RESISTIR E AVANÇAR NA
UNIDADE É PRECISO
Dom Orvandil*
Frequentemente vejo pessoas
se queixando da falta de espírito de luta em nosso povo e de fragilidade no
campo da unidade no essencial para derrubarmos o golpe. Vejo pessoas
desanimadas ao extremo, cujo desânimo as faz se queixarem dolorosamente.
Preocupado com esse
descrédito procuro sinais, aliás, e os encontro abundantes, da luta e dos
esforços que se espraiam socialmente e com muita indignação, embora a mídia
dominante os esconda e a população composta de 80% que se informa somente pela
mídia dominante e conservadora e 73% restringem-se à Rede Globo. Daí é difícil
de formar e informar a opinião pública.
Ao atentar apenas para alguns
indícios postados neste final de semana e nesta segunda feira aqui no blog, o
amigo perceberá o quanto a resistência borbulha.
Ao clicar nas páginas
“notícias” e “colunistas” acessará e se arrepiará com belíssimos sinais de uma
erupção que amadurece em aparente silêncio no útero revolucionário.
Menciono o artigo de Celso
Vicenzi: “O perigo de subestimar a história” onde o jornalista demonstra
escavar a história do Brasil e encontrar a linha luminosa de lutas, revoltas,
guerras e revoluções que demarcam a resistência de nosso povo e a derrota moral
e humana dos aparentes “vencedores”, que impuseram sacrifícios e opressões aos
trabalhadores e aos pobres.
A notícia sobre a ovada (Ovos
na cara de Dória acertam os golpistas!) recebida pelo fanfarrão João Dória, o
prefeito turista de São Paulo, é digna de atenção no que se refere à
clarividência de nosso povo sobre o que representa gente como aquele burguês
superficial e venal.
Assim merecem atenção os
casos de Candomblé: religião de resistência e Cartas dos franciscanos reunidos
em Aparecida conclama à indignação contra as injustiças pelos indícios
potenciais rebeldes contra o golpe e os golpes que inibem as esperanças de quem
não consegue ler o texto da vida onde a revolução é escrita diariamente,
inclusive com o vermelho do sangue derramado.
Isso é bem claro nos testemunhos
dados no “1º Seminário de Luta Contra o Neoliberalismo” acontecido aqui em
Goiânia no final de semana passado.
Enfim, nossas esperanças para
a luta e os avanços na unidade contra o golpe do pior do capitalismo se
acentuam se soubermos ler o texto da Presidenta Dilma Rousseff sobre Carlos
Araújo intitulado “A PERDA DE UM COMPANHEIRO”, quando ela mostra a grandeza de uma mulher que sabe
respeitar seu ex-companheiro e sua atual companheira Ana Lúcia. Dilma reverencia
Carlos Araújo por sua humanidade sensível na luta pelo trabalhismo e pelos
trabalhadores e promete continuar a luta pelo Brasil em honra à memória daquele
que, segundo ela, continuará vivo nas filhas, netos, na Ana, nos amigos e nela
mesma, Dilma. A mulher que foi Presidenta sabe dar exemplo a tantas mulheres
que se amesquinham, ciumentas, e perseguem outras mulheres e até ex-maridos,
sem respeito à dignidade das novas escolhas. Quem sabe se relacionar no
respeito aos outros e suas opções qualifica-se para lutas maiores pelo povo ou
vice-versa.
Chamo a atenção para o
caráter dialético da luta, que sempre é esperançoso. Onde parece predominar o
desânimo e a desunião brotam borbotões intensos de vida nova. Onde se lê
denúncias e até o aparente denuncismo há traços de indignação. E nos colunistas
que honram este blog, como é o caso do Dr. Roberto Bueno que denuncia a
desumanidade da servidão dos subjugados. No seu belo texto percebe-se crítica
necessária à acomodação que pode nos infestar e retirar de nós a ética da
revolta pela justiça ameaçada pelos massacres dos direitos.
Assim leio nas palavras do
Dr. Aluisio Pompolha Bevilaqua ao ressaltar a luminosidade revolucionária de
Carlos Araújo, com quem tinha profunda comunhão política e ideológica na
análise de nosso País. Em Nota de pesar 24 horas depois descreve com tintas
arrebatadoras de paixão pelo povo, pelo Brasil e pela revolução a amizade com
Carlos Araújo e dos debates com o amigo. “Todo nosso pesar pelo desaparecimento
físico do amigo e companheiro de luta Carlos Araújo. Para mim e todos que o
conheceram, mesmo que minimamente, sua presença será indelével pelo pensamento
objetivo e ideais que transcendiam ao trabalhismo herdado do pai”, sabiamente
escreveu Aluísio. Como Dilma, Bevilaqua afirma sobre o amigo, com quem também
estive algumas vezes em Porto Alegre, “por fim, falar de um amigo e companheiro
de luta que passou como cometa em nossas vidas, mas como astro maior continua a
nos iluminar, é um pesar que nos impulsiona a continuar lutando e se esmerando
para seguir-lhe o exemplo.”
“Aos seus filhos Leandro,
Paula e Rodrigo, aos seus netos, e à sua companheira Ana Lúcia, mais que nossos
pêsames, expressamos nosso mais profundo sentimento de admiração e respeito.”
Exatamente isso, meu amigo
Aurino, é de nosso dever nos iluminarmos pelos astros que brilham sobre nossa
realidade tornada cruel por este golpe brutal, mas que não será para sempre
desumana, porque lutaremos e nos esmeraremos para seguirmos exemplos como o de
Carlos Araújo.
Abraços críticos e fraternos
na mobilização e luta por uma sociedade justa.
* Dom Orvandil é Arcebispo Primaz da Igreja Católica
Anglicana
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