04/11/2016 13:38 - Copyleft
José Carlos PelianoQuatro jogadas e a batida: o jogo das eleições municipais
Apesar do quadro caótico da economia e da política, há uma luz no fim do túnel. As ocupações escolares dão o tom da virada onde o povo tenha vez e voz.
Encerradas as eleições municipais por todo o país, os resultados apontam um quadro radical e diverso dos anos anteriores. A ascensão de eleitos de partidos da direita e o descenso de eleitos de partidos da esquerda. Por mais quatro anos a maioria dos municípios será governada por prefeitos de siglas que apoiaram o golpe travestido de impedimento da Presidenta e transgrediu a Constituição.
Direita e esquerda, variações em torno dos mesmos antigos temas: legalismo político, econômico e social de um lado e participação popular, políticas distributivas e direitos sociais de outro. Adicione-se à direita o autoritarismo próprio da meritocracia, da hierarquia social e da concentração de poder. À esquerda soma-se o protagonismo dos menos favorecidos, dos direitos das minorias e excluídos e da cobertura das necessidades básicas.
Enquanto o poder central hoje no país estiver distribuído entre golpistas, aos olhos beneplácitos da Justiça, o que esperar senão corte de direitos trabalhistas (greve, 13o salário, etc.), UTI ou funeral da Justiça do Trabalho, extensão do tempo para aposentadoria, congelamento dos investimentos sociais (PEC 241) por 20 anos, aumento de tributos, privatização do patrimônio nacional, abertura total da economia ao capital estrangeiro, disparada da dívida pública, entre outras cacetadas.
Por fim, mas não menos importante, o país verá piorar de maneira avassaladora a desigualdade de rendas. Aumento do contingente de pobres e integrantes dos meandros inferiores da classe média com a correspondente redução dos integrantes dos meandros superiores. Os ricos permanecerão revigorados com a revitalização do poder econômico discricionário que as medidas do governo a eles confere.
O cenário pós eleitoral indica quatro possíveis jogadas. Cada qual com objetivos distintos e resultados previsíveis. Estão em jogo os membros do governo, as propostas dos partidos políticos e a sociedade. Esta diferenciada pelos grupos que se expressam por suas classes sociais representativas. Do embate entre eles as jogadas terão atingido ou não seus objetivos.
A primeira jogada é a da vitória da vitória. Caso o autoritarismo prevaleça com o apoio inestimável da mídia conservadora, a “carcomídia”, e dos olhos vedados da Justiça, a vitória dos políticos à direita dos partidos nas eleições consagrará o maior saque jamais visto nos direitos individuais e sociais e no bolso dos brasileiros pobres e remediados.
A eliminação de direitos trabalhistas, o congelamento de investimentos sociais e o enfrentamento policial das manifestações públicas não só ferem direitos individuais e sociais como também afrontam a Declaração dos Direitos Humanos da ONU. O Brasil nesse cenário estará escoando ao ralo do mundo. O povo vai estar pagando mais uma vez pelo que não fez, enquanto os que fizeram ese locupletaram nadam de braçada.
A segunda jogada é a derrota da derrota. Enquanto o rolo compressor da Lava Jato de forma discricionária abateu pesadamente sobre o PT, a mídia igualmente enviesada bateu diuturnamente contra o governo legitimamente eleito e a Justiça permaneceu acomodada em berço esplêndido, os eleitores bombardeados se perderam e se deixaram levar pelo turbilhão das meias verdades. Resultado: os partidos de esquerda trombaram contra a pesada muralha autoritária e perderam vez e voz.
Terão, entretanto, que sair dos gabinetes, discursos e palestras e voltarem às ruas atrás do povo que os negou agora, não por pusilanimidade, mas por desinformação e falta de amparo político da própria esquerda. A batalha foi perdida sim, mas a vitória poderá ser novamente alcançada compartilhando com futuros eleitores noutros termos e soluções as ideias, informações e propostas democráticas.
A terceira jogada é a derrota da vitória. Tem tudo para desabar a austeridade implantada no país pelo atual governo de proveta, o qual defende, pasmem!, o ícone Margaret Thatcher. A Europa deu com os burros n’água e o próprio FMI já é contra políticas de austeridade em períodos de crise econômica. Condena-se a população pesadamente mais ao martírio do desemprego, aos cortes de salários e demais direitos sociais em prol do pagamento dos juros da dívida pública – por sinal, bem menor em relação ao PIB que vários países desenvolvidos.
Ocorre que quanto mais o lençol é puxado, mais as pernas ficam de fora. O trato econômico há de ser anticíclico, não pró cíclico, coisa que os neoliberais não querem ouvir falar. Por que? Porque seus amigos banqueiros querem receber primeiro e serem bem tratados, afinal, no capitalismo contemporâneo, os banqueiros e financistas é quem mandam. Não é por acaso que o ministro da fazenda e o presidente do banco central do Brasil vieram dos bancos.
A quarta e última jogada é a vitória da derrota. Quando a austeridade começar a doer no bolso, na barriga, no trabalho e na vida dos brasileiros, a reação contra a solução econômica do governo de proveta começará a mobilizar a população. Outra solução é possível, (verhttp://www.socialistamorena.com.br/o-que-a-esquerda-faria/ ), onde o povo é resguardado da descomunal carga antissocial e os ricos e abastados são os que bancam e pagam as contas.
As ruas certamente se encherão de sofridos insatisfeitos reclamando de seus direitos básicos e exigindo melhorias econômicas e sociais. Enquanto isso os partidos de esquerda terão a faca e o queijo nas mãos. Poderão ampliar e aprofundar seus contatos e laços com as ruas, escolas, sindicatos, hospitais, associações, terreiros, lajes e demais instâncias e agrupamentos profissionais e sociais.
E a batida? O final das jogadas, das quatro jogadas descritas, não vem do embate entre esquerda e direita. Não vem da politização partidária, embora possa até tangencialmente se nutrir dela. Vem, sim, da legítima defesa de direitos individuais e sociais. Vem da defesa de um presente honesto e de um futuro de esperança e conquistas. Vem do amanhã do Brasil.
A jogada que leva à batida final para vencer a partida dos destinos do país vem das escolas de ensino médio. Ana Júlia Ribeiro, a secundarista paranaense, conseguiu mostrar a ponta de lança do movimento de ocupação das escolas pelo país afora. Sua voz ecoou e chegou até a ONU onde irá falar e mostrar o que querem e pensam os estudantes secundaristas. Querem essencialmente ter o ensino pleno garantido ao contrário da “reorganização” draconiana pleiteada pelos governos federal e estaduais. No bojo da austeridade.
Mais de 1000 escolas ocupadas em todo o país mostra a força, a energia e a resistência cidadã dos estudantes secundaristas brasileiros. Defendem o direito de estudar e bem, não com os cortes indicados pelo ministério da educação, ou melhor, da deseducação. Afinal, são suas famílias que pagam os tributos e querem de volta a qualificação educacional correspondente. Não a que autoridades de plantão preconizam.
Apesar do quadro caótico da economia e da política nacional, há uma tênue luz no fim do túnel. As ocupações escolares dão o tom da virada onde o povo tenha vez e voz. Vem das meninas e meninos o vigor da luta pelos direitos humanos, vem exatamente das escolas onde se aprende a ler, escrever e entender o som ao redor! Cabe a nós todo o apoio, participação e luta!
*colaborador da Carta Maior
Direita e esquerda, variações em torno dos mesmos antigos temas: legalismo político, econômico e social de um lado e participação popular, políticas distributivas e direitos sociais de outro. Adicione-se à direita o autoritarismo próprio da meritocracia, da hierarquia social e da concentração de poder. À esquerda soma-se o protagonismo dos menos favorecidos, dos direitos das minorias e excluídos e da cobertura das necessidades básicas.
Enquanto o poder central hoje no país estiver distribuído entre golpistas, aos olhos beneplácitos da Justiça, o que esperar senão corte de direitos trabalhistas (greve, 13o salário, etc.), UTI ou funeral da Justiça do Trabalho, extensão do tempo para aposentadoria, congelamento dos investimentos sociais (PEC 241) por 20 anos, aumento de tributos, privatização do patrimônio nacional, abertura total da economia ao capital estrangeiro, disparada da dívida pública, entre outras cacetadas.
Por fim, mas não menos importante, o país verá piorar de maneira avassaladora a desigualdade de rendas. Aumento do contingente de pobres e integrantes dos meandros inferiores da classe média com a correspondente redução dos integrantes dos meandros superiores. Os ricos permanecerão revigorados com a revitalização do poder econômico discricionário que as medidas do governo a eles confere.
O cenário pós eleitoral indica quatro possíveis jogadas. Cada qual com objetivos distintos e resultados previsíveis. Estão em jogo os membros do governo, as propostas dos partidos políticos e a sociedade. Esta diferenciada pelos grupos que se expressam por suas classes sociais representativas. Do embate entre eles as jogadas terão atingido ou não seus objetivos.
A primeira jogada é a da vitória da vitória. Caso o autoritarismo prevaleça com o apoio inestimável da mídia conservadora, a “carcomídia”, e dos olhos vedados da Justiça, a vitória dos políticos à direita dos partidos nas eleições consagrará o maior saque jamais visto nos direitos individuais e sociais e no bolso dos brasileiros pobres e remediados.
A eliminação de direitos trabalhistas, o congelamento de investimentos sociais e o enfrentamento policial das manifestações públicas não só ferem direitos individuais e sociais como também afrontam a Declaração dos Direitos Humanos da ONU. O Brasil nesse cenário estará escoando ao ralo do mundo. O povo vai estar pagando mais uma vez pelo que não fez, enquanto os que fizeram ese locupletaram nadam de braçada.
A segunda jogada é a derrota da derrota. Enquanto o rolo compressor da Lava Jato de forma discricionária abateu pesadamente sobre o PT, a mídia igualmente enviesada bateu diuturnamente contra o governo legitimamente eleito e a Justiça permaneceu acomodada em berço esplêndido, os eleitores bombardeados se perderam e se deixaram levar pelo turbilhão das meias verdades. Resultado: os partidos de esquerda trombaram contra a pesada muralha autoritária e perderam vez e voz.
Terão, entretanto, que sair dos gabinetes, discursos e palestras e voltarem às ruas atrás do povo que os negou agora, não por pusilanimidade, mas por desinformação e falta de amparo político da própria esquerda. A batalha foi perdida sim, mas a vitória poderá ser novamente alcançada compartilhando com futuros eleitores noutros termos e soluções as ideias, informações e propostas democráticas.
A terceira jogada é a derrota da vitória. Tem tudo para desabar a austeridade implantada no país pelo atual governo de proveta, o qual defende, pasmem!, o ícone Margaret Thatcher. A Europa deu com os burros n’água e o próprio FMI já é contra políticas de austeridade em períodos de crise econômica. Condena-se a população pesadamente mais ao martírio do desemprego, aos cortes de salários e demais direitos sociais em prol do pagamento dos juros da dívida pública – por sinal, bem menor em relação ao PIB que vários países desenvolvidos.
Ocorre que quanto mais o lençol é puxado, mais as pernas ficam de fora. O trato econômico há de ser anticíclico, não pró cíclico, coisa que os neoliberais não querem ouvir falar. Por que? Porque seus amigos banqueiros querem receber primeiro e serem bem tratados, afinal, no capitalismo contemporâneo, os banqueiros e financistas é quem mandam. Não é por acaso que o ministro da fazenda e o presidente do banco central do Brasil vieram dos bancos.
A quarta e última jogada é a vitória da derrota. Quando a austeridade começar a doer no bolso, na barriga, no trabalho e na vida dos brasileiros, a reação contra a solução econômica do governo de proveta começará a mobilizar a população. Outra solução é possível, (verhttp://www.socialistamorena.com.br/o-que-a-esquerda-faria/ ), onde o povo é resguardado da descomunal carga antissocial e os ricos e abastados são os que bancam e pagam as contas.
As ruas certamente se encherão de sofridos insatisfeitos reclamando de seus direitos básicos e exigindo melhorias econômicas e sociais. Enquanto isso os partidos de esquerda terão a faca e o queijo nas mãos. Poderão ampliar e aprofundar seus contatos e laços com as ruas, escolas, sindicatos, hospitais, associações, terreiros, lajes e demais instâncias e agrupamentos profissionais e sociais.
E a batida? O final das jogadas, das quatro jogadas descritas, não vem do embate entre esquerda e direita. Não vem da politização partidária, embora possa até tangencialmente se nutrir dela. Vem, sim, da legítima defesa de direitos individuais e sociais. Vem da defesa de um presente honesto e de um futuro de esperança e conquistas. Vem do amanhã do Brasil.
A jogada que leva à batida final para vencer a partida dos destinos do país vem das escolas de ensino médio. Ana Júlia Ribeiro, a secundarista paranaense, conseguiu mostrar a ponta de lança do movimento de ocupação das escolas pelo país afora. Sua voz ecoou e chegou até a ONU onde irá falar e mostrar o que querem e pensam os estudantes secundaristas. Querem essencialmente ter o ensino pleno garantido ao contrário da “reorganização” draconiana pleiteada pelos governos federal e estaduais. No bojo da austeridade.
Mais de 1000 escolas ocupadas em todo o país mostra a força, a energia e a resistência cidadã dos estudantes secundaristas brasileiros. Defendem o direito de estudar e bem, não com os cortes indicados pelo ministério da educação, ou melhor, da deseducação. Afinal, são suas famílias que pagam os tributos e querem de volta a qualificação educacional correspondente. Não a que autoridades de plantão preconizam.
Apesar do quadro caótico da economia e da política nacional, há uma tênue luz no fim do túnel. As ocupações escolares dão o tom da virada onde o povo tenha vez e voz. Vem das meninas e meninos o vigor da luta pelos direitos humanos, vem exatamente das escolas onde se aprende a ler, escrever e entender o som ao redor! Cabe a nós todo o apoio, participação e luta!
*colaborador da Carta Maior
Créditos da foto: reprodução
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