A simpatia pelo terrorismo genocida em Israel está subindo a cabeça do governo
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, voltou de uma viagem oficial a Israel neste final de semana e anunciou uma novidade: uma empresa israelense, a Watergen, doou ao Brasil 11 máquinas capazes de fabricar água potável a partir da umidade do ar.
De acordo com anúncio do ministro na sexta-feira (1) em rede social, os equipamentos “deverão ser instalados em escolas, hospitais e algumas comunidades com grandes desafios hídricos”, para que a tecnologia possa ser avaliada pelo governo.
No Brasil, no entanto, a tecnologia que produz água a partir da umidade do ar já existe pelo menos desde 2010. A empresa nacional Wateair, instalada no interior de São Paulo, oferece equipamentos do tipo por custo similar, e nunca foi procurada pelo governo federal.
“Acho que não é má-fé ou má vontade do governo não, é mérito de um lobby bem feito pelos israelenses”, afirma ao UOL o dono da Wateair, o engenheiro Pedro Ricardo Paulino, ao ser questionado se considerava normal o ministro ir buscar do outro lado do mundo um equipamento que já é produzido por uma empresa brasileira com tecnologia nacional. “Não vejo com estranhamento, é uma questão política do governo, dessa aproximação com Israel que querem fazer.”
De acordo com ele, sua empresa já vendeu mais de mil equipamentos (existem vários modelos de diversos tamanhos) no Brasil e no exterior, inclusive para países do Oriente Médio. “Os árabes, acho que até por uma questão religiosa e geopolítica, não compram o equipamento israelense e têm recorrido cada vez mais aos nossos. O Irã, por exemplo, é cada vez mais um excelente cliente”, afirma Paulino.
O engenheiro conta que já apresentou suas máquinas para governadores da região Nordeste e alguns órgãos do governo federal no passado, mas nunca nenhuma conversa foi para frente. Assim, seus principais clientes são empresas privadas.
Procurado pelo UOL através de sua assessoria de imprensa para explicar melhor a doação e seu destino, a parceria com a empresa israelense, se pretende comprar os equipamentos importados, instalar a fábrica e se está avaliando soluções similares de outras empresas, nacionais ou estrangeiras, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.
A empresa israelense confirmou ao UOL a doação das 11 máquinas ao governo brasileiro e disse que o custo total dos equipamentos é de cerca de US$ 800 mil — o equivalente a R$ 2,9 milhões no câmbio da segunda-feira (4). A máquina capaz de produzir 900 litros de água por dia sai por cerca de 75 mil dólares (ou R$ 275.475). Foram doadas 10 deste modelo.
A alternativa brasileira similar, com capacidade para produzir 1.000 litros de água por dia, custa R$ 319.500. “É um pouco mais cara, mas é necessário considerar que nossa água é muito melhor, pois temos um sistema que adiciona sais minerais na medida certa na água produzida, o que outras máquinas não têm, a nossa água é a melhor do mundo sem dúvida”, diz o dono da empresa brasileira.
“Sem falar que pagamos todos nossos impostos no Brasil e geramos empregos. Se você ainda acrescentar que no caso do equipamento importado há todo o custo da importação e do transporte, manutenção e peças de reposição… nossa solução oferece custo e benefício muito superiores ao dos concorrentes estrangeiros”, afirma.
Outra diferença é que a tecnologia nacional é capaz de captar água a partir de uma umidade do ar de 10%, contra uma umidade mínima de 15% no equipamento israelense.
No domingo (3), foi a fez do presidente Jair Bolsonaro comemorar a parceria anunciada com a empresa israelense. “Ciência, tecnologia, desenvolvimento e economia! O Novo governo brasileiro traz de volta a confiança aos olhos do mundo, para o bem do cidadão brasileiro e do Brasil!”, publicou o presidente em sua conta no Twitter.
Em resposta à reportagem, a Watergen afirma em nota que “não possui nenhuma expectativa” de que o governo brasileiro compre mais equipamentos a partir desta primeira doação. “A doação foi feita no espírito de amizade e cooperação entre os dois países”, afirma a resposta enviada ao UOL. A empresa afirma ainda não ter nenhum contrato ou promessa de negócios com o governo federal.
Apesar disso, a direção da empresa esforça-se na aproximação com o governo Brasileiro. Executivos da Watergen participaram de uma “comitiva paralela” de empresários que acompanhou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na viagem ao Brasil para a posse de Bolsonaro no início do ano e conseguiram marcar um encontro com o ministro Marcos Pontes em Israel — que culminou na doação dos equipamentos.
Em fotos e vídeos divulgados em diversas contas no Twitter no dia da posse, é possível constatar que a Watergen instalou pelo menos um equipamento de produção de água a partir da umidade do ar em Brasília para demonstrar sua tecnologia. Uma máquina foi instalada ao lado de uma base móvel da Polícia Militar do Distrito Federal.
De acordo com reportagem do jornal israelense Haaretz, a família dona da Watergen é ligada a Netanyahu. Segundo o jornal, o primeiro-ministro faria lobby para a Watergen em outros países e na ONU. Em troca disso, uma emissora de televisão pertencente à família daria voz e protegeria o primeiro-ministro de acusações de corrupção de que é alvo no país.
Em dezembro do ano passado, ao anunciar a visita de Pontes a Israel, o presidente Bolsonaro falou de iniciativas para combater a seca no semiárido nordestino, em sua conta no Twitter. “Também estudamos junto ao embaixador de Israel e empresa especializada testar tecnologia que produz água a partir da umidade do ar em escolas e hospitais da região. Poderemos, inclusive, negociar a instalação de fábrica no Nordeste para venda desses equipamentos”, escreveu em meio à mensagem.
Quando anunciou a ida do ministro ao país vizinho, Bolsonaro afirmou que ele buscaria tecnologias de dessalinização de empresas israelenses para aplicar no Brasil. Porém, milhares de equipamentos do tipo já funcionam no país em locais onde há falta crônica de água, principalmente no interior do Nordeste.
Após a repercussão negativa do governo brasileiro querer importar uma tecnologia que já existia no Brasil, o ministério manteve a agenda no país do Oriente Médio, mas abriu um “cadastro de soluções tecnológicas” destinadas a amenizar os impactos da seca no país, voltado principalmente para conhecer as empresas e tecnologias brasileiras.
Da UOL
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