Fernando Brito
No dia em que o Presidente da República
confessa que esteve na reunião onde um ex-executivo da Odebrecht diz que se
sacramentou um negócio de propina de US$ 40 milhões (R$ 126 milhões), O Globo
dá como manchete garrafal que Lula ajudou a Odebrecht (sem qualquer referência
a “vantagem indevida”) a negociar com trabalhadores da empresa em greve na
Bahia.
Sim, e daí? O que deveria ter feito? O
que se espera de um dirigente sindical, em relação a sua e a outras categorias,
senão que ajude a resolver impasses?.
Malandramente, na chamada, Isso é
“misturado” a doações de campanha às candidaturas do petista e, pior ainda, a
uma suposta cobrança de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, para
negociar com trabalhadores “em troca de apoio financeiro”.
Traduzindo, em hierarquia jornalística:
o jornal troca um fato imediato, gravíssimo, envolvendo a mais alta autoridade
da República, admitido em parte pelo próprio acusado de público – através de um
vídeo – por um comentário que, a rigor, não tem serventia senão compor o
ambiente de um livro sobre a história do país.
É evidente que meus colegas de O Globo
sabem disso e são capazes de fazer o correto do ponto de vista profissional.
Mas a vocação do jornal para ser um
panfleto da direita os constrange – a
alguns, nem tanto – a produzir esta antológica deformação do jornalismo.
O Globo não se destina a noticiar fatos
– tanto que ultrapassa o impensável limite de nem mesmo dar uma pequena chamada
ao episódio dos US$ 40 milhões supostamente abençoados por Michel Temer, ainda
que seja para reforçar a versão (cara de pau) do ocupante da Presidência. É
silêncio total no jornal que importa: o que fica pendurado nas bancas de
jornais, onde cada vez menos são comprados.
É, sem demérito para os ótimos
profissionais que ali trabalham e que – como frequentemente aqui se cita –
produzem boas e importantes reportagens, um panfleto.
Tudo o que faz está marcado pelo
compromisso maior de destruir Lula e suas possibilidades – para eles,
aterradoras, embora de seus governos não lhe tenha vindo qualquer agressão, ao
contrário.
O ódio de O Globo a Lula – que só foi
adulado quando poderia servir de anteparo a outra fobia marinhesca, Leonel
Brizola – é acima e além de qualquer ponderação racional. É visceral,
instintivo, figadal e vem da própria compreensão de que este país, se alcançar
mesmo a democracia, é incompatível com seu monopólio de manipulação.
Ou melhor, que destruir seu monopólio é
uma montanha que se terá de transpor para termos uma sociedade livre e
autodeterminada.
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