Impeachment é 'guerra política, suja e hipócrita', diz Dilma Rousseff a jornal francês
Em entrevista ao jornal Le Monde, ex-mandatária afirma que seu afastamento é 'ruptura democrática' suscetível de afetar toda a América Latina
Em entrevista publicada na edição do jornal francês Le Monde desta terça-feira (06/09), a ex-presidente Dilma Rousseff disse que o processo que levou a seu afastamento definitivo na última quarta-feira (31/08) é “uma guerra política, suja e hipócrita”, protagonizada pela “oligarquia brasileira”.
Em entrevista concedida na segunda-feira (05/09), um dia antes de sua mudança de Brasília a Porto Alegre, Dilma qualificou como “pretextos” os argumentos apresentados pela oposição para promover sua destituição pelo Congresso Nacional.
De acordo com a mandatária, o fato de não perder seus direitos políticos “demonstra que não há lógica neste processo sem base jurídica”.
“Para justificar o meu impeachment, tiveram de mencionar outras razões, como 'um conjunto de ações'. Isso não é permitido pela Constituição. Não cabe a 81 senadores julgar a minha política, mas ao povo, através de eleições diretas”, declarou.
As motivações para o impeachment, na avaliação de Dilma, foram interesses em interromper as investigações da Operação Lava Jato e a implantação, no país, de uma agenda neoliberal, que segundo ela, não estava prevista em seu programa.
Marcelo Camargo/Ag. Brasil
Dilma Rousseff durante sessão que julgou seu impeachment no Senado
Dilma Rousseff durante sessão que julgou seu impeachment no Senado
“Este processo de impeachment é uma fraude. Uma ruptura democrática, que cria um clima de insegurança nas instituições políticas, suscetível de afetar toda a América Latina”.
A ex-chefe de Estado afirmou também que os protagonistas do processo que conduziram a seu afastamento definitivo foram a "oligarquia brasileira”, formada pelo grupo “dos mais ricos”, os meios de comunicação, que pertencem a 100 famílias, e dois partidos, PSDB e PMDB.
Questionada sobre o fato de figuras centrais do impeachment, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), serem aliados de seu governo, Dilma disse que o PMDB foi “fundamental” no período de redemocratização do Brasil. No entanto, segundo ela, com o tempo alguns segmentos da legenda se tornaram "ultraconservadores em questões sociais e morais, e ultraliberal em questões econômicas".
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“Mas o sistema político brasileiro, com 35 partidos, exige essas alianças”, afirmou.
Ela lembrou a tentativa de seu governo de promover uma reforma política após as manifestações em 2013, mas que a pauta não foi aceita pelo Congresso. “É como pedir para a raposa vigiar o galinheiro”, acrescentou.
Dilma disse também entender o desapontamento de parte da população com casos de corrupção trazidos à tona pela Lava Jato, mas que foi um erro transformar a operação em um “instrumento” contra o Partido dos Trabalhadores.
“Esta é uma guerra política, suja e hipócrita”, disse a ex-mandatária, que citou leis criadas em seu governo e no de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para combater a corrupção.
A ex-mandatária disse ainda que o momento é de “reflexão” e que marca o início de uma luta, em referência à democracia que, segundo ela, não está garantida.
Perguntada sobre suas intenções políticas e se pretende concorrer no pleito de 2018, Dilma disse estar “pensando” sobre o assunto.
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