Cuidado:
Estado!
(Ernesto
Germano)
Ao acompanhar a atual crise brasileira e todos os
golpes que o patronato é capaz de perpetrar, não podemos deixar de pensar no
papel do Estado. Afinal de contas, o que sabemos sobre esse “ser” imaterial que
dita os destinos da sociedade?
Para começo de conversa, vamos lembrar que a origem da
palavra “Estado” vem do latim, “status” que significa “posição favorável na
sociedade”. Ou seja, em sua origem já mostra que representa uma estratificação
social e isso fica ainda mais claro quando lembramos que o primeiro a usar a
palavra no sentido que agora conhecemos foi Maquiavel, na sua obra “O
Príncipe”.
Os pensadores que o sucederam tentam explicar a
existência do Estado dizendo que se trata de um “contrato” entre os integrantes
da sociedade. Diziam esses “contratualistas” que, na medida em que os grupos humanos
iam crescendo, os conflitos e a desordem iam se ampliando e surge, dessa forma,
a necessidade de criar normas mais complexas que possibilitassem o convívio.
Esse pensamento passa por Hobbes e John Lock, mas tem seu ponto alto no
trabalho e Rousseau: “O contrato social”.
Para Hobbes, os homens não vivem em cooperação natural,
como abelhas ou formigas, e apenas convivem em sociedade quando trata-se de
preservar a própria vida. Para Hegel, um dos maiores pensadores alemães e de
quem Marx foi discípulo, “o homem é essencialmente egoísta” e daí a
“necessidade racional” de um Estado que vai estabilizar a sociedade.
Mesmo sendo um discípulo de Hegel, Marx vai contestar
essa visão através do seu trabalho “Crítica à filosofia do direito de Hegel”,
publicado em 1843. Ali ele vai começar sua demonstração sobre o papel do Estado
para garantir a dominação de classes na sociedade. É o seu primeiro passo no
sentido de mostrar que “toda classe que aspira a dominação (...), deve
conquistar primeiro o poder político, para apresentar seu interesse como
interesse geral (...)” (1). Ou seja, o Estado é a forma como uma classe
justifica sua dominação sobre outra, dizendo que seu interesse é o interesse da
coletividade.
Marx e Engels voltam a debater o Estado em várias
outras obras, mas é depois da morte do companheiro que Engels vai escrever “A
origem da família, da propriedade privada e do Estado”. E é nesse trabalho que apresenta
a forma mais elaborada que os dois desenvolveram. “O Estado não é pois, de modo
algum, um poder que se impôs à sociedade de fora para dentro; tampouco é ‘a
realidade da ideia moral’, nem ‘a imagem e a realidade da razão’, como afirma
Hegel. É antes um produto da sociedade, quando esta chega a um determinado grau
de desenvolvimento; é a confissão de que essa sociedade se enredou numa
irremediável contradição com ela própria e está dividida por antagonismos
irreconciliáveis que não consegue conjurar. Mas para que esses antagonismos,
essas classes com interesses econômicos colidentes não se devorem e não
consumam a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado
aparentemente por cima da sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo
dentro dos limites da ‘ordem’. Este poder, nascido da sociedade, mas posto
acima dela se distanciando cada vez mais, é o Estado”.
Para garantir a dominação da classe que representa, o
Estado precisa convencer o conjunto da sociedade de que essa dominação é
“justa”. Para isso lança mão do “convencimento”, ou seja, tenta convencer a
sociedade que seu poder é legítimo e que é exercido para o bem de todos! E,
para impor essa visão, lança mão de dois instrumentos: as leis e as forças
militares!
Tenta nos convencer que as leis são feitas por
representantes de todos, em benefício de todos e para serem cumpridas por
todos. Mas, se isso falhar, tem meios para exigir o cumprimento dessas leis: o
aparato policial e militar!
Marx dizia que, para exercer essa dominação, a classe
no poder precisa manter uma estrutura jurídica/política/institucional que
garanta a perpetuação do Estado de classe.
O Brasil vive agora exatamente uma demonstração dessa
farsa chamada Estado! Para se perpetuar no poder, o patronato vai lançando mão
de cada um dos instrumentos descritos por Marx e Engels. Através dos meios
ideológicos (mídia em geral e sistema educacional) tenta nos provar que o
Estado que aí está é legítimo, ainda que haja algumas divergências entre eles
(os patrões). Faz a máquina funcionar a seu favor.
A questão de fundo não é manter ou não o governo Temer,
mas manter o patronato, a elite financeira e toda a estrutura de dominação como
descrito por Marx. É preciso que essa “coisa” chamada democracia continue
aparecendo para o grande público como legítima; é preciso manter os poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário) sob total controle para realizar as reformas
previstas pelo modelo neoliberal.
Não importa o nome que venha a ocupar o cargo para
deleite do patronato: Temer, Carmen Lúcia, Rodrigo Maia, Meirelles, Joaquim
Barbosa ou qualquer outro. O que interessa é manter a agenda econômica já
traçada em benefício do “deus” mercado. E estamos assistindo a uma clara
demonstração que estão muito bem afinados, contra os trabalhadores. Ou, como escreve
Antônio Augusto de Queiroz, diretor do DIAP, “O Poder Executivo cuida do ajuste
fiscal, voltado ao corte de direitos; o Legislativo, dos marcos regulatórios,
destinados a retirar o Estado da prestação de serviços e da exploração da
atividade econômica; e o Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal
(STF), da desregulamentação ou flexibilização dos direitos trabalhistas” e, é
claro, todos juntos para manter a aparência de um Estado legítimo.
(1) “A ideologia alemã” – escrito com Engels, em 1845/1846
• Resultado esperado!
Na noite de sexta-feira, minutos depois de anunciada a decisão do TSE, o ilegítimo
Temer não perdeu tempo para confirmar que não há surpresas quando a elite está
em condições de se manter no poder. Em declaração oficial no Palácio do
Planalto, Alexandre Parola, porta-voz oficial da Presidência da República,
disse que “O presidente da República recebeu a decisão do TSE como um sinal de
que as instituições nacionais continuam garantindo o bom funcionamento da
democracia brasileira”!
Mais claro do que isso seria impossível. Basta
consultar a ata do julgamento e verificar que Gilmar Mendes, o juiz que viaja
de jatinho junto com o acusado, usou como argumento para absolver Temer que seu
voto “é em respeito à soberania e estabilidade do país”. E Alexandre Parola
completou a farsa ao dizer que “O poder Judiciário se manifestou de maneira
independente; cada um de nós acatará com sobriedade, humildade e respeito a
decisão do TSE”.
• Na onda da vitória!
Os advogados de Michel Temer comunicaram oficialmente que ele se recusa a responder
às perguntas encaminhadas por escrito pela Polícia Federal. Junto com o
comunicado, pedem o arquivamento de todo o processo no STF!
Sobre o inquérito aberto depois das denúncias de
corrupção e as gravações com os donos da JBS, dizem os advogados: “O presidente
e cidadão Michel Temer é alvo de uma série de abusos e agressões a seus
direitos individuais e a sua condição de mandatário da Nação”, pelo que decidiu
“não responder ao questionário com 82 perguntas” que a Polícia Federal
encaminhou.
• Greve Geral – 30 de junho! As lideranças das centrais sindicais brasileiras reuniram-se na
segunda-feira (5), na sede regional da Nova Central Sindical de Trabalhadores
(NCST), em São Paulo, e confirmaram a convocação dos trabalhadores para nova
greve geral. A data marcada é 30 de junho, última sexta-feira do mês.
As entidades sindicais também conclamam a população
para um dia de mobilização nacional, um “esquenta greve geral”, para dia 20 de
junho. Segundo os dirigentes sindicais, as centrais “irão colocar força total
na mobilização da greve em defesa dos direitos sociais e trabalhistas, contra
as reformas trabalhista e previdenciária e pelo fora temer”.
“A ideia é manter o foco contra as reformas defendidas
pelo governo, para continuar alertando os trabalhadores e trabalhadoras sobre
os riscos que corremos de perda de direitos trabalhistas, culminando numa nova
greve geral ao fim do mês de junho”, afirma José Calixto Ramos, presidente da
NCST.
Participaram da reunião a Nova Central Sindical de
Trabalhadores (NCST), Força Sindical (Força), Central Única dos Trabalhadores
(CUT), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB),
Central Sindical e Popular (Conlutas) e Central Geral dos Trabalhadores do
Brasil (CGTB), Intersindical - Central da Classe Trabalhadora e A Pública -
Central do Servidor.
• Os empregos estão desaparecendo. A parcela da força de trabalho brasileira com alguma
ocupação chegou neste ano ao mais baixo patamar em mais de duas décadas.
Nem nas sucessivas crises dos anos 1990, nem durante a
turbulência que levou o país pela última vez ao FMI (em 2002), tampouco durante
os efeitos da crise financeira global de 2009, o nível de ocupação não tinha
sido tão baixo como na recessão atual.
Os economistas Bruno Ottoni e Tiago Barreira, da FGV,
reconstruíram a série de mercado de trabalho até 1992, permitindo comparar os
dados atuais com os dos últimos 25 anos. E o resultado imediato na análise dessa
base de dados é que a destruição de empregos é mais severa na crise atual.
O emprego com carteira assinada, herança dos governos
do PT, respondeu por metade das ocupações, embora a crise atual tenha reduzido
sua vantagem. No passado, a informalidade era maior e, com isso, patrões
ajustavam perdas de produção e vendas oferecendo salários mais baixos, sem
necessariamente mandar o empregado embora. Ou seja, agora ficou fácil entender
a preocupação do governo golpista em destruir a legislação do trabalho e os
direitos sindicais.
• Reforma trabalhista avança no Senado. Depois de horas de discussão e protestos da oposição a
vários pontos contidos no relatório, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Senado aprovou, na terça-feira (06), pelo placar de 14 a 11, sem alterações o
texto da reforma trabalhista conforme o relatório do senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES). Após a aprovação do parecer de Ferraço, os membros da comissão
analisaram quatro destaques – que são propostas de modificações pontuais ao
texto –, mas todos foram rejeitados.
O relatório de Ferraço foi pela aprovação do projeto
assim como foi votado na Câmara dos Deputados, sem alterações. O senador
ressaltou, em seu texto de justificativa, o acordo firmado com o presidente
Michel Temer para que ele vete seis pontos da reforma inseridos pelos
deputados. Assim, acredita ele, a matéria poderá ser aprovada no Senado sem
precisar retornar para a Câmara.
Pelo acordo com o governo serão vetados, no futuro,
seis pontos da reforma. Um deles é a permissão para que gestantes e lactantes
permaneçam trabalhando em locais insalubres – o texto da Câmara prevê que elas
só serão afastadas automaticamente se a insalubridade for em grau máximo. O
relator também indicou para veto a retirada da obrigatoriedade, prevista em
lei, de que as mulheres façam 15 minutos de descanso antes de iniciarem jornada
de hora-extra.
• OIT vai analisar medidas contra os trabalhadores brasileiros. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou
em nota divulgada na sexta-feira (09) que solicitou ao governo brasileiro mais
informações sobre as denúncias de violação à negociação coletiva. O direito é
garantido nas Convenções 98, 151 e 154 e seria atingido pelas propostas presentes
na reforma trabalhista.
A denúncia foi apresentada pela CUT e as outras cinco
centrais sindicais reconhecidas no país (CSB, CTB, Força Sindical, UGT e Nova
Central) durante a 106ª Conferência Internacional do Trabalho da OIT, que acontece
em Genebra.
A organização ressalta ainda que o Comitê de Peritos
que se debruça sobre os casos incluídos na ‘lista longa’ da entidade continuará
examinando a aplicação das convenções em matéria de negociação coletiva ratificadas
pelo Brasil.
A nota diz que “O Comitê de Peritos para a Aplicação
das Convenções e das Recomendações, com relação ao caso do Brasil, fez, dentre
outras observações, a seguinte: ‘A esse respeito, o Comitê recorda que o
objetivo geral das Convenções 98, 151 e 154 é a promoção da negociação coletiva
para encontrar um acordo sobre termos e condições de trabalho que sejam ainda
mais favoráveis que os previstos na legislação’. O Comitê também solicitou ao
Governo que proporcione informações sobre qualquer evolução a respeito”. E a
nota termina dizendo que “É fundamental ressaltar que o Comitê de Peritos
continuará examinando a aplicação das Convenções em matéria de negociação coletiva
ratificadas pelo Brasil”.
• Confiar na direita?
O acordo de cessar fogo e as hostilidades entre a guerrilha e o governo
colombiano foi recebido no mundo inteiro com um sentimento de alívio e
esperança de que houvesse mais liberdade política naquele país, mas não parece
ser o que estamos vendo.
Na noite do dia 31 de maio, no município de Puerto
Rico, Caquetá, foi assassinado o ex-guerrilheiro das FARC-EP, Rulber Santana,
que havia sido liberado há poucos dias do cárcere de Cunduy. Seu corpo foi encontrado
na estrada com dois tiros.
Agora já são três integrantes das FARC-EP assassinados
depois da assinatura do Acordo e que haviam recebido oficialmente indulto do
governo colombiano. Não há pronunciamento oficial do governo e alguns já começam
a duvidar das intenções da direita, enquanto os guerrilheiros prosseguem com o
cronograma de entregarem as armas.
• Memórias de um mercenário. Lançado em 2004, o livro “Confissões de um assassino econômico”, de
John Perkins, desnudou a prática estadunidense de sabotar economias em outros
países e como eram usadas montanhas de dólares para comprar políticos que
defendessem seus interesses. Agora está sendo lançado um novo livro que pode se
tornar tão polêmico quanto o primeiro, se não for abafado pela nossa mídia.
A revista estadunidense Newsweek traz a resenha de
“Treinados para matar: os segredos da CIA sobre seus planos contra Castro,
Kennedy e Che”, escrito por Antonio Veciana, um cubano mercenário que esteve
durante vários anos a serviço da CIA e desempenhou várias ações contra Cuba.
Nas memórias ele descreve várias ações coordenadas pela
CIA e confessa que, em março de 1963, com seu grupo de mercenários, chegou a
atacar um barco mercante russo que ia para Cuba. Vamos aguardar o livro chegar
por aqui.
• Grã-Bretanha: incerteza para a Europa. O resultado das eleições britânicas, divulgado na
noite de quinta-feira (08), está provocando dores de cabeças em governantes e
analistas políticos na Europa. Em uma jogada arriscada, a Primeira Ministra
Theresa May pensou em aproveitar o momento propício com a aprovação do Brexit e
resolveu antecipar as eleições para o Parlamento.
Tendo 330 cadeiras na Câmara dos Comuns, o Partido
Conservador (“tories”) de May acreditava garantir a continuidade da maioria
(326 votos necessários), mas viu sua jogada “sair pela culatra”. Além de não
ter mais a maioria absoluta, pois ficou com apenas 318 cadeiras, depende do
funcionamento de sua aliança já anunciada com o DUP (Partido dos Unionistas
Democratas) para tentar governar.
Fundado em 1971, o DUP é o maior partido da Irlanda do
Norte. Sob a liderança de Arlene Foster, suas posições são muito conservadoras:
rejeição ao aborto (proibido para as norte-irlandesas) e ao casamento entre
pessoas do mesmo sexo, por exemplo. Além disso indicaram um ministro de Meio
Ambiente para a Irlanda do Norte que nega as mudanças climáticas e o efeito
estufa!
A pergunta que está incomodando a política europeia é:
com esse resultado, o processo do Brexit continuará? Tanto os “tories” quanto
os trabalhistas fizeram a campanha pela saída da União Europeia. Enquanto os
conservadores perdiam as 12 cadeiras tão importantes, os trabalhistas ganharam
29 e alcançaram 261 representantes. O processo de afastamento da UE deve
continuar, mas a polêmica é em torno da aprovação da legislação necessária para
a mudança.
Theresa May acreditava que aumentando sua maioria teria
mais facilidades para aprovar de forma mais rápida e dura as leis necessárias
enquanto os trabalhistas defendem uma legislação mais moderada para a
transição.
Encerrada a apuração e divulgado o resultado, Jeremy
Corbyn, líder dos trabalhistas, pediu a saída de May do governo britânico. “A
primeira-ministra convocou estas eleições pois queria um mandato. O que obteve
foi a perda de cadeiras para os conservadores, perda de votos e perda de
confiança”, disse, após garantir seu assento no distrito de Islington North, em
Londres.
• O atentado em Manchester poderia ter sido evitado? Jornalistas britânicos estão questionando a relação
entre o atentado em Manchester e as eleições para a Câmara dos Comuns. A
pergunta que está sendo feita é: o ato terrorista que matou 22 pessoas durante
um show está sendo ocultado para proteger segredos da política externa?
Do que foi divulgado até agora, o suposto terrorista
suicida foi Salman Abedi era membro de uma organização extremista chamada
“Grupo de Combate Islâmico Líbio” (LIFG, em inglês). Por mais de 20 anos essa
organização foi usada pelo serviço secreto inglês (M15) para ações no exterior.
Foram incentivados e receberam “ajuda” para participar na derrubada de Muamar
al Kadaf e depois atuaram com a al Qaeda para tentar derrubar o governo sírio.
Durante o tempo em que Theresa May foi ministra do Interior
o grupo tinha “carta branca” para viajar sem limites pela Europa. Em 2016 o FBI
relacionou Salman Abedi entre os “terroristas a serem vigiados” e comunicou ao
M15. Porém a política externa britânica tem interesses em manter a “aliança”,
em especial com grupos wahhabistas ou salafistas, financiados pela Arábia
Saudita, maior comprador de armas da Inglaterra.
Derrubar o governo de Kadafi era um longo projeto
alimentado por Washington e Londres. A Líbia controlava as maiores reservas de
petróleo da África e, de acordo com o serviço de inteligência francesa, o LIFG
havia realizado várias tentativas de assassinato do líder líbio. Não custa
lembrar que, depois do golpe, os “rebeldes” saquearam um arsenal avaliado em 30
bilhões de dólares!
O que aconteceu em Manchester, no dia 22 de maio,
certamente tem relação com a constante política de violência estatal promovida
pela Grã-Bretanha, grande aliada estadunidense nessas práticas.
• Japão 2016: mais mortes que nascimentos! Há um sinal de alarme ligado no Japão! Pela primeira
vez, desde 1899, a taxa de natalidade japonesa ficou abaixo de um milhão de
crianças em 2016! O problema está sendo visto como um sério problema para o
Estado.
Pelo décimo ano consecutivo há uma queda no crescimento
da população. No ano passado morreram 1.307.765 pessoas e nasceram 976.979
crianças, uma queda recorde na população: 330.786 pessoas, de acordo com o
informe divulgado pelo Ministério da Saúde do país.
O grande problema apontado neste momento é que a queda
na taxa de natalidade e o consequente envelhecimento da população estão
reduzindo de forma preocupante a força de trabalho do país e faz aumentar os
gastos do “estado de bem-estar”.
• O que restou da Líbia?
Sabemos que o interesse estadunidense em derrubar Muammar al Gaddafi nada tinha
com a questão de “implantar uma democracia” naquele país. O que estava em jogo,
além de interesses políticos na região, era o controle do terceiro maior
aquífero do planeta (só perde para o Alter Chão e o Guarani, ambos no Brasil).
Em 2011, durante a chamada “Primavera Árabe”,
Washington financiou a queda de Gaddafi financiando uma suposta “revolta
popular” que exigia a “democratização” do país. Em março daquele ano,
pressionado pelos representantes estadunidenses, o Conselho de Segurança da ONU
autorizou uma ação militar contra o presidente líbio. No dia 23 de agosto do
mesmo ano a capital, Trípoli, caía sob o controle dos mercenários e Gaddafi foi
assassinado friamente.
Seis anos depois, analistas internacionais consideram a
Líbia “um estado falido” que vive em uma permanente situação de luta interna e
no caos político. Seu território foi dividido em três partes, com governos ou
administrações de acordo com a facção mercenária que domina. Pior que isto,
dizem os analistas, é que cada bairro, cada localidade, vive sob o comando de
milícias e grupos rebeldes armados que são os verdadeiros governantes do país!
A produção de petróleo caiu de 1.800 barris diários, em 2008, para 432 barris
diários em 2015! E isso se reflete na queda acentuada nas condições sociais do
povo líbio.
• “Se oriente, rapaz” (1). No número 706 do nosso Informativo falávamos das intenções de Trump ao
visitar a Arábia Saudita e Egito. E falamos sobre a possibilidade de estar
sendo traçado um novo mapa no Oriente Médio (e Próximo), reforçando as ações
militares estadunidenses na região e facilitando o papel da OTAN como braço
armado do sistema. A previsão começa a se concretizar.
Na segunda-feira (05) o mundo foi sacudido pelo anúncio
oficial de que Arábia Saudita, Bahrein, Líbia, Iêmen, Egito e Emirados Árabes
Unidos cortaram relações com o Catar sob a alegação de que o governo de Doha
“patrocina grupos terroristas” para “desestabilizar a região”. As fronteiras
terrestres e aéreas dos seis países já foram fechadas e os diplomatas do Catar
tinham 48 horas para deixar o país.
Uma das raízes do atual conflito está no fato de que a
Arábia Saudita, em sua longa crise diplomática com o Irã, acusa o Catar de
estar interferindo em suas ações militares contra o Iêmen (já comentado por
nós).
• “Se oriente, rapaz” (2). O conflito entre Doha e as demais nações vizinhas teve início depois
que a agência de notícias catariana QNA divulgou uma suposta notícia de que o
emir teria feito uma declaração favorável a normalizar as relações com o Irã.
Diplomatas do Catar negam a declaração e dizem que a emissão da notícia teria
partido de hackers que invadiram a página web da agência de notícias.
A matéria teria sido divulgada uma semana depois do
encontro de Trump com lideranças muçulmanas em Riad, quando o rei Salman fez um
violento discurso dizendo que os iranianos querem desestabilizar a região.
• “Se oriente, rapaz” (3). Vamos medir o tamanho da “dor de cabeça” de Trump com essa decisão de
seus aliados rompendo com o Catar?
Em primeiro lugar, devemos lembrar que aquele país,
apesar de ter um território muito pequeno, tem um importante papel. Lá está
instalada a sede do Comando Central dos EUA para a região, a base de Al Udeid,
do Comando Central dos EUA na região, de onde são planificadas e realizadas
operações militares no Oriente Próximo. No Catar está também o chamado Centro
609, base de operações aeroespaciais estadunidenses.
Rico em petróleo e gás, o Catar foi ferramenta
determinante na política de Obama e Hillary Clinton para a chamada “primavera
árabe” que mudou vários governos no Oriente Próximo e criou novos aliados para
Washington, além de redefinir o mercado de petróleo.
• “Se oriente, rapaz” (4). Outro problema para Washington está sendo o posicionamento de Recep Erdogan,
presidente da Turquia, que se apressou em assegurar seu apoio ao Irã e ao
Catar. Em pronunciamento oficial, ele condenou o bloqueio do Catar por parte de
vários países árabes e se reuniu com o ministro de Assuntos Exteriores do Irã.
As relações bilaterais entre Turquia e Catar são as
mais fortes no Oriente Próximo. Segundo versão oficial de Ankara, o líder
catariano, Tamim bin Hamad Thani, conversou pessoalmente com Erdogan depois a
tentativa de golpe em julho de 2016. Os dois países contribuem com organizações
islâmicas na Síria, Líbia, Palestina e Egito, incluindo o Hamás e Irmãos
Mulçumanos.
É preciso lembrar, também, que a Turquia foi a única
nação aliada ao Brasil, durante o governo Lula, para alcançar o acordo nuclear
com o Irã, em 2010. Na ocasião, Erdogan acompanhou pessoalmente o presidente
brasileiro durante a negociação com Ahmadinejad.
• “Se oriente, rapaz” (5). Há uma “guerra” silenciosa entre o Catar e a Arábia Saudita que se
desenrola desde 1995. A disputa está no grande avanço que os técnicos
catarianos obtiveram na produção de GNL (gás natural liquefeito), uma
tecnologia muito avançada e cara que levou Riad a se tornar mais independente
em relação a Doha, aproximando-o de Teerã.
A revolução na produção de GNL converteu o Catar em uma
das nações mais ricas do mundo, com uma renda per capita anual de 130.000
dólares e o tornou o maior exportador mundial do produto. Mas acontece que o
Campo Norte do Catar, região que mais produz gás no país, é explorado em
pareceria com o Irã.
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