terça-feira, 19 de setembro de 2017

Que país queremos?


REPASSANDO
Que país queremos? Acordei hoje lembrando uma coisa que Claus Emmeche me disse quando fiz pos-doc com ele em Copenhague. Que na escola desde os primeiros anos é ensinado aos alunos - insistentemente - que todas as pessoas são iguais. Isso é incutido na visão de mundo dos dinamarqueses. E só para lembrar: Não é um país "comunista" - lembrete para esse pessoal no Brasil por aí afora que esqueceu que o muro de Berlim caiu. Apenas é um capitalismo que não é selvagem, que ainda nutre uma empatia pelo outro, que ainda lembra da máxima utilitarista do liberalismo econômico: Que cada um maximize o bem para si mesmo e para os outros. Muito diferente do neoliberalismo de "winners" e "losers" que se anda a copiar dos Estados Unidos com seu "sonho americano" de profunda desigualdade, sonho construído do sofrimento dos outros, perda de empatia que um animal social não pode sofrer, beco sem saída da história da humanidade. O estado do bem estar social nos países escandinavos ainda sobrevive, apesar dos problemas que enfrentam com a integração dos migrantes, assunto que divide o país - não tem lugar perfeito não.... Só para lembrar de que não devemos fantasiar. Mas não é fantasia mas fato que todo cidadão dinamarquês tem acesso a saúde, educação, lazer, segurança pública, gratuita. Ah só para lembrar a uns brasileiros mal informados e mal formados que parecem legião - não. Os países escandinavos não são socialistas. Mas conseguiram diminuir a desigualdade social ao longo das décadas, de modo que o país todo se tornou uma grande classe média. Isso ocorreu por mecanismos como imposto de renda progressivo. Quanto mais rico mais imposto se paga. E bom uso de recursos públicos, que fazem o imposto virar fonte de bem estar social. Isso me lembra outra história com Claus: Um dia vimos um homem de meia idade correndo com dois cães e Claus me disse, era o homem mais rico da Dinamarca na época. Estava ali o bem estar social dele: Corria pelas ruas sem seguranças. Não tinha medo de ser sequestrado. Não devia temer pelos seus filhos e netos. Provavelmente ele não pensava que segurança implica polícia matando pessoas. Provavelmente não se importava de pagar mais imposto. Havia sido educado numa escola que o ensinou que todos são iguais, não que há winners e losers. Quando morei na Dinamarca aprendi sobre um país possível, no qual queria muito viver, mas não lá. Aqui. E numa época pareceu possível. Na época do Governo Lula os ricos ficaram mais ricos cerca de 30%, os pobres mais ricos cerca de 110%. Todos ganharam e a desigualdade diminuiu. Parecia possível o sonho do estado de bem estar social, não lá, aqui nos trópicos. Mas faltou ensinar na escola brasileira que todos são iguais. Lembro de uma jovem dizendo:"tudo bem eles deixarem de ser miseráveis, mas eles têm de virar classe média?"ou pessoas dizendo que o problema do trânsito era resultado de que "hoje todo mundo pode comprar carro", ou gente reclamando do salário mínimo das domésticas. Para alguns desigualdade e exclusão social parecem soluções. Vivem sonhando com um estado menor sem nem saber exatamente o que isso significa. Eu sigo sonhando com o estado do bem estar social. Não quer dizer que vou votar em Lula nem escrevi isso para defender sua candidatura. É bom dizer isso para a irracionalidade não impedir que - me chamando de "petralha" - alguém não me acompanhe nessa reflexão. Não estou defendendo algum candidato mas discutindo que país queremos. Qual o nosso projeto do Brasil? O de meus sonhos é um estado de bem estar social, com saúde, educação, segurança pública para todos, não um estado mínimo de winners e losers. Com escolas que ensinem a todos desde a mais tenra idade que somos todos iguais. Um país de gente capaz de empatia, termo criado por Adam Smith - sim, aquele do liberalismo econômico - para designar a capacidade sumamente humana de ser capaz de se colocar no lugar do outro, ou nas palavras dele, "no lugar de quem sofre". Charbel El-Hani

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