14 DE MARÇO DE 2019, 09H42
Após atentado em Suzano, Lola recebeu mensagem de membro de grupo de ódio frequentado por atiradores
Feminista, que foi ameaçada por criador de grupo que está preso, Lola acompanhou haters por 4 anos e disse que massacre em Suzano era anunciado."Não houve um só dia em que os membros não fantasiavam com o dia em que teriam acesso livre a armas de fogo. Todos votaram em Bolsonaro, o candidato que lhes prometia isso. Eles sempre falavam em cometer massacres. Suponho que a tragédia de Suzano não seja surpresa nenhuma pra Polícia Federal"
Atacada de diversas formas – de sabotagem virtual a ameaças de morte – por membros de grupos de ódio e misoginia da deep web, a professora universitária e blogueira feminista Lola Aronovovich soube do atentado na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, por uma mensagem em seu blog: “Grande dia, mas dois heróis morreram”.
A mensagem foi enviado por um “mascu”, como define Lola. “Uma abreviação que criei para masculinistas, que em países de língua inglesa se intitulam MRAs (ativistas pelos direitos dos homens), mas que na verdade são apenas homens frustrados e revoltados que vivem numa realidade paralela (para eles, a sociedade é dominada pelas mulheres, e as grandes vítimas da atualidade são homens brancos e héteros)”.
Em artigo em seu blog, Lola afirma que o “massacre de Suzano” foi um crime anunciado. “Um horror, e o que eu mais temia: que, com a liberação das armas (uma promessa de campanha de Bolsonaro), com toda a propaganda a respeito de armas de fogo, esse tipo de massacre passasse a ser mais comum no Brasil”, relata a ativista.
Os ataques partiram do mesmo site que abriga o grupo de ódio que atacou Lola, o Dogolachan, que fica hospedado na deep web, uma zona obscura da internet que usa dispositivos para garantir a privacidade e o anonimato na rede.
“Este fórum anônimo foi criado por Marcelo Valle Silveira Mello em 2013, pouco depois de sair da cadeia, onde havia passado um ano e três meses, e sido condenado a quase 7 anos de prisão. Ele estava tão furioso que foi expulso de outros chans e começou o seu próprio. Passou os cinco anos seguintes fazendo ameaças, criando novos sites de ódio, planejando como arruinar a vida de seus inimigos, tentando convencer outros a cometerem massacres, e cometendo dezenas de crimes (entre eles pedofilia, terrorismo, associação criminosa etc)”, relata Lola.
Marcelo foi condenado a 41 anos de prisão em dezembro de 2018. “Só que ele deixou toda uma quadrilha pra trás, e todos os membros da gangue continuam soltos”.
Segundo ela, que acompanhou o site por 4 anos, não houve um só dia em que os membros não fantasiavam com o dia em que teriam acesso livre a armas de fogo. “Todos votaram em Bolsonaro, o candidato que lhes prometia isso. Eles sempre falavam em cometer massacres. Suponho que a tragédia de Suzano não seja surpresa nenhuma pra Polícia Federal”.
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