Revista
publica fotos das malas de dinheiro da JBS destinadas a Temer e Aécio
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Postado
em 4 de agosto de 2017 às 12:48 pm
Da Época:
“Quem é que fica andando com 500 mil
de um lado para o outro?!”, perguntou, entre nervoso e espantado, o empresário
Frederico Pacheco ao lobista Ricardo Saud, da JBS, na tarde do dia 12 de abril
deste ano. Fred, como é conhecido o primo do senador Aécio Neves, estava
no escritório de Saud, em São Paulo, para apanhar a segunda parcela de R$ 500
mil dos R$ 2 milhões acertados entre o presidente do PSDB e Joesley
Batista dias antes. Fred fora designado para a tarefa por Aécio, como
registrado em áudio pelo próprio senador: “Um cara que a gente mata antes de
fazer delação”. A Polícia Federal monitorava o encontro – uma ação controlada,
autorizada pelo ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal
Federal. Fred estava desconfortável. Não aceitou água nem café. Diante dele,
numa mesa da sala de Saud, havia uma mala preta abarrotada de pacotes com notas
de R$ 50, amarrados com liguinhas de plástico. Fred parecia verbalizar, um
atrás do outro, todos os pensamentos que lhe assaltavam: “Onde eu tô me
metendo, cara?”.
A mala fora providenciada por
Florisvaldo de Oliveira. Ele sempre auxiliava Saud nas entregas de dinheiro e
mantinha um pequeno estoque delas à disposição. Para entregas a partir de R$
500 mil, a mala preta era a mais adequada. Acomodava bem meio milhão de reais,
até quase R$ 1 milhão em notas de R$ 50, se observado o método correto de
organização de maços. Florisvaldo ajudara a recolher o cash para a propina de
Aécio na central da JBS que reunia dinheiro vivo de clientes da empresa, como
supermercados e distribuidores de carnes – clientes que giravam bastante
dinheiro vivo. Essa central era chamada internamente de “Entrepostos”.
Abastecia boa parte dos políticos que, como Aécio, pediam a sua parte em
dinheiro vivo.
ÉPOCA reconstituiu a cena por meio
de gravações autorizadas pela Justiça se de entrevistas reservadas
com participantes da ação controlada. Reconstituiu, também, as outras quatro
entregas de dinheiro vivo acompanhadas pela PF entre abril e maio deste ano, na
Operação Patmos, resultado das delações dos executivos da JBS. Os cinco
pagamentos somaram R$ 2,4 milhões. Foram três entregas de R$ 500 mil destinadas
a Aécio, uma de R$ 400 mil destinada ao doleiro Lúcio Funaro e, por fim, uma de
R$ 500 mil destinada ao presidente Michel Temer – aquela da mala
preta com rodinhas, que cruzou velozmente as calçadas de São Paulo graças às
mãos marotas de Rodrigo Rocha Loures, o “longa manus” do peemedebista, nas
palavras da Procuradoria-Geral da República. A reportagem teve acesso, com exclusividade,
a dezenas de imagens das malas, pastas e bolsas de dinheiro da JBS sendo
estufadas com notas de R$ 50 e de R$ 100. Algumas poucas já eram públicas e
outras estavam reproduzidas, em preto e branco, quase que como borrões, em
processos no Supremo.
O restante do conjunto, no entanto,
permanecia inédito. ÉPOCA publica agora as imagens mais pertinentes. A força da
íntegra desse material reside na exposição visceral e abundante do objeto que
mobiliza o desejo e os atos dos corruptos, políticos ou não, no Brasil ou fora
dele: notas, muitas notas, de dinheiro. Amarelas ou azuis. Em malas ou pastas.
Recolhidas por familiares ou assessores. Dois meses após a delação da JBS, após
semanas e semanas de discussões jurídicas e políticas sobre a crise que se
instalou no Brasil, esse elemento tão primário, tão fundamental, do que define
os casos de Temer e de Aécio, ficou convenientemente esquecido.
Fred buscou todas as parcelas de R$
500 mil de Aécio. Começou no dia 5 de abril, voltou no dia 12, já sob
monitoramento da PF, e manteve o cronograma nas semanas seguintes: encontrou
Saud, no mesmo local, também nos dias 19 de abril e 3 de maio. Cumpria a tarefa
enquanto o Brasil conhecia o teor das delações da Odebrecht; enquanto o país
assistia aos depoimentos do executivos da empreiteira, que tanto incriminavam
Aécio. “Eu durmo tranquilo”, disse Fred no segundo encontro, logo após
racionalizar os crimes que cometia como um ato isolado, que não o definia. “Se
eu te contar uma coisa você não vai acreditar: a única pessoa com quem eu
tratei em espécie foi você. A única pessoa que pode falar de mim é você”. Saud
deixou-o à vontade para desabafar. “Como é que eu não faço? Tenho um
compromisso de lealdade com o Aécio”, disse, antes de começar a contar o
dinheiro:
– Um, dois, três, quatro, cinco… Ih,
fiz a conta errada. Peraí. O que tem em cada pacotinho desses?
– Eu te ajudo a fechar aqui (a mala).
– Cem, duzentos, trezentos…
– Eu te ajudo a fechar aqui (a mala).
– Cem, duzentos, trezentos…
Naquele mesmo dia, relatórios do
Conselho de Controle das Atividades Financeiras, o Coaf, registram operações com
suspeita de lavagem envolvendo empresas e um assessor do senador Zezé Perrella,
aliado de Aécio. Mendherson Souza trabalhava no gabinete do senador e tinha
procuração para movimentar contas dele. Já aparecera em outras operações
bancárias em cash, com suspeitas de lavagem. Acompanhava o primo de Aécio, como
seu ajudante. No mesmo dia, também, Fred telefonou para um conhecido doleiro de
São Paulo, de modo a buscar formas de esquentar o dinheiro.
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