EDITORIAL
As pontes da liberdade
A liberdade de Lula nascerá da construção de força e identidade entre a classe trabalhadora
O ano era 1972, em plena ditadura e no auge da repressão e tortura praticadas pelo regime. Em homenagem à resistência e a todos aqueles que enfrentavam as prisões da ditadura, o cantor Paulo César Pinheiro compunha os seguintes versos: “Você vem me agarra, alguém vem me solta / Você vai na marra, ela um dia volta / E se a força é tua ela um dia é nossa / Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando / Que medo você tem de nós, olha aí”. Naqueles anos, sob impacto do AI5, as organizações que ousaram levantar-se contra o regime eram encarceradas e torturadas, intelectuais eram exilados, artistas eram censurados. A letra de Paulo César, contudo, passou desapercebida pela censura. Meses depois o grupo MPB4 incluía a música no LP “Cicatrizes”.
Boa lembrança nos tempos de hoje. Vivemos um novo golpe que agora veio com um roteiro pré-estabelecido pelos interesses das grandes corporações internacionais: em primeiro lugar, interromper o curso dos governos cuja meta era o desenvolvimento econômico com distribuição de renda, passo dado com a deposição da presidenta Dilma; o segundo objetivo era o desmonte dos direitos e do patrimônio estatal, objetivo que anda a passos largos nos últimos dois anos e cujas medidas já se fazem sentir fortemente no nível de vida das massas trabalhadoras.
Mais político que econômico, o terceiro objetivo é o ponto fraco dos inimigos do povo, pois trata-se novamente do impraticável alvo de calar nossos sonhos. Por isso a maior liderança popular e único candidato com mais de 30% em todas as pesquisas é mantido encarcerado. Acreditavam que mantendo Lula preso conseguiriam arrefecer o descontentamento com a barbárie e varrer a esquerda do cenário político-eleitoral.
No último domingo o autoritarismo de toga foi pego de surpresa por um desembargador convencido a cumprir a constituição federal e conceder o habeas corpus à Lula! É evidente que a burocracia submissa bem representada por Sérgio Moro mobilizou-se como um partido altamente centralizado para impedir que isso acontecesse.
A liberdade de Lula virá de algo ainda mais imprevisível do que a letra do poeta. Nascerá da construção de força e identidade entre a classe trabalhadora em cada canto onde os efeitos do golpe se fazem sentir. Trata-se de uma construção mais lenta e paciente e, por isso mesmo, mais afinada ao exemplo do próprio Lula. Essa é a ousadia do MST e da Frente Brasil Popular em marchar novamente pelo território nacional, conversando com a população, ouvindo os problemas do povo, organizando gente para encontrar soluções e, a partir disso, transformar a aprovação de Lula em um forte movimento de mudanças do país. Em Pernambuco a marcha sai da cidade de Caruaru no próximo dia 16 e percorrerá outras cinco cidades até a chegada na capital do Recife no dia 20 de julho.
Os inimigos do povo ainda não entenderam o recado de Lula: não se pode aprisionar nossos sonhos. Em cada lutador do povo nossos sonhos podem dizer, como o próprio Lula: olha eu aí de novo!
Edição: Catarina de Angola
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