Sebastião Costa*
O estampido que remeteu o presidente
Getúlio Vargas para a história tangeu o povão para as ruas. Udenistas e comparsas, assombrados,
recolheram-se.
Não demorou muito tempo!
Perderam a eleição seguinte e já botaram
novamente as unhas de fora, sem querer que Juscelino assumisse a presidência da
República. Dessa vez, quem cortou as unhas dos golpistas foi a espada do marechal Teixeira Lott.
Deu-se que, em 1961, na renúncia embriagada
de Jânio, o vice-presidente eleito João Goulart, assumiu o comando do país
depois de muita resistência da burguesia nacional e dos comandantes militares.
A Campanha da Legalidade liderada pelo
governador Leonel Brizola garantiu sua posse.
Não completaram nem três anos!
O uruguaio René Dreifuss, no livro, 1964
- A Conquista do Estado,
descreve banqueiros, grandes empresários e trezentas multinacionais americanas
abarrotando os cofres do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, o famoso IPES.
Um belo nome para designar a usina que fabricou o golpe militar de 1964,
derrubando o presidente João Goulart, eleito dentro das regras democráticas do
país.
“As vivandeiras alvoroçadas” da UDN,
conforme relatava o Marechal Castelo Branco, haviam convencido os militares a
derrubar o governo democrático de Jango.
Os jornais Estadão, Folha, Jornal do
Brasil celebraram a instalação do regime militar e O Globo sapecou na primeira página o editorial:
"Ressurge a Democracia".
Deu pra entender: o movimento de 64, que
extirpou a nossa frágil democracia foi uma ardilosa parceria entre o alto
comando militar e a elite brasileira, com a participação efetiva da imprensa
conservadora e o know-how das
vivandeiras da UDN.
Corte para 2016!
O único personagem do PMDB com projeção
nacional e potencial para disputar uma eleição para presidente foi Ulisses
Guimarães. Em 1989 amargou um sétimo lugar, com minguados 4% da votação.
Os tucanos montaram na garupa do Plano
Real de Itamar Franco e venceram duas eleições. Foi só desapear do Plano Real e
perderam quatro seguidas para Lula, seu carisma e sua revolução social.
E ainda tinha pela frente 2018 com o
petista na frente das pesquisas.
Sem alternativas democráticas, o jeito
foi buscar inspiração na experiência udenista, guerreira de tantos golpes.
Quem deu o mote para iniciar o golpe foi
o peemedebista Jucá: "...tem que resolver essa porra. Tem que mudar o
governo para estancar a sangria". Mete no mesmo saco o STF e os militares:
"Conversei com alguns ministros do Supremo e os caras dizem que só tem
condições sem ela". "...Estou conversando com os militares, os caras
dizem que vão garantir"
No dia 10 de março, peemedebistas e
tucanos reunidos na residência do senador Tasso Jereissati traçaram as
diretrizes para consolidar politicamente a queda da presidenta.
Já o 'respaldo popular', necessário em
todos os golpes, veio montado numa mega manifestação convocada à exaustão por repórteres da rede
Globo, estrategicamente espalhados por todas as capitais do país.
Mesmo com todas as articulações
políticas, apoio popular forjado, militares atentos e o Supremo na jogada,
alguma coisa ainda faltava.
Na noite anterior à votação do
'impeachment' na Câmara Federal, conduzida pelo maior corrupto do país, a
versão eletrônica da Folha de São Paulo
falava numa enquete em que a oposição não dispunha de votos suficientes para tocar o
"impeachment"
Besteira!
Na calada da madrugada uma vaquinha de
500 milhões devidamente arrecadada pela FIESP (O jornalista e economista J. Carlos
de Assis nunca foi contestado) foi decisiva para iniciar a consumação do golpe.
E foi assim que o mandato de quatro anos
da presidenta eleita pela maioria dos brasileiros foi brutalmente interrompido
A FIESP, como o IPES tem a cara da
burguesia nacional; peemedebistas e tucanos compõem a mesma laia das
vivandeiras udenistas e a imprensa (direita volver) tupiniquim é a mesmíssima
que deu as boas-vindas à ditadura militar de 64.
Só faltaram as armas!
* Sebastião Costa – médico
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