A Odebrecht
sempre teve lado
Fernando Brito
Antes do artigo de Roberto Moares, a
transcrição, literal, da coluna de Gisele Vitoria, na Istoé, em setembro de
2014. Véspera da eleição e Lava-Jato já em pleno curso.
Geraldo Alckmin, Fernando Henrique
Cardoso e Aécio Neves dividiram a mesa número 3, do anfitrião João Doria, com
Jorge Gerdau, Marcelo Odebrecht, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, e os empresários Pedro
Passos, da Natura, e Rubens Ometto, da Cosan.
Entre as outras 11 mesas que ocupavam o
salão principal e a varanda, José Serra, a primeira-dama Lu Alckmin e ACM
Neto jantaram com a anfitriã Bia Doria.
No Menu da Chef Morena Leite, couscous
marroquino com brotos e legumes Confit na entrada e nhoque de abóbora com molho
de salvia como prato principal foi apreciado por gente como Nizan Guanaes,
Tutinha, o inventor do Pânico, e a estilista Martha Medeiros.
O linguado em crosta de quinoa recheado
com pupunha e flan de banana da terra foi servido com vinhos franceses Sancerre
Comte Lafond Blanc 2012 (Baron de Ladoucette & Comte Lafond, do vale do
Loire) e Mercurey 2007 (Chanson Pêre & Fils, da Borgonha)
Dito
isso, ao artigo de Roberto Moraes:
Ao contrário do que se tenta empurrar
como interpretação, a Odebrecht sempre teve lado.
O caso Odebrecht parece confuso. E é.
Porém, observando mais atentamente se vê
que é possível tirar algumas conclusões do caso Odebrecht, olhando o todo e não
as partes.
Mais uma vez : o todo e não as partes.
Lendo, vendo e ouvindo as várias fontes
– de todos os matizes e origens – se vê que todas as leituras fazem seus
recortes. Escolhas e seleção das partes em que vão focar para construir suas
interpretações.
O fato de o ministro Edson Fachin ter
liberado todo o conteúdo de todas as delações permite interpretações mais
totalizantes que o vazamento seletivo das partes não permitia.
Ao contrário do que alguns tentam
mostrar, a Odebrecht não é vítima deste processo.
O poder econômico é parte deste processo
ao comprar e dirigir o poder político, onde está o Estado que tenta controlar,
mesmo sem a outorga popular do mandato.
A busca direta do mandato pelo poder
econômico contém riscos.
Assim, é sempre mais fácil cooptar e
controlar o poder político.
Aí entra não apenas a ajuda para a
eleição atual como a futura. Ou ainda, o pagamento das dívidas das eleições
passadas.
A compra indistinta com apoios, não
significa que a companhia não tivesse suas preferências.
Assim, com este esforço de leitura mais
integral se vê de forma clara a compra e o controle do poder econômico sobre o
político – que também não é vítima, mas agente do processo da “democracia
capitalista” – é possível observar outros pontos que parecem essenciais para
interpretar a fase mais próxima do momento atual, de 2014 até hoje.
É fato que a Odebrecht foi instrumento
fundamental para comprar apoios e eleger o pior Congresso da história deste
país na eleições de 2014.
Fez isto, ao se submeter, entre outras
coisas ao Eduardo Cunha e sua trupe do PMDB que hoje foi para o poder com o
golpe.
Daí, não é difícil depreender que a
Odebrecht também tenha comprado o golpe.
Diretamente, ou indiretamente, ao
viabilizar a eleição destes congressistas que votaram o impeachment.
Nesta linha, não se pode deixar de
registrar que ao comprar o Pastor Everaldo para ajudar Aécio na reta final da
eleição de 2014 – além de outros atos correlatos com a mesma intenção – a
Odebrecht deixou evidente quem preferia no controle central do poder político
no Brasil.
Isto não quer dizer que a Odebrecht não
conviveria com Dilma Rousseff, ou com o PT.
Como já vinha convivendo durante doze
anos, ou três mandatos.
Não é por outro motivo a indignação do
velho Emílio Odebrecht contra a mídia comercial, que não só sabia de tudo isto,
como sempre jogou do mesmo lado do grupo empresarial na disputa pelo controle
do poder político no Brasil.
Evidente que esta narrativa não
interessa a setores que escolhem outras partes para construir suas
interpretações.
Toda interpretação fará escolhas de
partes para interpretar o todo.
Porém, algumas serão sempre mais críveis
e sustentadas nos fatos que outras.
A Odebrecht, a despeito dos apoios à
diversas forças do jogo político, sempre teve lado.
É inocência ou má fé interpretar o
contrário.
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