sexta-feira, 4 de agosto de 2017

PETROLEIROS DENUNCIAM DESMONTE DA PETROBRAS

Petroleiros denunciam desmonte da Petrobras

Tatiana Carlotti*
Principal fórum dos petroleiros, o XVII Congresso Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP) começa a partir desta quinta-feira (3 de agosto), em Salvador (Bahia). Na pauta, o desmonte da Petrobras e o impacto da privatização de unidades estratégicas da empresa.
Como a mídia apoia e naturaliza o desmonte da Petrobras, para termos a dimensão do impacto que isso significa, é preciso acompanhar a discussão travada por quem fez e faz a Petrobras: os trabalhadores do setor. No site da Federação Única dos Petroleiros (FUP), por exemplo, é possível encontrar análises e dados que derrubam qualquer justificativa em prol das privatizações.
O Congresso Nacional da FUP, inclusive, trará as bandeiras da campanha “Privatizar faz Mal ao BRasil”, realizada há 17 anos pelos petroleiros, contra a sanha privatista do governo FHC. “Petrobras passa a ser PetroBrax”, estampava a Folha de S. Paulo, em 27 dezembro de 2000. Eram tempos de FHC, de Pedro Parente - atual presidente da estatal - à frente da Casa Civil (1999-2003).
Tempos que pareciam ultrapassados durante a era Lula, quando a Petrobras não só foi reerguida, como se tornou uma das maiores entre os gigantes mundiais do setor e um dos pilares da política de desenvolvimento nacional, gerando empregos e impulsionando atividades econômicas locais e regionais. “A Petrobras era o centro de uma política industrial que envolvia a utilização de uma grande riqueza descoberta, que é o pré-sal brasileiro”, relata José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da empresa, em entrevista concedida ao Brasil de Fato.
“A ideia de conteúdo nacional apontava que era possível produzir no Brasil, isso significava aumentar a capacidade de produção dos estaleiros, da indústria naval, da indústria mecânica, da indústria de tubulações, de compressores, de sistemas submersos, o que teria impacto sobre a economia brasileira, geração de emprego e renda associada à expansão de produção de petróleo”, detalha Gabrielli.
Dos recursos do pré-sal, estava acordado: 75% dos royalties do petróleo iriam para a educação, 25% para a saúde e 50% de todos os recursos do Fundo Social do pré-sal para os dois setores. Uma lei garantia isso, chegou a ser aprovada e sancionada, sem vetos, pela presidenta Dilma Rousseff em setembro de 2013. Na época, estimava-se que seriam injetados, ao longo de dez anos, R$ 112 bilhões na área da educação; e, em 30 anos, R$ 362 bilhões no setor da saúde.
Um pacto de cidadania. Uma aposta, sem precedentes, no futuro. Uma oportunidade brutalmente esmagada após três anos de Operação Lava-Jato e um ano da camarilha instalada no Palácio do Planalto. Fazendo política, a mídia golpista varreu e continua varrendo esse legado do mapa. Basta digitar “Petrobras” na busca de qualquer site de algum jornalão e ver o resultado. É preciso um mínimo de conhecimento do jogo político para não cair no engodo das privatizações.
Daí a importância de acompanhar sites como os da FUP. Em “As ações criminosas de Pedro Parente contra a Petrobras e o país”, por exemplo, estão reunidos seis pontos principais que dimensionam o desmonte em curso. “O presidente da Petrobras está doando aos estrangeiros subsidiárias lucrativas e estratégicas, como a Liquigás e a BR Distribuidora. Além de comprometer o abastecimento de gás de cozinha, gasolina, Diesel e de outros derivados, a privatização destas empresas deixará o consumidor brasileiro à mercê dos oligopólios privados”, alerta o texto.
O artigo também menciona demissões em massa: o corte de 55 mil postos de trabalho na empresa e a demissão de mais de 50 mil trabalhadores diretos nos estaleiros brasileiros. Várias reportagens trazem dados de quem está na luta em defesa da Petrobras.
Deyvid Bacelar, coordenador do Sindipetro Bahia, por exemplo, conta que “já foram vendidas 50% das termelétricas Rômulo Almeida e Celso Furtado e já colocaram à venda a Rlam, o Terminal de Madre de Deus, os campos terrestres; a Liquigás já foi vendida, assim como a Petroquímica de SUAPE e a nossa participação na Braskem; a BR Distribuidora está prestes a ser entregue e também a PBIO”.
Redução dos investimentos
Segundo o economista Rodrigo Leão, pesquisador do Grupo de Estudos Estratégicos de Propostas da FUP (GEEP), já foram vendidos US$ 13,6 bilhões em ativos da estatal. Também foram reduzidos 75% dos investimentos realizados entre 2013 e 2016, saindo de US$ 48,8 bilhões para US$ 11,5 bilhões, afirma ao site da FUP.
Os petroleiros também denunciam a venda de 74 unidades de exploração e produção de petróleo em cinco estados do país. Estimam que apenas na Bacia de Campos, onde estão 14 das áreas anunciadas, 10 mil empregos estão ameaçados, apontando uma redução na receita da estatal de US$ 1 bilhão anuais, de acordo com levantamento realizado pelo Sindipetro-NF.
Denúncias que não encontram espaço na mídia. Se na época de FHC, os jornalões acenavam as privatizações como único caminho dada a “incapacidade da Petrobras de produzir petróleo” –completamente desmentida pelo governo Lula -, agora, a mídia justifica o desmonte incensando as dívidas da Petrobras que, no primeiro trimestre do ano, chegaram a R$ 364,8 bilhões.
Nesta semana, Pedro Parente anunciou a concessão de 30 campos de petróleo em águas rasas nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo. Parente afirma que a Petrobras continuará operadora de todas as concessões.
Na lista, estão dois campos históricos – e simbólicos – da Petrobras: o campo de Guaricema (Sergipe) onde aconteceu a primeira descoberta de petróleo no mar brasileiro, em 1968, mesmo ano da criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP); e campo de Enchova que, em 1977, inaugurou a produção de petróleo na Bacia de Campos que se estende na costa litorânea nas imediações de Vitória (ES) até Arraial do Cabo (RJ).
Além do campo de Enchova, são alvos: os campos de Pargo (Rio de Janeiro), Pampo (Rio de Janeiro), Merluza (São Paulo), Sergipe Mar (Sergipe) e Ceará Mar (Ceará), Rio Grande do Norte Mar (Rio Grande do Norte). No último sábado (29.07.2017), após a divulgação da notícia, o Sindipetro-NF divulgou uma dura nota em seu site:
“O ataque, que vinha acontecendo nos campos terrestres, em refinarias e subsidiárias, chega agora às áreas de maior produção, visibilidade e interesse das multinacionais do setor petróleo. Uma ofensiva somente possível em razão da conjuntura de impunidade conferida à Direita brasileira pela Operação Lava-Jato e pela cumplicidade do poder judiciário e da grande imprensa", afirma o texto.
Em junho deste ano, Parente anunciou o planejamento estratégico para a empresa. “Estamos recomeçando o processo de desinvestimento, e estamos evoluindo para anúncios seguidos de processos de vendas para cumprir a nossa meta de US$ 21 bilhões até o final do próximo ano”, afirmou em entrevista para O Globo.
Ao analisar os dados do último balanço divulgado pela Petrobras, o economista Paulo Kliass salienta “a força da empresa e de todos os que colaboram para sua sobrevivência tem se revelado espantosa”. Apesar das políticas de desinvestimento de sua atual gestão e das decisões de reduzir a presença da estatal no cenário nacional e global, “o gigante tem resistido bravamente”.
Kliass mostra que entre janeiro e junho deste ano, “a empresa que havia sido decretada como falida e ineficiente produziu mais do que em igual período ao longo de todos os anos anteriores de sua história. Foi atingida a marca de 2,79 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), um total envolvendo petróleo e gás natural”. E afirma: “os dados apontam para uma tendência crescente dos valores de produção a cada período”.



Confira abaixo a íntegra da análise:

Petrobras a pleno vapor
Paulo Kliass*

Os dados constantes no último balanço divulgado pela empresa nos apresenta um quadro bastante promissor.

Um dos principais argumentos utilizados pelo bloco que se aventurou pela trilha do golpeachment referia-se à situação da Petrobras. Como os argumentos relativos às chamadas pedaladas fiscais não paravam em pé, a estratégia foi bombardear o governo Dilma de todos os lados possíveis, até que se cristalizasse a narrativa da condenação pelo “conjunto da obra”.

Quanto àquele triste final dessa novela no Congresso Nacional, todos nos lembramos muito bem de como terminou. Ficou evidente a ausência de evidências para caracterizar qualquer crime de responsabilidade da Presidenta. Afinal, ela apenas havia adotado como procedimento aquilo que sempre vinha sido feito pelos seus antecessores em termos de créditos suplementares do Orçamento. Assim, o julgamento abandonou todo e qualquer embasamento jurídico que justificasse a decisão final. Seguindo o exemplo da sanha lançada pela República de Curitiba, abandonaram-se as provas para se contentar apenas e tão somente com as convicções.

Mas a apelação simbólica da imagem propiciada pelos escândalos associados à Petrobras gritava muito mais alto. Nesse caso, consolidou-se uma forte aliança entre os interesses das grandes petroleiras internacionais, o ódio das forças ligadas aos diferentes tons de cinza da direita tupiniquim, os desejos dos setores do financismo nacional e global, os grupos conservadores vinculados ao poder judiciário e o desejo de sangue das poucas e poderosas famílias que seguem mandando nos oligopólios das comunicações em nossas terras.

Operação Petrobrax, o retorno?

Contratos bilionários. Desvios também de alto valor. Empresa estatal. Dezenas de milhares de assalariados. Forte organização sindical. Política de conteúdo nacional. Perspectivas estratégicas impressionantes com as reservas do Pré-Sal. Presença relevante na atividade econômica nacional. Condicionante que chega a determinar percentual de investimento agregado do Brasil. Esses e alguns muitos outros argumentos eram mais do que suficientes para fomentar a guerra declarada contra a maior e mais importante empresa brasileira. Uma das mais expressivas no cenário mundial do petróleo.

Na verdade, a intenção era retornar mais de 16 anos atrás na História e retomar o antigo projeto da Petrobrax. Sim, pois em 2000 o então presidente FHC autorizou o início de processo de alteração do nome da empresa. A malandragem, nas palavras do seu dirigente máximo à época, seria “facilitar o seu processo de internacionalização”. Afinal, era mais fácil para os personagens influentes do mundo dos negócios pronunciarem o nome da empresa alterado em inglês do que em nosso pobre idioma, difícil e pouco conhecido. Surfando nas ondas da liberalização privatista sem limites, o projeto estratégico era transferir o patrimônio da gigante brasileiro ao capital multinacional, assim como haviam feito com as empresas estatais de energia elétrica, telecomunicações, sistema financeiro, entre tantos outros setores.

À época, a ousadia dos aprendizes de feiticeiro teria sido tamanha que nem mesmo os aliados do governo tucano toparam seguir na empreitada criminosa. Até mesmo o todo-poderoso coronel conservador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) forçou FHC a um recuo. O ministro de Minas era um indicado seu e colaborou para que a maldade envolvida na operação Petrobrax fosse abandonada. Ou pelo menos adiada até uma oportunidade menos problemática.

A Operação Lava-Jato surge como esse momento de retorno. Assim como ocorreu com as empresas da construção civil, a campanha de destruição da Petrobras ganha novo alento a partir das denúncias, das investigações e das delações premiadas. Os interesses econômicos envolvidos são trilionários e os (ir)responsáveis pelos processos na esfera do inquérito policial, da preparação das peças no Ministério Público e dos gabinetes dos magistrados aparentemente não se preocupam com o futuro de tais grupos empresariais. Querem punir os dirigentes que teriam praticado ilicitudes e destruir as empresas na mesma toada. Impacto social e econômico? Desnacionalização da economia? Desemprego? Perda de capacidade tecnológica e de investimentos? Pouco importa, afinal esses devem ser mesmo aspectos secundários na sanha punitivista e restauradora da moral e bons costumes.

A Petrobras está quebrada?

As manchetes eram permanentes e sequenciais. Petrobras está falida. Petrobras está quebrada. Petrobras está comprometendo a capacidade fiscal da administração pública brasileira. A irracionalidade do monopólio estatal. A incompetência comprovada da presença do Estado na economia. A solução é mesmo privatizar. Petrobras não tem futuro como empresa. E por aí seguia, mais de seis décadas depois, a campanha de desmoralização da empresa criada por Getúlio Vargas em 1953, também na contracorrente da opinião e dos interesses das elites locais à época. Acusavam-no de um sonho delirante e de mais uma aventura irresponsável e populista. Afinal, estava mais do que provado que não havia uma só gota de óleo em todo o subsolo brasileiro.

Mas a força da empresa e de todos os que colaboram para sua sobrevivência tem se revelado espantosa. Apesar de toda essa campanha demolidora e das decisões do governo Temer de promover a liquidação da Petrobras, o gigante tem resistido bravamente. Contra as políticas de “desinvestimento” de sua atual direção e contra as decisões de reduzir a presença da empresa no cenário nacional e global, a Petrobras tem conseguido dar a volta por cima. Contra a desmobilização das plataformas em ultramar e contra o recuo na importante política de conteúdo nacional, a Petrobras avança ainda mais na sua atividade precípua - a exploração de óleo e gás.

Os dados constantes no último balanço divulgado pela empresa nos apresenta um quadro bastante promissor. Afinal, na contracorrente de todas essas tendências reducionistas, mais uma vez a Petrobras bate recordes em sua área de atuação. Entre janeiro e junho de 2017, a empresa que havia sido decretada como falida e ineficiente produziu mais do que em igual período ao longo de todos os anos anteriores de sua história. Foi atingida a marca de 2,79 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), um total envolvendo petróleo e gás natural.


Recorde na produção de óleo e gás.

A Tabela abaixo nos evidencia os resultados do primeiro semestre dos últimos anos. Com uma ou outra eventual diferença anual, o fato é que os dados apontam para uma tendência crescente dos valores de produção a cada período. Em comparação ao primeiro semestre de 2010, por exemplo, o presente ano representou um crescimento de quase 9%. Já em relação a 2016, o resultado atual significou uma elevação de 3%.


Tabela 1: PETROBRAS – Produção total de óleo e gás

1º SEM.
1000 boe/d
1º SEM.
1000 boe/d
2010
2.576
2014
2.565
2011
2.617
2015
2.784
2012
2.628
2016
2.711
2013
2.553
2017
2.791


Estes números parecem desmentir a campanha que tenta destruir a Petrobras e junto com ela a capacidade de o Estado brasileiro recuperar seu protagonismo na implementação de políticas públicas. Contra toda a intenção e prática liberal entreguista, os resultados da produção de nossa maior empresa sugerem que ela estaria dando a volta por cima.

Os interesses das grandes petroleiras e do próprio governo norte-americano apontam para uma ação estratégica em direção ao potencial incomensurável das reservas energéticas e monetárias oferecidas pelo Pré Sal. Combinar entrega da exploração ao capital estrangeiro com privatização/enfraquecimento da Petrobras é tudo
de que eles mais precisam. Um verdadeiro crime de lesa-Pátria cometido por dirigentes públicos que chegaram ao poder por meio de uma golpe inconstitucional.

Às forças democráticas e progressistas cabe continuar lutando contra essa aventura irresponsável que conta com o apoio do governo Temer. A cadeia econômica proporcionada pela economia do gás e do petróleo é de suma importância para qualquer retomada de projeto de desenvolvimento integrado, com soberania nacional e inclusão social.

Felizmente, a Petrobras ainda segue no bom rumo - a todo vapor.


* Doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.

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