domingo, 6 de março de 2016

ZOOPOLÍTICO

ZOOPOLÍTICO
                                                        Inocêncio Nóbrega
            Políticos, ao longo da história republicana, nunca deixaram de ser considerados os vilões da má condução administrativa do País. Tal concepção tem marcado presença nos períodos férteis da democracia, sentidos por todos segmentos da sociedade, com maior efeito pelas camadas populares, nos momentos de pleitos eleitorais municipais. A capital de S. Paulo, dos idos de 1959, dos 450 candidatos à Câmara de Vereadores o povo, em cédula de papel, única permitida na época, votou, maciçamente, na rinoceronte “Cacareco”, do gênero feminino, que pertencia ao Zoológico paulista, obtendo mais sufrágios que o partido majoritário do governador Adhemar de Barros. A propaganda de sua candidatura contou com a marcha carnavalesca “Cacareco é o maior”, loucamente entoada pela população: “Ca-ca-ca-ca-re-co / Cacareco, cacareco é o maior / Ca-ca-ca-ca-re-co / Cacacareco de ninguém tem dó!”
            O Rio de Janeiro não fez por menos, sufragando a Prefeito o chimpanzé “Macaco Tião”, nas eleições de 1988. Ele alcançou o 3º lugar, dentre 12 postulantes.  Mário Mota explica: “Macaco velho, sujeito experiente e sagaz”. “O bode cheiroso”, versão de Cacareco, foi a legenda preferida pelo eleitorado de Jaboatão dos Guararapes(PE), para cargo do Legislativo mirim. Tratava-se de um caprino muito conhecido e popular na região, pelas costumeiras andanças nos trens da antiga RFF. A seu favor criou-se esse lema: “Cheiroso não promete. Berra logo...”Um desses animais poderá voltar a ser relembrado nas próximas eleições municipais, apesar de urnas eletrônicas, bastando iniciativa das redes sociais.
            Certos políticos ganharam espaços nas grades do “zoológico”, segundo imaginação crítica de Leonel Brizola, querecomendou aos seus seguidores votassem, em 2º turno para Pres. da República, no “sapo barbudo”, isto é, Lula. Para ele, José Sarney não passava de “jacaré engomado”.  Continuando na arte nomear de bichos seus adversários, a Collor escolheu “cavalo resfolegante”; aos “chaguistas” cariocas, “caranguejos na lama”, e ao ex-governador Moreira Franca, “gato angorá”. Nem FHC escapou: “ave de salão”. Não foi feliz, e nisso teve de pedir desculpas, referindo-se de “vaca” à deputada Rita Camata. Marcelo Alencar deixava o PDT, mas levando consigo a igualação de “boi costeando o alambrado”. Carlos Lacerda, um caso à parte, ficou alcunhado de “O Corvo”, pelo jornalista Samuel Wainer.
O município de Vila Velha (ES) sofria com a peste de mosquitos, sem que eficazes providências fossem tomadas. Nada melhor que a proximidade de dezº/1987 para mostrar sua indignação, escolhendo como símbolo e o elegendo, “Prefeito Mosquito”. Computaram-se 29 mil sufrágios a seu favor, mas anulados pela Justiça Eleitoral.
Jornalista
inocnf@gmail.com

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