O
PSDB está se desintegrando
Após a decisão de manter o
apoio ao quadrilheiro Michel Temer para salvar a carreira de Aécio Neves,
figuras históricas da legenda – como o jurista Miguel Reale Júnior e o
empresário Ricardo Semler – pediram sua desfiliação.
Altamiro Borges*
Deputados da chamada “ala jovem” também
ameaçam debandar. O clima é tão depressivo que o grão-tucano FHC entrou em
parafuso e até parece que está gagá – conforme já havia alertado o sumido José
Serra. A cada dia, ele dá uma declaração. Até o início desta semana, ele
defendia se manter na “pinguela” do covil golpista; agora, ele já prega a
renúncia do Judas. Para piorar, novas denúncias infernizam a vida do PSDB.
Nesta sexta-feira (16), a Folha noticiou que o vazamento de um grampo coloca
sob suspeita o governador do Mato Grosso.
Segundo a reportagem de Pablo
Rodrigo, “as suspeitas de que o governador Pedro Taques (PSDB) tenha se
beneficiado de caixa dois na eleição de 2014 e de supostas interceptações
telefônicas clandestinas para monitorar rivais colocam mais uma vez um ocupante
do Palácio Paiaguás, sede do governo de Mato Grosso, nos holofotes de
investigações... Taques foi eleito ainda no primeiro turno, ancorado na
carreira de procurador da República. Em maio de 2016, viu o Gaeco (Grupo de
Atuação e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, deflagrar a
Operação Rêmora contra fraudes em processos licitatórios na Secretaria da
Educação. As investigações apontaram que o suposto esquema começou em 2015 e
envolvia ao menos 23 obras em escolas, com valores totais que ultrapassam R$ 56
milhões”.
De acordo com o empresário
Alan Malouf, preso em dezembro, o objetivo do esquema era quitar as dívidas não
declaradas da campanha eleitoral de 2014. Além do caixa 2, o governador foi
atingido pela revelação da existência de uma central clandestina de
interceptações telefônicas no comando da Polícia Militar. Uma deputada da
oposição – Janaina Riva (PMDB) –, jornalistas e servidores foram inseridos
ilegalmente num pedido de quebra de sigilo para investigar traficantes. Caso as
denúncias se confirmem, o governador tucano poderá sofrer processo de
impeachment e ter o mesmo fim do seu antecessor – Silval Barbosa (PMDB) –, que
foi preso em setembro de 2015. Blairo Maggi (PP), que também governou o Estado
e hoje é ministro da Agricultura do covil golpista, também está enrolado em
processos. Ele foi acusado de ter participado de esquema de compra de vagas no
Tribunal de Contas e recentemente teve o seu nome citado na Operação Lava Jato.
Estes e outros fatos, que
desmascaram os falsos moralistas do PSDB, explicam porque a situação da legenda
é dramática. Em entrevista à revista Época nesta semana, um dos ideólogos da
sigla, o “cientista político” Bolívar Lamounier, confirmou que “o eleitor tucano
está indignado”. Para ele, a legenda deu um tiro no pé ao continuar no covil de
Michel Temer. “O PSDB acabou se tornando fiador e avalista de um governo que já
sofre acusações graves e que poderá sofrer outras mais ainda. Então ele fica
adiando: ‘Vamos ver se aparece alguma outra coisa mais grave e aí então tomamos
outra decisão’. Isso não é um comportamento partidário coerente no meu
entender. Ao decidir ficar e examinar o assunto outra vez mais adiante, acabou
reforçando esse aspecto antipático que atribuem ao partido, que é o Hamlet em
cima do muro. O PSDB vira o PHB, o Partido Hamletiano do Brasil”.
“Tenho certeza de que isso
vai comprometer o PSDB no futuro. Foi uma posição equivocada. O eleitor tucano
está indignado, nas redes sociais, com essa atitude e essa participação neste
governo. E eu iria até mais longe. Veja o que aconteceu na França na eleição
legislativa. O voto antiestablishment foi arrasador. O Emmanuel Macron
[presidente da França] praticamente destruiu o sistema partidário da França, porque
ele captou esse sentimento da opinião pública que é contra a corrupção e é
contra a política envelhecida. O PSDB já está sendo visto como política
envelhecida. Essa decisão de agora reforçou a imagem. É provável que o voto
antiestablishment também ocorra aqui no Brasil. Não sei se na escala da França,
mas certamente vai ocorrer aqui também. E vai atingir o PSDB, o PMDB e outros
partidos”.
*Altamiro Borges é jornalista
e presidente do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé
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