Leonardo Casalinho
Lagarto, em Sergipe, sedia o
campus de saúde da única universidade federal do estado.
Não suficientemente feliz com
a construção do novo espaço da universidade no governo Lula – que abriu a
possibilidade de um curso de medicina cujos alunos participam do atendimento da
rede pública de saúde desde o primeiro ano de faculdade, ajudando a prefeitura
e o entorno no atendimento da população –, a UFS (veja PS do Viomundo) concedeu
ontem (21/08) ao ex-presidente um título de honoris causa.
Na cerimônia, um jovem
egresso dos corredores da mesma universidade, hoje professor naquela
instituição, faz um discurso que ressalta a importância de programas como
PROUni, Fies e etc…
Até aí, nada de incomum.
Passado o discurso, o jovem
caminha em direção ao ex-presidente, trajado de toga, bem ao estilo “titulações
acadêmicas”, Lula estica a mão num sinal claro de cumprimento e abraça o jovem,
este, também trajado à caráter, cai no choro.
Um choro copioso. Um choro de
alegria.
Um choro que termina em
soluços também copiosos de agradecimento pela oportunidade de ter podido forjar
toda uma vida (de aluno que ingressou na universidade através de políticas
públicas e hoje é professor de uma universidade federal) a partir de uma ação
governamental.
Passado o recebimento do
título, o presidente segue caminho ao interior do Sergipe, sendo – também de
maneiras não incomuns nos últimos dias – recebido por milhares de pessoas tanto
nos atos e cerimônias como no meio das estradas desse sertão.
Coisa de não mais que 40
minutos de adentrar seu ônibus, a caravana encontra o povoado de São Domingos,
onde cerca de mil e quinhentas ou duas mil pessoas esperam o presidente na
beira da estrada – praticamente um mar vermelho na apertada estrada pela qual
viajava a caravana.
Avistada a multidão, o
presidente desce à cabine do veículo e acena, como faz todo político que é
recebido por seus aliados, porém, algo mágico estava por acontecer naquele chão
tão historicamente esquecido pelo resto do Brasil.
Abre-se a porta. Aglomera-se
a multidão ensandecida por uma foto, um carinho, um aperto de mão ou algo que o
valha.
O calor já bastante forte de
um dia normal de “inverno” (33ºC) torna-se praticamente insuportável dada a
quantidade de pessoas se empurrando. Aparece o ex-presidente da república e
logo um microfone lhe surge à mão.
Para sair de Lagarto, mesmo
com a segurança da universidade impedindo a entrada dos populares com grades de
isolamento, Lula demorou não menos que 40 minutos para percorrer um percurso de
60 metros. Dito isso, sigamos o relato…
O presidente, que acabou
praticamente sumindo no meio da multidão dado sua estatura não muito
privilegiada, diz as primeiras palavras: “Oi, gente!”, e a população vai à
loucura.
Ele segue…
“Pessoal, eu quero muito
falar com vocês… Mas eu tenho outras agendas marcadas pra hoje e na última eu
demorei quase uma hora para chegar ao ônibus. Se vocês puderem, por favor,
abrirem para que eu chegue até o carro de som pra conversar com vocês…”
Assim se deu algo incrível.
Com um pedido simples o
nordestino de 71 anos dividiu a multidão a sua frente.
Abriu-se o mar vermelho que
se estapeava na beira e no meio da estrada para que passasse o que era alguém
que estava para aquele povo assim como a água está para a sede ou como um prato
de comida está para quem tem fome.
Da balburdia fez-se a paz. Da
algazarra fez-se a tranquilidade. Da multidão emanou o silêncio…
E era nesse silêncio que
residia a grandeza do ato.
Aquele silêncio contava algo
além do respeito por um grande líder. Era sim, naquele silêncio, que morava a
reciprocidade e a cumplicidade daqueles que sabem o quanto sua vida mudou a
partir das ações daquele homem.
Afinal, por que não abrir um
simples caminho de 100 metros para aquele que abriu a porta para uma vida mais
digna para milhões e milhões de pessoas como aquelas?
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