BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - ABRIL 2018
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GOLPE CONTRA O ESTADO
Em abril o governo federal anunciou a privatização de
parte do sistema Eletrobras e do parque de refino da
Petrobras. Os argumentos para justificar o desmonte
para a opinião pública são tão monótonos quanto
contestáveis: o aumento da eficiência econômica e a
redução da influência política sobre as empresas estatais.
Por trás dessa cantilena, entretanto, o que se
observa são outros objetivos econômicos, tais como: a
busca por ganhos fiscais no curto prazo e a barganha
por apoios políticos em troca de ativos públicos.
Privatização da Eletrobras e da Petrobras
A priorização da atração de capitais externos para o
setor energético em detrimento da autossuficiência
nacional pode aumentar a vulnerabilidade do
mercado interno com risco de piorar a qualidade
do serviço e aumentar o preço das tarifas de energia
elétrica e de derivados do petróleo.
O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, fez
mais uma declaração pública afirmando que a Eletrobras
não privatizada é um sinal de atraso. A empresa
atravessa mais uma forte tentativa de desmonte do
governo federal, a exemplo do que ocorreu ao longo
dos anos 1990 e, como se sabe, culminou na crise
energética e no apagão de 2001.
A atual crise brasileira, aliada ao amplo endividamento
da empresa – motivada em grande medida
pelo pagamento de juros ao próprio governo federal
– e a manutenção das tarifas em patamares relativamente
baixos –, fragilizou as condições da Eletrobras,
cuja dívida líquida de 18,3 bilhões de reais
supera em mais de oito vezes sua geração de caixa.
No entanto, o que se observa até o momento é a
repetição da estratégia fracassada do governo FHC,
como fica claro no Plano Diretor de Negócios e Gestão
(2017-2021) apresentado pela empresa recentemente.
Novamente, o objetivo é fragmentar o sistema de
energia e iniciar um amplo processo de privatização.
A primeira medida tomada pelo novo presidente foi
justamente acabar com as seis distribuidoras estaduais
incluindo-as no Programa de Parcerias e Investimentos
(PPI) do governo federal. Elas irão a leilão até
o final de 2017. Nesse mesmo compasso, a empresa
deve reduzir em 29% seus investimentos, caindo de
50,3 bilhões de reais para 35,8 bilhões.
Além disso, deve negociar as participações minoritárias
da estatal. Atualmente são 178 participações
diretas e indiretas em companhias do setor, como
em obras das usinas de Belo Monte, Jirau e Teles
Pires. O objetivo da empresa com esses negócios é
levantar algo em torno de 20 bilhões de reais, estimando
que metade desse valor seja possível negociar
no mercado com rapidez.
A Eletrobras estabeleceu como prioridades estratégicas
para o próximo período a privatização, a
reestruturação dos negócios e a governança corporativa.
O objetivo é circunscrever as atividades
da empresa apenas à geração e à transmissão de
energia, como já se apontou: as distribuidoras fo-
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GOLPE CONTRA O ESTADO
ram colocadas a venda, e a administração dos fundos
setoriais, que movimentam aproximadamente
30 bilhões de reais, passou a ser feita, definitivamente,
pela Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE). Com isso a estatal deixa de ter a
função de financiadora setorial.
Mais ainda, a empresa busca enxugar em 25% seu quadro
de funcionários, diminuindo-o de 23,5 mil pessoas
para cerca de 17,6 mil. Neste momento, a estatal trabalha
em um plano de incentivo à aposentadoria para
reduzir, no médio prazo, ainda mais o seu tamanho.
Esse processo tem sido acompanhado também pela
venda dos ativos imobiliários da empresa.
No último mês, os acionistas da estatal aprovaram a
venda de participação (51%) da Celg Distribuição. Recentemente,
o novo presidente da empresa chegou a
afirmar que a Eletrobras não é eficiente em nenhuma
das suas operações. Uma declaração tão forte obviamente
não reflete as mudanças positivas da companhia
nos últimos anos, mas apenas legitima a nova
“velha” estratégia em curso. Ao que tudo indica, não
apenas a eficiência da Eletrobras é que está em jogo,
mas a de todo o setor de energia elétrica.
Petrobras
No dia 19 de abril, a Petrobras apresentou as diretrizes
do seu modelo preliminar para o reposicionamento
da companhia no setor de refino. Embora a proposta
ainda não tenha sido aprovada pela Diretoria Executiva
e pelo Conselho de Administração, ela tornou-se
pública em uma atividade com a participação de representantes
do Ministério de Minas e Energia (MME),
da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) e do Instituto Brasileiro do Petró-
leo (IBP) e outras entidades interessadas.
Segundo o comunicado divulgado pela Petrobras,
“o estudo tem como premissas melhorar a composição
do portfólio da companhia no médio e no
longo prazos, estabelecer parcerias para mitigação
de riscos, viabilizar investimentos no setor por meio
desses novos agentes. O programa de parcerias e
desinvestimentos faz parte do Plano de Negócios e
Gestão e também integra o esforço para a redução
da dívida da Petrobras”.
Como tem sido a regra, a Petrobras justifica o desinvestimento
dos seus ativos tratando os elos da
cadeia produtiva de óleo e gás como meras commodities
e não como recursos naturais estratégicos.
Nessa mesma toada se reafirma a gestão excessivamente
austera da dívida da empresa, que poderia
ser administrada com prazos de pagamentos mais
alongados de modo a impactar de forma menos intensa
os investimentos da companhia. Entretanto, a
lógica financista de curto prazo tem se imposto sobre
a dinâmica produtiva de médio e longo prazos.
O modelo em estudo prevê a busca de parceiros para
as refinarias Abreu e Lima (RNEST-PE), Landulpho Alves
(RLAM-BA), Alberto Pasqualini (REFAP-RS) e Presidente
Getúlio Vargas (REPAR-PR); o projeto inclui
também alguns ativos logísticos, como dutos e terminais
administrados pela Transpetro que estão diretamente
associados a esse conjunto de refinarias, com
cinco terminais no Nordeste e sete terminais no Sul;
além disso, a companhia anuncia a procura pela concretização
de uma parceria para o término das obras
do parque de refino carioca, o Comperj.
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Nessa proposta, a Petrobras abriria mão de cerca
de 38% da capacidade de refino, teria participação
de 40% nas empresas formadas com os parceiros,
buscando manter 75% da capacidade de refino
nacional. Segundo a empresa, o processo de
conclusão desse debate deve se estender por cerca
de mais um ano, mas já há a sinalização de que
os empregados das refinarias serão convidados a
trabalhar nas novas empresas parceiras ou poderão
ser realocados em movimentações internas à
Petrobras. Essa sinalização, no entanto, acende um
sinal de alerta entre os trabalhadores dados os riscos
de precarização do trabalho nesse processo de
transição contratual.
Como já se disse, no documento apresentado o
refino é tratado não como uma atividade estraté-
gica para o mercado interno, mas sim como uma
reserva de mercado mantida pela Petrobras e que
precisa ser aberta à concorrência.
Não por acaso, o documento se limita a indicar que
atualmente a importação de derivados por terceiros
é de 51%, mas no lugar da priorização da auto-
-suficiência nacional o que se indica é o caminho
de estímulos para a entrada de players estrangeiros
nesse segmento. Em uma eventual melhora futura
no ambiente econômico, com a retomada do crescimento,
o Brasil muito provavelmente estará diante
da dependência da importação de derivados.
Atualmente, a RNEST opera com 73% da capacidade
instalada, a Refap com 58%, a RLAM com
57% e a Repar com 55%, resultado do baixo dinamismo
macroeconômico e das opções de encolhimento
da atuação da Petrobras do ponto de vista
microeconômico. Não será nenhuma surpresa se
tais refinarias forem incorporadas por petrolíferas
chinesas, norte-americanas e/ou europeias. O
apetite dessas petrolíferas deve aumentar à luz da
indicação de que a Petrobras entende que o melhor
modelo de negócio é o com a efetivação da
transferência de controle para as novas parceiras.
A proposta é apresentada como parte de um plano
mais amplo para o refino que teria sido iniciado
com a nova política de preços praticada pela companhia.
Se, por um lado, é verdade que a rigidez
na administração dos preços em viés de baixa pode
prejudicar a situação financeira da empresa, por
outro também é verdade que a flutuação indiscriminada
à luz das oscilações do mercado financeiro
introjetam um viés de alta nos preços dos derivados
em geral.
Em resumo, os próximos passos dessa empreitada,
conforme sinaliza o documento são: a venda do
controle exercido pela Petrobras sobre as refinarias,
a retirada gradativa desse segmento nas regiões
Norte e Sul e a venda casada de refino e logística.
No lugar da empresa integrada, a atual gestão da
Petrobras pratica o desinvestimento integrado.
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Comentário deste blogueiro: MiShell Temer, Pedro Parente e outros da mesma gangue de entreguistas terão que responder, quando recuperarmos a democracia e o Estado Democrático de Direito no Brasil, por seus CRIMES DE LESA-PÁTRIA. BANDIDOS DA PIOR ESPÉCIE.
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