JUIZ ACOMPANHA RÉU EM VIAGEM A PORTUGAL
Um juiz aceitar favor de um réu não
significa nada, na visão de Gilmar Mendes, que se diz exclusivamente
comprometido com a lei. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral pegou
carona com Temer rumo a Portugal, numa agenda que tinha como finalidade
participar de um funeral que Gilmar Mendes tangenciou... porque teve uma
"crise de labirintite". O caso ganhou atenção da mídia e, ao tentar
justificar seus atos, o magistrado desmentiu, mais uma vez, o escândalo em que
Lula teria lhe pedido para atrasar o julgamento do mensalão em função das
eleições de 2012.
O "desabafo" de Gilmar Mendes
sobre a viagem com Temer e as menções a Lula estão no Blog do Moreno. Disse o
ministro que mantém com o presidente peemedebista a mesma "relação"
que teve com o ex-presidente Lula. "No caso de Lula, jantei inúmeras vezes
com ele no Alvorada e as nossas mulheres inclusive sempre mantiveram um
relacionamento de amizade. Mas nunca acenei com facilidades e Lula nunca me
pediu nada, assim como Michel Temer. Eles sabem que, independentemente das
relações pessoais, estou preso à minha condição de juiz. Meu compromisso é com
a Constituição. É com a lei", afirmou.
"Lula nunca me pediu nada"
relembra uma reportagem de Veja, de 2012, em que Lula foi acusado de pedir a
Nelson Jobim que intermediasse uma reunião com Gilmar Mendes. No encontro, Lula
teria dito que era inconveniente julgar o mensalão às vésperas da disputa
municipal, pois o PT sairia obviamente prejudicado. Em troca do favor, Lula
teria prometido poupar Gilmar Mendes na CPI dos Correios - o ministro seria
arrastado para o caso por ter viajado a Berlim com o ex-senador Demóstenes
Torres, num avião bancado por Carlinhos Cachoeira.
À época, Gilmar Mendes confirmou o
encontro com Lula e o conteúdo da conversa. ''Fiquei perplexo com o
comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula'', disse. Ele
ainda admitiu que esteve com Demóstenes Torres em Berlim, mas afirmou que pagou
suas despesas e tinha como provar isso. Ainda segundo Gilmar Mendes, ele disse
a Lula que poderia “ir fundo na CPI", pois não tinha o que temer. O
resultado disso foi um Supremo Tribunal Federal pressionado a acelerar o
julgamento do mensalão.
Não é a primeira vez que uma fala de
Gilmar Mendes desmonta a denúncia de Veja. Em 2014, ele já havia admitido que
pediu a reunião com Lula, e não o contrário. Dessa vez, o que o ministro fez
foi minar o conteúdo da conversa, ao dizer que o ex-presidente nunca lhe pediu
nada.
Diferente da viagem a Berlim, Gilmar não
quis responder perguntas ao Blog do Moreno sobre os custos da ida a Portugal a
convite de Temer.
"Na verdade, quero falar da questão
central que algumas pessoas estão colocando sobre o processo e a viagem, como
se fossem incompatíveis. Não são porque nunca discuti esse tema com o
presidente Temer e ele nunca me abordou sobre esse assunto e creio que jamais
abordará. Esse tema só deve ser debatido no seu foro apropriado: o TSE. Mas,
quero lembrar uma coisa sobre esse processo. Ele só existe, só está tramitando
por minha causa. As pessoas se esquecem que a juíza Maria Tereza o indeferiu e
eu é que insisti e lutei para a sua reabertura. E o fiz por considerar isso um
dever de ofício", disse o magistrado.
"A maior prova de que o presidente
Temer e eu temos uma relação altamente republicana está justamente no fato de
ele, sabendo que fui eu que reabri esse processo, mesmo assim ter me convidado
para integrar a comitiva", complementou.
Ele também justificou que estava de
férias em Portugal desde o ano passado, mas teve de retornar ao Brasil por um
problema pessoal. "O presidente me convidou para voltar com ele. Chegamos a
Lisboa por volta das quatro da manhã. A cerimônia ocorreria horas depois.
Desembarquei com uma crise de labirintite. E por isso não fui", explicou
Gilmar Mendes, que ficará mais uns dias no exterior.
O ministro ainda avaliou que há questões
mais importantes do que essa viagem para despertar a preocupação da sociedade
"Não vou me justificar de ter aceito uma carona do presidente, pois teria
que me justificar de outros encontros que mantenho com ele para discutir
assuntos republicanos. Se aceitar caronas, convites para almoçar e jantar comprometessem
a atividade de cada um que os aceitasse, seria impossível trabalhar em
Brasília. Quantas vezes sou convidado, por exemplo, para almoçar ou jantar com
jornalistas e empresários de comunicação e isso nunca interferiu no trabalho
deles nem no meu. Sou às vezes muito e até injustamente criticado pela mídia. E
nem por isso deixo de atender seus convites."
Temer, que diz ter convidado Gilmar Mendes
como presidente do TSE, já retornou ao Brasil.
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