quinta-feira, 9 de maio de 2019

Dez casos que mostram como o racismo é trivial, ao contrário do que afirma Bolsonaro

Dez casos que mostram como o racismo é trivial, ao contrário do que afirma Bolsonaro. Por Sacramento

 
Para Bolsonaro, o Brasil é uma democracia racial e o racismo uma invenção. Ou “mimimi”, como ele e seu rebanho gostam de falar. Ele reforçou esta opinião em um bate-papo de comadres com Luciana Gimenez.
“Essa coisa do racismo, no Brasil, é coisa rara. O tempo todo jogar negro contra branco, homo contra hétero, desculpa a linguagem, mas já encheu o saco esse assunto”, disse ele no programa Luciana By Night.
Como era de se esperar, ele não foi questionado pela apresentadora. Conteúdo para isso ela teria, fosse a entrevista um evento de jornalismo legítimo e não um simulacro de assessoria de imprensa.
Ela poderia falar da desigualdade social imposta aos negros após séculos de escravidão, que os excluiu dos espaços de poder e destinou grande parte deles à miséria e suas consequências, mas não fez isso.
Com seu pseudojornalismo, Gimenez concordou com a afirmação de Jair.
Como jornalista, tenho o dever de jogar luz nas sombras espalhadas por este desgoverno. Por isso separei dez casos aleatórios ocorridos neste ano, para mostrar que ao invés de raro, o racismo é trivial.
1) Duas jovens humilham um rapaz no momento em que ele trabalhava em uma lanchonete do Bob’s no Rio de Janeiro. “Isso mesmo, limpa pra eu ver, lambe o chão”, disse uma delas. A cena foi filmada por uma das moças e viralizou em seguida.
2) O empresário Crispim Terral foi imobilizado violentamente por um Policial Militar após reclamar do atendimento em uma agência da Caixa Econômica, em Salvador. Crispim foi agredido em frente à filha de 15 anos.
3) A deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) foi impedida por um segurança da Assembleia Legislativa de entrar no elevador destinado aos deputados.
4) O segurança de um shopping em Salvador tentou impedir que um jovem comprasse um prato de comida para uma criança negra, vendedora de chicletes nas ruas.
5) A bailarina Luzia Amélia Marques, do Piauí, sofreu ofensas racistas após publicar a foto de uma performance no Facebook. “Merece 20 chibatadas”, escreveu uma das agressoras.
6) Maria Angélica Calmon, 54 anos, foi acusada de furtar um creme da farmácia onde havia feito compras horas atrás. Ela foi abordada por um segurança quando estava na praça de alimentação do shopping. Constrangida, esvaziou a bolsa e jogou os pertences no chão para provar a inocência. O fato ocorreu em Salvador.
7) Uma criança da cidade de São José do Ribamar, no Maranhão, foi impedido de se matricular em uma escola da rede municipal por ter cabelo crespo e volumoso, estilo “black power”. A diretora teria dito que o menino deveria seguir o padrão que as outras crianças adotam, de cabelos curtos. Na época em que o caso veio a público, em março, o menino ainda estava sem local para estudar.
8) Pedro Gonzaga, de 19 anos, morreu depois que um segurança do supermercado Extra o imobilizou e o estrangulou. O rapaz passava por um surto psicótico mas não oferecia riscos à vida do vigilante, que tinha condições de dominá-lo sem provocar lesões graves. O crime aconteceu no Rio de Janeiro.
9) Evaldo Rosa dos Santos, 51 anos, foi morto a tiros por uma guarnição do exército. O carro onde ele estava foi confundido com o veículo de bandidos em fuga e recebeu 80 tiros. Luciano Macedo, catador de recicláveis que tentou socorrer Evaldo, também foi atingido e morreu duas semanas depois.
10) Gustavo Forde, professor e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), sofreu ofensas pelas redes sociais após entrevista em jorna A Gazeta na qual abordou o racismo institucional. Houve quem zombou da sua aparência, o chamou de “merda” e “vagabundo” ou mandou voltar para a África.
Bônus: um mapeamento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol contabilizou 14 denúncias de racismo no futebol brasileiro nos primeiros quatro meses deste ano.
Se há algo raro por aqui, é a capacidade de Bolsonaro dizer algo condizente com a realidade.

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