas o que Lula fez com Moro

Emir Sader


O golpe montou um cerco em torno da esquerda e do movimento popular. O cerco do preconceito monstruosamente forjado pela velha mídia, o cerco institucional pela judicialização da política, o cerco político pela ofensiva antipopular da maioria direitista no Congresso – montaram um dique de contenção contra os interesses populares, que precisa ser desmontado.

Lula fez algo similar com Moro no depoimento do dia 10, fazendo com que o feitiço virasse contra o feiticeiro. As perguntas de Lula foram sumamente incômodas para Moro.

Lula retomou a iniciativa, desmontou as acusações contra ele, deixou Moro sem ação, sem nem sequer o poder de interromper o Lula.

Antes de tudo, portanto, como fez Lula com Moro, responder a tudo, esclarece a tudo, com exaustão, porque a razão que temos é o nosso argumento mais forte. O convencimento, a persuasão, a consciência dos problemas e das soluções é o instrumento decisivo para darmos volta à situação politica do país.
O movimento popular está na defensiva desde a ofensiva que levou ao golpe.

O governo passou a ditar a agenda, a tomar iniciativas, valendo-se da sua enorme maioria parlamentar e do poder da velha mídia, para deslocar a pauta para seus projetos de desmonte de tudo o que foi construído desde 2003.

Mesmo isolado e desgastado, o governo tem a iniciativa, porque pode contar com o beneplácito da mídia e com maioria no Congresso. Enquanto contar com isso, pode sobreviver e prestar serviços à direita e ao capital financeiro.

Precisamos sair do cerco e passar a cercar o governo.

As mobilizações convocadas para Brasília podem ser o momento de virada da situação estratégica da defensiva para a de ofensiva, pelo menos para promover um empate estratégico com o governo.

Atacar no cenário decisivo e simbólico.

A reforma da Previdência tornou-se o embate de virada. Valer-nos da vitória que temos na opinião pública com dados arrasadores contra a iniciativa do governo – e a própria declaração do Michel Temer de que a aprovação da reforma da Previdência não é decisiva, ao contrario do que afirma Meirelles todos os dias – para levar o governo à sua primeira grande derrota politica, é o caminho.

Uma derrota que tem se configurado não apenas nas concessões que o governo tem feito, mas principalmente nos adiamentos que tem promovido, forma típica de recuo desse governo fraco e covarde.

Temos que cortar a capacidade de ação do governo, que residiu na certeza do apoio da velha mídia e da maioria no Congresso.

Que ele tenha cada vez menos certeza nesses dois instrumentos de apoio, principalmente em que pode aprovar seus projetos, mesmo quando passou a ser reprovado na opinião pública.

Precisamos amputar a capacidade de iniciativa do governo, reduzi-lo à impotência, cercado pelo movimento popular, condenado pela opinião publica, contando cada vez com menos apoio parlamentar e político, criticado cada vez mais pela velha mídia.

Estamos, depois da greve geral e das manifestações de Curitiba, em um momento de virada na correlação de forças entre a oposição e o governo, entre as forcas democráticas e as forcas golpistas.

Precisamos consubstanciar isso em iniciativas politicas nossas, diante das quais o governo e a mídia tenham que se pronunciar, recuperando a iniciativa por parte do campo popular.

A reivindicação das diretas já é um tema, mas podemos fazê-la acompanhar da criação de um consenso da necessidade de convocação de uma Assembleia Constituinte, para reformar o sistema politico.
Podemos apresentar propostas no Congresso, lutar para colocar em pauta esse tema essencial, que nos faz recuperar iniciativa na grande agenda nacional, provocar a que os outros tenham que e pronunciar sobre ela.

Podemos também manter a iniciativa no plano das mobilizações de massa, nas quais a defesa do Lula – como se viu em Curitiba – é uma reivindicação que unifica a todos os movimentos populares, porque se identifica com a restauração da democracia.

O lançamento da pré-candidatura do Lula no Congresso Nacional do PT pode ser o marco para grandes atividades de discussão e proposição das plataformas que deve ter um novo governo de esquerda no Brasil.

Precisamos repor a centralidade da questão social – da desigualdade, da pobreza, da exclusão social –, condição das nossas vitórias eleitorais, que se perdendo, conforme a direita foi impondo a centralidade da questão da corrupção no Brasil.

Assim como precisamos recuperar a confiança na potencialidade do Brasil – que o Lula tanto realça -, que a direita foi debilitando, desmontando o modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, recuperar o prestígio do Estado, como prestador de serviços à população, mas também como comando da retomada do projeto estratégico do Brasil como potência democrática, econômica e social.

O Brasil vai decidir daqui até o fim de 2018, no espaço curto de 18 meses – DEZOITO! - o seu futuro, projetado em toda a primeira metade do século.

Ou a direita tem força para dar outro golpe e se consolidar no poder ou as forças democráticas e populares conseguem retomar o governo e realizar as profundas transformações que o país requer e desenhar um Brasil democrático, solidário, soberano, com o que aprendemos a sonhar com o Lula.

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