Paulo Henrique Amorim
Por
que o Moro não deixa Cunha fazer as perguntas ao Michel Temer?
Há
quem diga que Cunha pagava as despesas pessoais do Treme.
O Conversa Afiada reproduz do www.tijolaco.com.bra histórica entrevista da Presidenta Dilma Rousseff:
Dilma: o que Cunha diz é que quem
roubava era o Temer.
Sensacional, sob todos os aspectos, a
entrevista da ótima repórter Maria Cristina Fernandes, do Valor, com Dilma
Rousseff. Feita com delicadeza e honestidade, descortina a austeridade com que
vive uma mulher espartana. Recomendo a todos a leitura, mas dela retiro o que é
explosivo.
Seleciono as frases e, a seguir,
reproduzo seu contexto:
·
Eu não deixei o
gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: ‘Ele
não fica. Não fica!
·
Não tenho a menor
dúvida de quem é Padilha e Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de
Governo].
·
Temer é um cara
frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso.
·
lá está Eduardo
Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer.
São apenas quatro parágrafos com esta
coleção atômica de revelações. Mesmo com uma mídia que está disposta a calá-la,
vai ser difícil que Dilma não cumpra sua própria profecia: “não vai ficar pedra
sobre pedra”.
Foi na tessitura das relações com as
quais tentou permanecer no poder que a presidente reconhece seu segundo erro:
levar Michel Temer para o coração da articulação política. O então vice-presidente
percebeu a fragilidade do governo junto a uma base que não parava de se
queixar.
Ao lado de Eliseu Padilha, atual
ministro-chefe da Casa Civil, à época na Aviação Civil, mapeou o cerco.
Valor:Arrepende-se de tê-lo colocado dentro do governo?
·
“Olha, minha
filha, não sabíamos que o nível de cumplicidade dele com o Eduardo Cunha era
tão grande. Nenhum de nós sabia, nem o Lula. Depois é que descobrimos. Ele
sempre negou essa cumplicidade que agora todo mundo já sabe.”
Quando começa a falar de Temer, Dilma,
pela primeira vez ao longo de quase quatro horas de conversa, franze o cenho,
encrespa a fisionomia e libera o calão.
·
“Saber quem eles
são, nós sabemos. Não tenho a menor dúvida de quem é Padilha e Geddel [Vieira
Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo]. Convivi sabendo quem eles eram.
Não tenho esse ‘caiadismo’ [de Ronaldo Caiado] de falar que eu não sabia quem
eram. Sabia direitinho. Inclusive uma parte do que sou e da minha intolerância
é porque eu sabia demais quem eles eram.”
Nesse momento, Dilma relativiza a frase
categórica sobre a extensão da faxina de seu governo:
·
“Saber demais não
significa que você é capaz de impedir algumas coisas. Por exemplo, o gato
angorá [Moreira Franco] tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei
roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na
Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: ‘Ele não fica. Não fica!’.
Porque algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir. Porque para
isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu não tinha prova, não
tinha certeza, entendeu? Não acho que é relevante fazer fofoca, conversinha.
Posso contar mil coisas do Padilha e do Temer, então? Porque o Temer é isso que
está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é
um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso.
Padilha não é. A hora em que ele [Temer] começa assim [em pé, mostra as mãos em
sentido contrário, com os dedos apertados em forma de gancho]. É um cara que
não enfrenta nada!”.
Os brownies intactos na mesinha ao lado
são indício de que a presidenta gerencia bem as ansiedades da memória. Na
novela da LavaJato, o capítulo preferido é o das perguntas de Eduardo Cunha a
Temer, parte das quais foram vetadas pelo juiz Sergio Moro.
·
“Quando li a
primeira vez, lá sabia quem era José Yunes [ex-assessor da Presidência]? Mas lá
está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no
FGTS, é o Temer. Leia, minha filha. Não tenho acesso às delações, mas sei o que
é um roteiro. E lá está explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha.
Explícito. Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o
Temer?
Leia a entrevista na íntegra, que o
Valor publicou de forma aberta. É um trabalho de alta qualidade e, sobretudo,
de grande sensibilidade. Dilma colocou na mesa apenas um das muitas cartas que
tem nas mãos, como retrato sem maquiagem dos intestinos do poder. O ataque a
ela vai mostrar muito mais do que imaginam aqueles que o promovem.
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